Por Cesar Paz
Empreendedor, professor da Unisinos
Gustavo Borba
Professor e pesquisador da Unisinos
Jorge Audy
Professor e pesquisador da PUCRS
Um dos grandes desafios da humanidade está relacionado à questão da desigualdade social, potencializada hoje pela pandemia do coronavírus. A esperança de que o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas criasse soluções para a redução da pobreza e automaticamente se traduzisse em mais oportunidades para os excluídos não se confirmou. Em nosso país, esse processo de aceleração das desigualdades se torna ainda mais evidente no acesso à saúde, ao trabalho e à educação.
Tomando como exemplo a área de educação, podemos perceber que uma parcela da sociedade foi afastada do processo de aprendizagem formal. Isso sem abordar a questão da qualidade do ensino. Milhões de jovens nas escolas públicas ficaram sem aulas, sem atividades de recreação e até mesmo sem alimentação neste período mais agudo da pandemia. Se entendermos a educação como o mais poderoso mecanismo de inserção e mobilidade social, a situação atual, somada aos já antigos problemas de qualidade do sistema de educação brasileiro, temos como resultado a redução do acesso e a diminuição da qualidade do ensino oferecido aos jovens.
Essa potencial aceleração da desigualdade na educação afeta diretamente a inserção desses jovens, como cidadãos, na sociedade. Afeta não somente a sua inserção, mas também limita suas possibilidades de mobilidade social, conceito proposto pelo sociólogo Pitirim Sorokin no início do século passado. A educação é um fator fundamental para os movimentos verticais, em termos de mobilidade social, entretanto, o tamanho dos degraus, definido em função da renda, é também um desafio para cada um que busca uma ascensão. Quanto mais alto o degrau, mais difícil a transposição.
Se tivermos uma sociedade mais igualitária em termos de renda, a tendência é a redução no tamanho dos degraus, e a possibilidade de ascensão de mais pessoas. Nesse contexto, discute-se a ideia de renda mínima (basic income). Na pandemia, o debate sobre renda básica universal se ampliou, e começa a surgir um movimento independente de bandeiras políticas, de direita ou de esquerda, avançando para uma perspectiva de geração de riqueza – a partir da distribuição de riqueza.
No dia 10 de julho, a revista Nature publicou um artigo descrevendo o modelo espanhol, que está realizando pagamentos mensais que chegam a 1 mil euros para as famílias mais pobres daquele país, podendo atingir 850 mil famílias. Segundo André Torreta, especialista em consumo de classes C e D, no Brasil, neste momento, há propostas de projetos, que poderíamos classificar como programas de renda mínima, em cidades tão distintas como Araraquara (SP), Lorena (SP), Porto Alegre (RS), Alhandra (PB) e Rio das Ostras (RJ).
Sem dúvida, o acesso à educação de qualidade como um bem público, como um direito das pessoas, é fator fundamental para a redução das desigualdades e a geração de condições de equidade no processo de desenvolvimento profissional, além da formação para a cidadania. Assim como a possibilidade de distribuição de uma renda mínima para os mais pobres pode permitir uma dinâmica social, desde que sejam criados alguns gatilhos para que o consumo seja local, e a moeda gire, preferencialmente, dentro das comunidades.
AA educação é a mais poderosa e transformadora ação que uma pessoa pode vivenciar. Da mesma forma, a distribuição de renda é um fator adicional importante para a construção de uma desejada redução da pobreza e dinâmica social.
Nesse sentido, a educação é a mais poderosa e transformadora ação que uma pessoa pode vivenciar. Acesso à educação (com efeitos de longo prazo) e renda (com efeitos de curtos prazos) são fatores preponderantes para a redução das desigualdades. Da mesma forma, a distribuição de renda é um fator adicional importante para a construção de uma desejada redução da pobreza e dinâmica social.
Só com um debate aberto e inclusivo sobre os temas centrais que atacam a desigualdade encontraremos caminhos para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Em meio a esta pandemia, que nos expôs de forma cristalina essa situação, é preciso refletirmos e agirmos de forma efetiva, independentemente de nossas visões políticas e de mundo, visando a transformarmos junto essa realidade.