Com a reabertura dos países, quem deseja fazer intercâmbio ainda em 2022 precisa lidar com um dilema: a fila de espera para emitir um visto, demanda que ficou represada durante a época de fronteiras fechadas por causa da pandemia.
Segundo a Associação de Agências de Intercâmbio no Brasil (Belta), a demora na emissão das autorizações ocorre principalmente para estudar inglês em países como Canadá e Austrália, que costumam ser os mais procurados. Para os Estados Unidos, outro destino preferido dos brasileiros, a prioridade dos consulados é para emitir visto de estudante, enquanto o de turista, que pode ser usado para estudos de curta duração, tem demorado muito mais.
A lentidão no processo foi sentida por Manuel Alarcon Andrade, 25 anos, chileno radicado em Porto Alegre. Com diploma de engenheiro obtido em 2021 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ele começou a sonhar com um curso de inglês no exterior. Acionou uma agência de intercâmbios e pediu o visto em dezembro de 2021. Só em abril deste ano conseguiu autorização para estudar em Toronto, para onde finalmente embarca daqui a duas semanas, no dia 13 de maio.
Segundo a diretora de relações internacionais da Belta, Maura Leão, essa demora na emissão dos vistos não é uma má vontade das embaixadas com os estrangeiros que desejam estudar um idioma, apenas um excesso de solicitações.
— As pessoas precisam saber da real situação. Antes, dava para planejar um intercâmbio com um mês ou até dois meses de antecedência. Mas hoje duplicou o número de pessoas aguardado por essa autorização — alerta.
Os quatro meses de espera de Manuel é um tempo considerado alto, mas ainda menor do que o previsto pela agência CI Intercâmbios, que acompanhou seu processo. Quando o rapaz começou a enviar a documentação, foi informado de que a emissão do visto poderia levar até seis meses. Antes da crise sanitária de escala global, a autorização para estudar no Canadá costumava sair em até 30 dias.
GZH preparou dicas para para quem deseja se inspirar no chileno e fazer um intercâmbio ainda neste ano. A principal recomendação das agências ouvidas pela reportagem é para correr atrás da papelada o quanto antes, organizando a viagem de estudos com pelo menos quatro ou cinco meses de antecedência.
O que preciso para fazer um intercâmbio ainda em 2022?
Em relação à documentação, o primeiro passo é providenciar passaporte com validade de até seis meses da data da volta. Se a pessoa pretende viajar em julho, mas seu passaporte vence em novembro, será necessário emitir um novo passaporte. Depois disso, basta escolher o tipo de intercâmbio e o destino para onde deseja viajar, considerando se o país exige visto. A questão do visto é importante porque as agências de intercâmbio definem o período de estudos levando em conta o prazo para emissão do visto e a data de início dos estudos.
Quais são os países mais procurados para fazer intercâmbio?
Os países de língua inglesa são os mais procurados, como Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, além de Irlanda e Austrália.
Que tipos de intercâmbios existem?
Há programas diferentes para idades diferentes. Para adolescentes, existe a opção de programas de férias em grupo, em que o aluno consegue aprender o idioma e também passear. Quem está no Ensino Médio pode fazer o programa de High School, estudante por um semestre ou por um ano acadêmico no exterior. Para maiores de 16 anos, há os cursos de idiomas no exterior, sendo que inglês, francês, alemão e italiano são as línguas mais procuradas. Além disso, há o Au Pair, programa de trabalho remunerado para meninas de 18 a 26 anos, em que elas moram com uma família e cuidam das crianças. Por fim, há a graduação, pós-graduação ou cursos técnicos no exterior, além dos programas de trabalho voluntário.
Com a pandemia e as fronteiras dos países fechadas, muitos consulados fecharam e a emissão de vistos ficou represada. Quanto tempo está demorando, em média, para conseguir o visto?
Com a reabertura dos países, há uma grande demanda de pedidos para emissão de visto nas embaixadas. Para o Canadá, a demora para emissão do visto fica entre 30 e 120 dias. Para a Austrália, a espera para emissão de visto é de duas semanas a 75 dias.
Já para os Estados Unidos, o consulado tem dado prioridade para o visto de estudante. Para o visto de turista, a demora é grande para conseguir data para fazer a entrevista, que é a primeira etapa para a obtenção do visto.
