Há quase seis meses, a comunidade da Escola Estadual Antônio de Conto, em Encantado, enfrenta longos trajetos, falta de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores e ambientes inadequados para as aulas. Desde a enchente que causou mortes e destruição em setembro, no Vale do Taquari, os cerca de 200 alunos e 30 professores e funcionários foram transferidos para o prédio onde antes funcionava uma instituição municipal que atendia a 20 estudantes.
A Antônio de Conto é uma das duas escolas da rede estadual ainda interditadas – a outra é a Padre Fernando, em Roca Sales. Hoje, enquanto assiste a tratativas para a construção de um novo espaço para o colégio funcionar em um terreno que não alague, a direção da instituição de Encantado pede que uma reforma emergencial seja feita na parte elétrica da edificação antiga, que considera mais adequada às demandas da comunidade.
— A gente agradece por ter esse espaço para poder levar os nossos alunos, mas não é um espaço adequado. A prefeitura mantinha uma escola municipal com poucos alunos ali, e a estrutura é para isso. Agora, chegamos lá de supetão com 220 a 230 pessoas diariamente neste local. Não temos ar-condicionado nas salas de aula, a internet não tem alcance para todo mundo usar e, se ligamos os dois aparelhos de ar-condicionado existentes, cai a chave. Em algumas salas, não podemos colocar alunos, porque o assoalho pode ceder — cita Vanessa Gianezini, diretora da Antônio de Conto.
A escola provisória fica a 10 quilômetros de distância do endereço original, o que demanda o fretamento de dois ônibus escolares que levam e trazem estudantes, professores e funcionários todos os dias do bairro Jacarezinho, onde mora a maior parte da comunidade, até Barra do Coqueiro, onde fica a instituição emprestada pelo município. Entre sair de casa, ir ao ponto de onde sai o transporte e chegar ao colégio, o tempo de deslocamento pode levar até uma hora e meia.
O local também conta com apenas um banheiro feminino e outro masculino para atender a todas as turmas. No recreio, as crianças precisam ficar em uma espécie de saguão, pois não há um pátio para se brincar. Para voltar para o prédio do bairro Jacarezinho, Vanessa garante que, se o Estado fizer a reforma da parte elétrica e alguns reparos no forro e assoalho, do resto, a própria comunidade poderá se incumbir.
Procurada, a Secretaria Estadual de Obras Públicas informou que uma equipe técnica fará levantamento para a recuperação dos danos na rede elétrica e estrutura da instituição, "que poderá ser executada por meio da ata de registro de preços para a região. Isso permitirá o retorno dos alunos ao prédio. A construção de novo prédio está em avaliação", afirmou.
Dia da enchente
No dia 4 de setembro, quando percebeu que a água estava subindo e atingiria a Antônio de Conto, a diretora da escola mandou mensagem a todos os grupos de pais no WhatsApp, pedindo que fossem até lá para ajudar a tirar o que fosse possível de dentro da instituição. Em meia hora, todos estavam lá – e foi assim, unida, que a comunidade evitou a perda de televisores, computadores, fotocopiadoras e outros equipamentos eletrônicos.
— Foi uma coisa muito emocionante de ver naquele drama todo, toda essa solidariedade. Conseguimos levar o essencial para as casas dos pais, com caminhões — recorda Vanessa.
Na crença de que a água não subiria mais do que 1 metro, a força-tarefa colocou uma mesa em cima de outra e colocou lá em cima os livros didáticos e os documentos de alunos e ex-alunos dessa e de outras quatro escolas de Encantado já fechadas. Não adiantou: muito foi perdido. Os móveis de MDF foram condenados, mas as classes e as mesas de professores eram de plástico e puderam ser recuperadas.