Um estudante africano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) denunciou um episódio de xenofobia e racismo dentro da Casa do Estudante Universitário (CEU), uma moradia estudantil mantida pela instituição em Porto Alegre. O caso foi registrado em 7 de março, e a Polícia Civil investiga a ocorrência.
Para preservar a segurança do estudante, GZH não divulga o nome, o curso e o país de origem do estudante.
O homem afirma ter encontrado, em um mural na parede da CEU, a inscrição "invasores África exterminar". A mensagem era acompanhada de suásticas nazistas e do número do quarto do estudante.
— Esse é o maior problema que os africanos passam por aqui. Discriminação, racismo —lamenta.
A Polícia Civil registrou a ocorrência por apologia ao nazismo e preconceito por etnia e procedência nacional. Uma pessoa foi identificada como suspeita.
— Tem um suspeito. São apurados racismo e apologia ao nazismo. Estamos ouvindo testemunhas — diz a delegada Tatiana Bastos.
Por meio de nota, a UFRGS informou que "repudia toda e qualquer prática discriminatória" e que os órgãos internos registraram o caso na Polícia Federal. Leia a nota abaixo.
O advogado do estudante, Diego Candido, afirma que "o caso é grave, pois envolve xenofobia, racismo e apologia ao nazismo e como tal esperamos uma investigação célere que culmine na punição exemplar dos agressores".
— Além disso, precisamos proteger a integridade física da vítima, bem como sua saúde mental, situação que demanda muita atenção por parte da rede de apoio e proteção a essas vítimas — diz Candido.
Relato do estudante
O estudante afirma que os problemas começaram em novembro de 2023, quando ele teve uma bicicleta furtada dentro das dependências da UFRGS. Ele chegou a registrar o caso, mas não houve avanços, segundo ele.
Já em março deste ano, o aluno conta que estava arrumando seu quarto e que deixou alguns itens na porta. Além do furto de alguns objetos, o rapaz percebeu a inscrição preconceituosa no mural da Casa do Estudante Universitário, onde vivem outros estudantes, entre eles alunos do continente africano.
— A gente acordou e percebeu que o indivíduo escreveu nos corredores, onde há papéis com recados. Nesse papel, o indivíduo chegou a escrever 'invasores africanos' e escreveu o número do quarto onde ficamos — relata.
O estudante afirma que se sentiu abalado com o ataque.
— Qual vai ser o próximo passo? Essa é a nossa grande dúvida. Eles [os agressores] pensam que os africanos são uma ameaça. Nós não somos uma ameaça. Somos seres humanos — desabafa.
Nota da UFRGS
A UFRGS repudia toda e qualquer prática discriminatória, de acordo com o Estatuto e Regimento Geral da Universidade em seu 'Art. 4º - É vedado à Universidade tomar posição sobre questões político-partidárias, bem como adotar medidas baseadas em preconceitos de qualquer natureza.'
Ao tomar ciência do fato ocorrido, de colocação de mensagem ofensiva em mural da Casa do Estudante Universitário, imediatamente os órgãos internos da Universidade o levaram a registro na Polícia Federal, encontrando-se o processo em fase investigatória neste órgão, assim como na Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul.
A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e a Corregedoria da UFRGS estão acompanhando o assunto com a atenção que o caso requer.