Cerca de mil "ipaenses", como se denominam atuais e ex-alunos e funcionários do Centro Universitário Metodista (IPA), se reuniram na noite desta sexta-feira (17) no campus da universidade para comemorar o centenário da instituição fundada em 1923. A organização do evento decorou o campus à moda das festas colegiais que os alunos da instituição faziam nos anos 70.
Trajados com uma camiseta azul comemorativa com a logomarca de um cavalo Mustangue, uma raça norte-americana, que é símbolo da instituição, alunos e funcionários do presente e do passado celebraram a memória da instituição.
Um dos ex-alunos presentes, o cantor Rafael Malenotti, vocalista da banda de rock gaúcha Acústicos & Valvulados, atiçou a nostalgia de parte do público ao cantar o hino da instituição na cerimônia, composição que existe desde os anos 30 e é cantada por gerações de estudantes desde então. Segundo o artista, que estudou no colégio, entre 1978 e 1989, suas experiências em festivais musicais e contato com bandas de colegas foram essenciais para a sua formação musical.
— Tudo o que aprendi de conduta, devo ao IPA. Os primeiros protocolos que quebrei na minha vida, aprendi a quebrar aqui dentro também — declara Malenotti, que desenhava as charges e escrevia no jornal da instituição em sua época de colégio, participação que lhe ajudou a perceber de sua vocação artística.
O músico conserva de sua juventude no IPA uma amizade de longa data com o comunicador Lelê Bortholacci, radialista do grupo RBS, que participou do evento como mestre de cerimônias.
— Esse colégio me ensinou a gostar de esportes. Tínhamos acesso à música com os festivais nos auditórios, o Festipa e o Restipa. Os corredores do colégio até hoje aparecem nos meus sonhos — diz o radialista, que fez o Ensino Fundamental e parte do Ensino Médio na instituição.
100 anos de história
Fundado em 1923 como “Porto Alegre College”, uma escola vinculada à Universidade Metodista do Sul, de Dallas (EUA), mudou de nome para IPA em 1937 após o Estado Novo proibir que instituições de ensino brasileiras tivessem nomes estrangeiros. No início, o colégio ocupou um sobrado na esquina da Rua Marechal Floriano com a Avenida Salgado Filho, no centro da cidade.
— Nos anos 30, um reitor que se graduou nos EUA trouxe de lá essa ideologia de ter hino, flâmula e livros com fotos dos formandos. Havia até campanário que chamava os alunos para as aulas e o ambiente criou um "espírito ipaense" para as pessoas levarem suas vidas com honestidade, liberdade com responsabilidade, amor ao próximo e outros preceitos cristãos — explica o empresário Ricardo Eckert, ex-aluno do Ensino Médio do IPA, formado em 1979, que participa da comissão de organização das comemorações do centenário.
A partir de 1924, o atual IPA foi transferido para o endereço atual, no bairro Rio Branco, onde na época era uma zona rural. A sede é carinhosamente chamada de “morro milenar”, denominação que vem do hino da instituição. Antigamente, a instituição operava em regime de internato apenas para meninos, com um clientela de filhos de estancieiros e comerciantes.
— Eram cerca de 600, 700 internos e, como era zona rural, eles iam para o Centro uma vez na semana no máximo. Esse pessoal vivia nove meses no IPA e três meses com a família, então passavam mais tempo com os colegas e professores do que com os pais e irmãos. Então esse espírito do próprio colégio ser uma "família" se solidificou e passou para várias gerações — explica Eckert.
A partir de 1971, a instituição passou a oferecer cursos de Ensino Superior, como Educação Física, que teve como aluno ilustre o técnico de futebol Luiz Felipe Scolari, o Felipão, pentacampeão com a Seleção Brasileira. No início dos anos 2000, o colégio fechou e o IPA se manteve apenas como centro universitário. A instituição também teve como alunos nomes reconhecidos como o escritor Luis Fernando Verissimo, o folclorista Paixão Côrtes e o cantor e compositor Raul Ellwanger.
Hoje, o IPA mantém oito graduações presenciais, além de cursos de pós-graduação, e funciona como um polo EaD da universidade metodista paulista. Na última quinta-feira (16), a Câmara dos Vereadores de Porto Alegre homenageou o centenário da instituição. Na próxima quarta-feira (22), a comemoração será na Assembleia Legislativa.
— O IPA continua. Enquanto instituição de Ensino Superior, o futuro dele pode ser até para mais 100 anos — destaca Vera Maciel, reitora do IPA.
Instituição passa por reestruturação
Desde o fim do ano passado, o Educação Metodista, grupo de ensino que é dono de instituições como IPA e Colégio Americano, está em recuperação judicial. Como parte do processo, no início deste mês, a área de 41,4 mil metros quadrados pertencente ao IPA foi comprada em leilão pela construtora Cyrela. A construtora poderá usar apenas 26,7 mil metros quadrados do local, o que engloba parte dos prédios e do terreno.
— O IPA enquanto instituição de Ensino Superior continua. Estamos sim passando por uma reestruturação, inclusive de terreno, mas temos nossos cursos ativos, tivemos ingresso de alunos novos e nossos laboratórios da área de saúde seguem forte. Saíram do local onde antes funcionaram, que foi leiloado, e estão funcionando a pleno vapor — garante Vera Maciel.