As inscrições para o segundo semestre do Curso de Português como Língua de Acolhimento (PLAc) para migrantes já estão abertas. A nova etapa de ensino iniciará no dia 23 de agosto e ocorrerá nas sextas-feiras, das 19h às 21h, gratuitamente, no campus Unisinos São Leopoldo.
A iniciativa surgiu em 2018 na cidade de Esteio, na Região Metropolitana, a partir do Programa de Educação e Atenção Humanitária a Migrantes e Refugiados (Tarin) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em parceria com a prefeitura da cidade.
O projeto foi idealizado para desenvolver atividades de interiorização de um grupo de venezuelanos que migraram para a região.
Levantamento
Com o cenário da enchente no Estado, um formulário foi distribuído para entender a situação dos alunos. O levantamento também ajudou no mapeamento de possíveis ações para o próximo semestre.
Segundo Graziela Andrighetti, 45 anos, coordenadora do PLAc e professora do curso de Letras, serão trabalhados assuntos que auxiliem os participantes nesta fase pós-enchentes com foco na reconstrução:
— A ideia é investir em outras competências, relacionadas a tecnologia, práticas de cozinha, geração de renda, empregabilidade, entre outros, oportunizando parcerias com outras escolas da universidade.
Os interessados podem entrar em contato com o Tarin pelo e-mail tarin@unisinos.br ou com a prefeitura de São Leopoldo (migracidades@saoleopoldo.rs.gov.br) para se inscrever.
Auxílio durante a enchente
A sétima turma do curso retornou às aulas no dia 14 de junho, após a enchente que atingiu o Estado. No primeiro semestre de 2024, as aulas aconteceram de 15 de março a 12 de julho, com 45 inscritos, entre haitianos, venezuelanos e cubanos.
No final do curso, os alunos aprovados receberam um certificado de realização do curso. A certificação atende às demandas trazidas por muitos migrantes em relação à comprovação de curso de Língua Portuguesa para fins de processo de naturalização brasileira. Na última turma, 25 alunos foram certificados.
O início das aulas ocorreu em março, mas os encontros foram interrompidos no dia 3 de maio devido à tragédia climática.
Em um primeiro momento, foi feito um levantamento por meio de um formulário para entender as necessidades dos alunos. Em seguida, foram entregues dois kits contendo alimentos, produtos de limpeza, itens de higiene pessoal e cobertores. Quando as aulas foram retomadas,os alunos realizaram uma visita ao Serviço Jesuíta aMigrantes e Refugiados(SJMR) e lá receberam mais kits de alimentos e cobertores
— As aulas pararam por três semanas. Por meio do formulário, conseguimos relatos sobre a situação deles, assim, era possível saber como ajudar. Alguns alunos falaram que tinham perdido tudo em suas casas, que eram alugadas, mas que puderam se abrigar nas casas de colegas do próprio projeto e vizinhos que moravam perto — conta Graziela.
Kelly Gamez, 29 anos, é uma das alunas que veio da Venezuela um ano depois de seu marido, à procura de uma vida melhor. Moradora de São Leopoldo há sete anos e mãe de três crianças, ela conta que em seu país de origem não havia futuro para oferecer aos seus filhos.
O bairro em que ela morava foi atingido pela inundação, por isso teve que sair às pressas de seu apartamento.
— Ninguém esperava que isso fosse acontecer. Achamos que a água não fosse chegar até o nosso condomínio. Quando chegou, tivemos que pular o muro para acessar a rua onde estava o nosso carro. A água já estava acima do meu joelho — relata a aluna.
Kelly e a família ficaram fora de casa por 23 dias, na casa de sua prima. Enquanto estavam lá, a equipe do projeto disponibilizou cestas básicas, produtos de limpeza, cobertores e água.
— A ajuda deles foi muito importante, só tenho a agradecer porque quando mais precisamos, tivemos esse apoio –agradece Gamez.
*Produção: Ana Júlia dos Santos