
Em uma cerimônia marcada pela emoção e por consistentes discursos em defesa do jornalismo e da livre expressão do pensamento, o presidente emérito do Grupo RBS, Jayme Sirotsky, foi homenageado, na noite desta quinta-feira (27), com o Prêmio Associação Nacional de Jornais (ANJ) de Liberdade de Imprensa.
Com mais de seis décadas dedicadas à comunicação, Jayme recebeu o troféu como um reconhecimento a sua atuação como empresário em nível regional, nacional e global. A cerimônia, realizada em sua residência, em Porto Alegre, foi acompanhada por representantes dos mais importantes veículos de comunicação brasileiros, e por jornalistas, amigos e familiares.
Em seu discurso, o presidente da ANJ, Marcelo Rech, salientou que a escolha do laureado, a cada ano, costuma ser precedida por intensos debates na diretoria da entidade.
— Dessa vez, houve rara unanimidade — destacou. — Porque, sem dúvida, estamos diante de um campeão brasileiro e mundial da liberdade de imprensa.
A ANJ representa os principais jornais brasileiros. Em anos anteriores, o prêmio, um reconhecimento pela dedicação em torno da causa da liberdade de imprensa e expressão, foi concedido aos ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto e Celso de Mello, e a instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Associação Mundial de Jornais (WAN-IFRA), a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e o diário argentino Clarín.
Durante a cerimônia, um vídeo intitulado "Embaixador da liberdade" ilustrou alguns dos principais momentos da jornada de Jayme na RBS e de seu trabalho em defesa da liberdade de imprensa em entidades nacionais e internacionais. Foram destacados seu pioneirismo na indústria da educação e sua engenhosidade diplomática diante de missões, por vezes, em países autoritários, levando a causa do jornalismo como instrumento da democracia.
Após receber o troféu das mãos do ex-presidente da ANJ e presidente do Conselho de Administração de O Estado de S. Paulo, Francisco Mesquita Neto, Jayme, emocionado, lembrou de suas viagens como presidente da WAN por todos continentes carregando a bandeira da liberdade de imprensa, e fez um alerta diante dos atuais riscos ao livre pensar.
— Enfrentamos, ao longo dos anos, ameaças bem conhecidas e infelizmente continuadas: governos autoritários, censura, cortes de verbas públicas, riscos para a democracia, constrangimentos a profissionais do jornalismo, fundamentalismos, negacionismos e intransigências — pontuou.
O empresário também destacou sua defesa histórica da autorregulação dos veículos de comunicação. Entretanto, na era digital, em que discursos de ódio são propagados pelas mídias sociais, defendeu uma reflexão:
— Mesmo em regimes democraticamente consolidados, estamos diante de um desafio novo e inesperado, que nos obriga a rever o termo liberdade de expressão. A lógica do funcionamento da internet e das redes sociais é captura da atenção dos usuários por meio de conteúdos que refletem, muitas vezes, teorias conspiratórias, discursos de ódio e xenofobia. Pregar a desinformação é liberdade de expressão? É uma interrogação que temos de pensar muito para responder com tranquilidade.
O empresário também falou sobre os desafios da inteligência artificial (IA) generativa e de sua atuação na área da educação, por meio do Instituto Jama, para letramento digital e educação midiática, para que jovens aprendam a usar a tecnologia e saibam se proteger de armadilhas do mundo digital.
— O que faço pela educação é uma gota no oceano, mas, sem ela, o oceano ficaria menor. Em qualquer fase da vida é importante ter projetos — disse Jayme, de 90 anos, aplaudido de pé.
A cerimônia foi encerrada com uma apresentação do violonista Yamandú Costa.
A dedicação de Jayme à comunicação teve início em 1962, quando se uniu ao irmão, Maurício Sirotsky Sobrinho, na gestão da Rádio Gaúcha — embrião da RBS, que hoje congrega rádio, jornal, TV e internet. Além de se consolidar como um dos empresários mais importantes e inovadores do país, Jayme firmou-se como defensor de causas sociais, como a educação, a cultura e a liberdade de expressão. Foi presidente da própria ANJ em duas ocasiões, cargo também exercido por Maurício Sirotsky Sobrinho e Nelson Sirotsky.
Jayme foi o primeiro latino-americano a assumir a presidência da WAN-IFRA e atuou como vice-presidente e membro do conselho da SIP. Durante sua atuação na SIP, participou da elaboração da mais importante carta em defesa de uma imprensa livre, a chamada Declaração de Chapultepec, lançada no México em 1994. O documento destaca a imprensa livre como "condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam a sua liberdade".
Reunião da ANJ

Também nesta quinta-feira (27), a RBS sediou uma reunião ordinária da ANJ, unindo representantes de alguns dos principais grupos de comunicação do país para debater temas relacionados ao jornalismo e à defesa da liberdade de imprensa e expressão. Os convidados foram recebidos pelo presidente do Conselho de Gestão e publisher da RBS, Nelson Sirotsky. Antes, guiados pela diretora-executiva de Jornalismo e Esporte, Marta Gleich, eles visitaram a Redação Integrada de Zero Hora, Diário Gaúcho, GZH e Rádio Gaúcha e os estúdios. Também assistiram a uma apresentação sobre a RBS, conduzida pelo CEO da empresa, Claudio Toigo.
Entre os participantes estavam Rech, o integrante do Conselho Superior da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) José Antônio Nascimento Brito, e os representantes da ANJ Ana Amélia Filizola (Gazeta do Povo), Alfredo Bilo (Grupo Sinos), Carlos Fernando Lindenberg Neto (A Gazeta), Guliver Leão (O Popular), João Roberto Marinho (O Globo), Luciana Dummar (O Povo) e Sylvino de Godoy Neto (Correio Popular). Participaram do encontro de forma remota Marcelo Bechara (Grupo Globo), Maria Judith de Brito (Folha de S. Paulo) e Júlio César Vinha (ANJ).