Acionado por GZH, o consulado americano em Porto Alegre informou que pode levar, em média, sete dias para que a pessoa consiga horário para uma entrevista. O que pode encurtar o processo é checar regularmente o site de agendamento para ver se novas vagas foram disponibilizadas para a entrevista - recomendação da própria embaixada.
Foi o que fez um intercambista assessorado por Carla Mussoi, dona da agência Experimento Intercâmbio, de Porto Alegre.
— A gente precisou ficar acessando o sistema da embaixada o tempo inteiro para conseguir antecipar a entrevista. Depois que faz essa entrevista, é rápido: leva no máximo 10 dias para conseguir o passaporte de volta (com o visto) — diz ela.
Com quanto tempo de antecedência o intercambista precisa se organizar para viajar para países que exigem visto?
Com quatro a cinco meses de antecedência — este é o tempo necessário para que a viagem de estudos seja organizada com tranquilidade, evitando atropelos, segundo a gestora da unidade da CI em Porto Alegre, Diana Pinto.
— Uma boa antecipação vai evitar frustrações. Se a pessoa quiser muito fazer um intercâmbio ainda neste ano, tem que se matricular agora em maio na escola onde deseja estudar e se planejar para viajar em outubro ou novembro. Ainda assim, podem ocorrer atrasos na emissão do visto e termos revisão de datas — diz.
Quais países não precisam de visto para fazer intercâmbio?
Inglaterra e Irlanda não exigem visto e, por isso, costumam ser os destinos mais rápidos para quem busca o intercâmbio. No caso da Inglaterra, não é necessário ter visto para cursos com duração de até seis meses - no entanto, o intercambista também não consegue trabalhar. A Irlanda não cobra visto emitido no Brasil, mas se o estudante se matricular em curso de pelo menos seis meses de duração, ganha um visto com direito a trabalho.
Quais destinos permitem estudar e trabalhar?
Para estudar e trabalhar na Irlanda, é necessário fazer um curso de inglês de pelo menos 24 semanas de duração. Já na Austrália e na Nova Zelândia, um curso de inglês de 14 semanas de duração, semi-intensivo, permite que o estudante trabalhe enquanto estiver estudando. Já nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, é necessário estar matriculado em um curso de graduação ou pós-graduação para conseguir trabalhar.
Qual é a média de investimento para fazer um intercâmbio de estudos?
Um intercâmbio não varia somente em termos de tempo. Também depende do curso, carga horária, escola e moeda do país, além do tipo de acomodação escolhida. Na última pesquisa feita pela Associação de Agências de Intercâmbio no Brasil (Belta), em 2020, por exemplo, a média de investimento por intercambista foi de US$ 5.928. Em 45% dos casos, o investimento foi de US$ 3 mil e em apenas 9% dos negócios, o valor ultrapassou os US$ 10 mil.
Como a alta do dólar impacta nos intercâmbios?
O dólar esteve alto de outubro do ano passado a janeiro deste, mas sofreu queda em abril, o que estimulou os intercâmbios — assim como o cenário de maior instabilidade política e econômica e o longo período de fronteiras fechadas, em que não era possível viajar.
Qual o tipo de acomodação mais procurado agora?
Segundo as agências ouvidas por GZH, as maiores dificuldades dizem respeito à acomodação. Isso porque muitas famílias que recebiam intercambistas deixaram de recebê-los na pandemia e ainda estão receosas de abrir as portas de suas casas. Isso tem sobrecarregado as residências estudantis. Por isso, o intercambista que deseja viajar em 2022 precisa ter flexibilidade para aceitar ficar em outras acomodações.
Os países estão cobrando seguro saúde que cubra gastos com a covid-19? E comprovante de vacinação?
Para intercâmbio, é necessário contratar seguro viagem que inclua gastos com saúde. A cobertura contra a covid-19 não é obrigatória, mas é recomendada pelas agências, já que evita despesas no caso de a pessoa ficar doente. Já o comprovante de vacinação contra a covid-19 é cobrado, atualmente, nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. No entanto, isso pode variar. É possível checar o que cada país cobra no site do Iata TravelCentre.
As agências que contribuíram com as dicas para esta reportagem foram a CI Intercâmbio e Viagem e a Experimento Intercâmbio, ambas de Porto Alegre, além da Associação de Agências de Intercâmbio no Brasil (Belta).