Cesar Paz
Fundador do Ecosys e Sócio da Pipeline Capital
Gustavo Borba
Diretor do Instituto para Inovação em Educação da Unisinos
Jorge Audy
Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS
Pensar sobre a felicidade das pessoas na nossa sociedade implica em um ato da liberdade e consciência humana, sendo a fraternidade e a solidariedade dois temas centrais nesse processo, especialmente agora que vivemos uma aceleração das desigualdades sociais, em paralelo ao processo de transformação digital em curso.
Neste momento, muito da atenção dos governantes está centrada na economia e nos mercados. As organizações estão se reinventando, em um mundo cada vez mais conectado. Mas também mais desigual. Milhões de crianças estão sem aula, milhões de pessoas, sem provimentos básicos para suas famílias. Esse cenário demanda um olhar sob uma perspectiva coletiva, projetando nosso futuro como sociedade. Devemos desenvolver ações que se resumem a três desafios: a crise sanitária, para salvar vidas; a crise social, para restaurar a dignidade das pessoas; e a crise econômica, para restabelecer o ambiente de trabalho e negócios. E com prioridades inequívocas, na ordem em que se apresentam, sempre priorizando a vida humana.
Para a construção de uma sociedade em paz, com justiça e fraternidade, devemos estar atentos às demandas sociais, ser empáticos e sentir o que as pessoas estão passando hoje. Temos de reconciliar as forças sociais, de forma inclusiva, não deixando ninguém para trás.
O colapso que vivemos é fruto de um processo de desenvolvimento que se desconectou do meio ambiente e dos mais pobres e ignorou a diversidade (etnicorracial, de gênero, cultural) como força motriz da sociedade. A encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, fala sobre a fraternidade e a amizade social como condições para um mundo melhor e clama contra a globalização da indiferença e do desinteresse pelo bem comum.
Esse pensamento está no recente texto O Mundo Pós-pandemia: um Vislumbre de 2050 para Analisar as Mudanças e Transformações, no qual os autores Fritjof Capra e Hazel Henderson apontam que “as falsas teorias do desenvolvimento e do progresso humano, medidas de forma míope por preços e métricas baseadas exclusivamente na economia, como o PIB, culminaram em crescentes perdas sociais e ambientais”. Criamos bolhas, e os que puderam se acomodaram nelas. A crise sanitária estourou essas bolhas, atingindo a todos, sem distinguir grupos sociais. Escancarou nossas mazelas, o valor que damos aos outros, e mostrou como nunca a real interdependência global das pessoas e das nações. Mas afetou com muito mais contundência os mais necessitados.
O desafio requer consensos mínimos para a definição de estratégias articuladas no combate à pandemia, com respeito à ciência na condução das ações. A vacina, o uso de máscara, a necessidade de distanciamento físico (não social) e a limpeza constante das mãos são ações fundamentais que devem ser reconhecidas por todos.
A sobreposição das crises remete ao paradigma da complexidade. Solicita um novo humanismo. Talvez, como aborda Edgar Morin, um humanismo regenerado.
A crise social, que coloca em risco o instável equilíbrio existente, mostra a urgência de entendermos o homem como essencialmente um ser social, que deve envolver um compromisso ético com a integridade de todos. Neste momento, as ruas, mesmo silenciosamente, gritam por solidariedade e justiça social, por ações relacionadas à renda mínima universal, ao auxílio emergencial, à emergência de um novo humanismo e ao reconhecimento no outro de sua dignidade como pessoa, centrada na atenção e no cuidado.
Por fim, o desafio da crise econômica envolve um enorme esforço, em pleno desenvolvimento, de transformação digital. Um movimento que acelerou ações em direção ao mundo virtual das organizações, públicas e privadas, que levaria muitos anos ainda para acontecer. Esse processo coloca em destaque também os ecossistemas de inovação, cada vez mais espaços híbridos de conexão com o futuro.
A sobreposição das crises remete ao paradigma da complexidade. Solicita um novo humanismo. Talvez, como aborda Edgar Morin, um humanismo regenerado, que conecte a unidade humana à diversidade e promova a dialética entre Eu e Nós ou, talvez ainda, um humanismo como atitude, uma nova forma de estar no mundo e se relacionar com a natureza e com as pessoas.