Pelo calendário do governo estadual, está prevista para esta quarta-feira (28) a retomada das aulas presenciais dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Mas a típica movimentação de volta às aulas não foi o que a reportagem constatou até agora. Foram visitadas seis escolas estaduais e, em nenhuma delas, havia presença de alunos. As escolas estaduais Presidente Roosevelt, Mané Garrincha e Cândido Portinari, no Menino Deus, e Santa Rita de Cássia, no Morro Santa Tereza, estavam todas fechadas.
As que tinham movimentação de professores era a Duque de Caxias, no bairro Azenha, e a Dina Luiza Freitas Vale Aranha, no Belém Velho. Na Duque, duas funcionárias estavam de plantão para receber e distribuir os materiais e tarefas escolares para quem não tem acesso a internet.
Duas professoras deste colégio, que preferiram não se identificar, afirmaram que receberam máscaras, três termômetros, produtos de limpeza e álcool 70%, mas que ainda não foi instituída a comissão interna de saúde, que toda escola deve apresentar para poder reabrir. Por isso, os pais optaram por não mandar os filhos para a escola:
— Estávamos prontos para receber os estudantes, mas eles não vieram. Os pais estão receosos, porque o número de casos voltou a aumenta nas últimas semanas.
Outra funcionária da mesma instituição ressaltou que a escola tem condições de reabrir, mas preocupa-se com os recursos humanos:
— Temos somente duas funcionárias para fazer o monitoramento de recreio e portão. Não sei como elas ficariam atentas ainda ao cumprimento dos protocolos por parte dos alunos.
Uma mãe, que também optou por não se identificar, foi até a Duque de Caxias pegar os deveres de casa para o filho. Ao falar sobre o motivo pelo qual não liberou a ida do filho ao colégio, ela foi sucinta:
— É questão de saúde. Não é o momento, não quero expor o meu filho.
Já na Escola Dina Luiza Freitas Vale Aranha, não tinha aula, apenas a diretora e outros dois funcionários estavam de plantão para o recebimento das máscaras laváveis prometidas pelo governo do Estado.
Até o momento, a instituição já recebeu 66 caixas de álcool, três termômetros e dois tapetes sanitizantes.
Contudo, Carla da Silva, diretora do colégio, afirma que a falta de recursos humanos é o problema mais urgente:
— Não tenho quem faça o monitoramento dos alunos. Temos uma pessoa responsável pela limpeza. A alternativa que pensamos foi deslocá-la para a porta de um dos banheiros para que ela fique responsável pela higienização de tudo após o uso de cada aluno. Mas o ideal seria termos três colaboradores de faxina para que pudéssemos dar conta da limpeza dos banheiros e outras partes da escola.
Ela destaca ainda que a falta de segurança sanitária assustou os pais. Dos 448 alunos matriculados, apenas três tem interesse em retomar os trabalhos presenciais.
Por meio de nota, o Cpers informou que este é "um retorno precipitado e irresponsável, que ocorre em meio à alta na ocupação hospitalar da Capital e com os mesmos problemas já apontados anteriormente pelo Cpers: escolas sem estrutura adequada, educadores sem treinamento, Epis de baixa qualidade, protocolos descumpridos pelo próprio Estado e responsabilização da comunidade escolar pelos cuidados necessários". Além disso, afirmaram que "qualquer instituição sem laudo emitido por agente técnico do Estado, externo à escola, está, hoje, descumprindo a ordem judicial constante na liminar obtida pelo Cpers".
A Secretaria Estadual da Educação, por sua vez, não finalizou o levantamento de escolas reabertas até o fechamento desta reportagem.