Fundador e CEO do banco digital Conta Black, Sérgio All é um incentivador do empreendedorismo, da inclusão e da educação financeira. O empresário, de 48 anos, será um dos palestrantes do Fronteiras Educação, módulo educacional do Fronteiras do Pensamento que será realizado nesta terça-feira (28) em Porto Alegre. A conferência sobre empreendedorismo e educação financeira buscará levar inspiração a 600 crianças da rede pública municipal. All, que também é criador da ONG AfroBusiness Brasil, fellow da Rede de Líderes da Fundação Lemann, mentor da Templo Ventures e do Meethub, além de conselheiro consultivo na BrazilFoundation, mentora jovens empreendedores – e espera causar impacto nos estudantes ao compartilhar sua experiência, conforme afirmou em entrevista a GZH.
A Conta Black foi a primeira fintech do Brasil protagonizada por pessoas pretas e que dialoga com um público periférico. O intuito é democratizar o acesso a serviços bancários para todas as pessoas, incluindo empreendedores. A instituição vê a educação financeira como porta de entrada para a capacitação ao crédito e a outras oportunidades do mercado empreendedor.
— A ideia é mostrar que somos potenciais, existe um gigante adormecido que representa mais de 57% da população, que é preta, parda e periférica, e que o mercado vai passar a dar valor a partir do momento que ver o seu potencial financeiro — afirma.
Para All, a inclusão financeira tem uma importância transformacional e geracional, pois, a partir do momento que o empreendedor se capacita, isso o prepara para construir o futuro e gerar impacto nas próximas gerações. Além disso, o empresário avalia que os bancos têm a obrigação de oferecer acesso a serviços básicos financeiros e mostrar que, para acessar serviços, existe uma capacitação mínima necessária.
— Devemos investir nessa questão da inclusão financeira porque permite a inclusão digital. Os bancos falavam que não queriam o público desbancarizado porque é endividado, e as fintechs diminuíram esse número, que era de 55 milhões, para 34 milhões. E os bancos começaram a entender que estão abrindo mão de um público que as fintechs sub-bancarizaram — explica.
Essa mesma abertura das fintechs permitiu compras na internet e acesso a diferentes possibilidades, como viagens. Além disso, a inclusão financeira capacitou e preparou esses membros a terem conta corrente e crédito.
Da periferia ao sucesso
Homem negro, da periferia de São Paulo e filho de uma empregada doméstica e de um metalúrgico, All buscou o sonho de se tornar um grande empresário desde jovem – sempre incentivado pela mãe.
— Já nasci com uma pegada de empreendedor por causa das dificuldades que via dentro da minha casa — conta.
eu primeiro emprego foi aos 16 anos, em uma loja de departamentos – onde já enfrentou o racismo no ambiente de trabalho. Ainda que ressaltasse que All poderia ser o que quisesse, sua mãe lhe falava do preconceito e recomendava estar sempre bem arrumado, pois poderia ser facilmente confundido – motivo pelo qual era o único office boy que trabalhava de terno e gravata. Mesmo assim, ela sempre o incentivou a correr atrás de seus sonhos. Quando começou a se destacar no emprego, All decidiu que queria ser dono do próprio negócio.
O primeiro empreendimento que criou foi a SOS Games, um site de dicas de jogos, na década de 1990, sem planejamento. All tornou-se um programador autodidata. O negócio passou a chamar atenção e ser procurado por grandes empresas de videogame e de eventos. Foi quando o empresário entendeu o que era a inovação e percebeu seu lado criativo. Mas as dores do empreendedorismo o fizeram abrir mão da participação na empresa.
O social é a bola da vez, as empresas que aplicam a diversidade são empresas que vão lucrar mais.
SÉRGIO ALL
Fundador e CEO do banco digital Conta Black e incentivador do empreendedorismo, da inclusão e da educação financeira
Em seguida, All fundou a iBeats Comunicação, uma agência de publicidade, também sem formação na área. O negócio era focado em criação de sites, mas se expandiu para gráfica e produção de eventos, alcançando grandes marcas. Foram mais de 20 anos nesse mercado. Entretanto, no dia em que buscou crédito pré-aprovado em seu nome – que sua mãe o ensinou a manter limpo – para adquirir mais equipamentos, o gerente do banco negou, sem motivos.
— Aí também lembrei da minha mãe e do racismo. Ela falava: "por mais que você atinja um grau ou uma posição, as pessoas vão duvidar de você, da sua capacidade, pela sua cor" — recorda.
Como surgiu o desejo de abrir um banco
O episódio suscitou reflexões: Sérgio All começou a se questionar sobre quantos empreendedores têm score positivo e condições de acesso a crédito, mas não conseguem alcançá-lo, e quantos têm restrição, mas precisam do dinheiro. Isso o levou a fazer uma pesquisa para entender o cenário de desbancarização no Brasil. O resultado culminou no desejo de abrir seu próprio banco. Mais tarde, em 2008, o empresário fez uma imersão no mercado financeiro, após um banco, que era cliente de sua empresa, abrir as portas para ele conhecê-lo.
Contudo, somente em 2017, após testes ao longo dos anos e com a redemocratização de serviços por meio de startups e fintechs, o projeto saiu do papel, oferecendo cartões pré-pagos de forma facilitada para pessoas físicas e jurídicas. Assim, surgia o Conta Black.
— Mostrei para o mercado que essa grande parte da população, que é desbancarizada, precisava simplesmente ter acesso a um serviço financeiro básico, simples, aquele que permite a ela colocar o dinheiro, ter o cartãozinho dela, utilizar da melhor maneira possível. Porque, naquela época, empreendedores não abriam conta com nome restritivo, os bancos dificultavam, e foi aí que a gente cresceu — afirma.
Afroempreendedorismo e ESG
Antes mesmo de lançar a Conta Black, o empresário foi o criador da ONG AfroBusiness Brasil, organização sem fins econômicos voltada para conectar e capacitar empresários no processo de inclusão social e econômica da população negra. Hoje, com aproximadamente 9 mil associados, a ONG é o principal braço social do Conta Black.
All também defende e promove a bandeira da diversidade nas empresas – e, neste sentido, o ESG (governança ambiental, social e corporativa) veio para mostrar que investir em capital humano é relevante.
— O social é a bola da vez, as empresas que aplicam a diversidade são empresas que vão lucrar mais — ressalta.
No Fronteiras Educação, All reforçará aos jovens que não existem fronteiras para a realização de sonhos, tanto em uma carreira esportiva, por exemplo, quanto em uma empreendedora ou intraempreendedora. Há passos que precisam ser seguidos, e "nãos" sempre vão existir.
— Mas só aqueles que realmente estiverem preparados, com a mentalidade, educação financeira, entendendo como funciona o mundo, vão conseguir vencer na vida. Quero sair de lá pelo menos impactando a vida de muitos jovens — assegura.
Serviço
Alunos de 8º e 9º anos do Ensino Fundamental de 20 escolas participarão do encontro no Auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa. Além de Sérgio All, também apresentam a conferência Wendy Haddad Carraro, pós-doutora em Empreendedorismo e Inovação.
- O quê: Fronteiras Educação – Empreendedorismo e Educação Financeira
- Quando: terça-feira (28), da 9h às 11h15min
- Onde: auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul
- Público: para estudantes de 20 escolas da rede pública municipal de ensino e educadores inscritos no Congresso Cidades Educadoras