Cesar Paz
Fundador do Ecosys e Sócio da Pipeline Capital
Gustavo Borba
Diretor do Instituto para Inovação em Educação da Unisinos
Jorge Audy
Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS
Nos últimos dois anos, tivemos a oportunidade de refletir e escrever juntos sobre o contexto atual, de forte crise sanitária global com reflexos significativos em nossa sociedade. O tema principal do nosso debate sempre foi a importância da educação e sua centralidade para entender como chegamos até aqui e como poderemos construir um novo cenário de desenvolvimento social, econômico, ambiental e cultural.
Como educadores, acreditamos no caminho da educação de qualidade para todos! Acreditamos que aprendemos em todos os espaços, dentro e fora da sala de aula e das instituições de ensino, na interação com a cidade e sua dinâmica, com todas as pessoas que nos relacionamos e com as experiências que desenvolvemos com elas.
Não existe futuro, na sociedade do conhecimento, para uma nação sem uma educação de qualidade e inclusiva que forme para a cidadania e para o mundo do trabalho. Sobretudo, uma educação que se revele na transformação de cada um e na relação entre todos. O papel da educação vai muito além do utilitarismo apregoado por vertentes econômicas, com foco exclusivo na geração de valor e na sustentação de uma economia muitas vezes socialmente injusta, que privilegia o capital em detrimento da pessoa.
A educação de qualidade é necessária, antes de tudo, para formar para a cidadania, desenvolver pessoas cientes de seus deveres e direitos em uma sociedade diversa e complexa. Formar com valores globais de justiça social, liberdade, amor, responsabilidade social e ambiental e respeito à diversidade em todas suas dimensões. A partir disso, a educação tem também uma dimensão de preparação para o mundo do trabalho, considerando que o desenvolvimento econômico somente faz sentido se estiver a serviço do desenvolvimento humano e social. Simples assim.
O Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco, visa a unir todo o mundo em torno da educação. Essa proposta defende que somente pela educação, humanizadora, solidária, livre e bem-intencionada, é possível reverter a situação de desigualdade no mundo atual. Transformando a indiferença e a racionalidade pura em cuidado e atenção, simultaneamente pela pessoa humana e pela causa comum, com uma cultura da paz e de respeito pelos diretos humanos. Em nível global, temos também o Kairós, movimento que promove as reflexões sobre o Terceiro Contrato Social da Educação, que busca uma nova educação como resposta às novas necessidades e demandas sociais, econômicas e do trabalho no século 21. São movimentos que envolvem mudanças estruturais e estratégicas em nossa forma de agir no campo da educação.
No nosso Estado, temos diversos movimentos, empresariais e acadêmicos, que identificam inequivocamente a educação como a condição básica para um novo ciclo de desenvolvimento. A Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul lançou recentemente o programa Avançar na Educação, buscando qualificar a educação pública estadual. Na Capital, temos o Pacto Alegre, que tem o Cidade Educadora como um dos seus projetos prioritários, aprovados para os próximos anos na esfera municipal, envolvendo diversas lideranças, organizações e entidades da área social e de educação.
No âmbito da sociedade civil em Porto Alegre, movimentos coletivos como o POA Inquieta e o Ponta Comunidades buscam desenvolver uma perspectiva ecossistêmica de transformação local que vai além da visão da inovação de base tecnológica. Esses coletivos são plataformas habilitadoras que, através de tecnologias sociais participativas e capilarizadas, favorecem o fluxo criativo, de conhecimento, e acima de tudo de experiências transformadoras na área da educação e da inovação. Em 2021, esses coletivos promoverão o Primeiro Congresso Popular de Educação para a Cidadania, sendo todo o evento realizado exclusivamente em regiões periféricas de Porto Alegre.
É preciso construir um grande movimento de valorização dos professores e da educação, que respeite a diversidade e os saberes formais e informais, que seja inclusivo, e encontre o equilíbrio necessário entre a tradição e a renovação, entre o local e o global, sem jamais esquecer a centralidade do estudante e o papel da educação como esperança de um futuro melhor para todos.
São, enfim, muitas pessoas, entidades e organizações, em todos níveis, preocupadas com o futuro, que identificam na educação a condição fundamental, a principal prioridade, para sonharmos com um futuro melhor.
Bom, mas cabe aqui uma reflexão: se dispomos de tantas iniciativas no campo da educação, propostas por diferentes atores, então o que falta para avançarmos definitivamente em um projeto que atenda a necessidade de uma educação contemporânea que forme cidadãos conscientes e preparados para a construção de um desenvolvimento sustentável nas perspectivas ambiental, social e econômica?
Essa não é uma resposta trivial, mas entendemos que urge articular todos esses esforços em favor de uma educação que se expanda e permita a compreensão de um ecossistema que rompa os muros das instituições de ensino, das organizações, das empresas, do governo, e permita a compreensão de um todo sistêmico, no qual aprender é o processo que permite transformar coletivamente e promover o bem-estar social e o senso de pertencimento.
Entendemos que é preciso, desde já, construir um grande movimento de valorização dos professores e da educação, que respeite a diversidade e os saberes formais e informais, que seja inclusivo, e encontre o equilíbrio necessário entre a tradição e a renovação, entre o local e o global, sem jamais esquecer a centralidade do estudante e o papel da educação como esperança de um futuro melhor para todos. E esse futuro tem que ser construído de forma colaborativa. Juntos.