Radicado em Porto Alegre há mais de 30 anos, Carlos André Bulhões Mendes saiu de seu Estado natal, Alagoas, no fim da década de 1980. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Alagoas em 1988, iniciou no mesmo ano o mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instituição para a qual agora foi nomeado reitor e já declarou querer implantar mudanças (veja abaixo).
Na dissertação, concluída em 1990, Bulhões investigou o transporte e a dispersão de sedimentos em suspensão na região estuarina da Laguna dos Patos, usando técnicas de sensoriamento remoto. Em seu currículo lattes consta ainda um doutorado em Planejamento de Recursos Hídricos na Universidade de Bristol, na Inglaterra, cujo objetivo da tese foi desenvolver um modelo adequado às condições brasileiras, capaz de estimar em cenários futuros os efeitos do uso do solo na qualidade da água.
Entre 2002 e 2003, consta no lattes do engenheiro civil um pós-doutorado em Planejamento Ambiental na Universidade da Califórnia, em Davis, nos Estados Unidos. Atualmente, Bulhões é professor de cursos de graduação e pós-graduação dentro da área de engenharia da instituição. Também dirige, desde 2016, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS).
Antes de assumir a diretoria do IPH, tinha o cargo de vice-diretor. Foi nesse período, entre os anos de 2013 e 2016, que ficou mais próximo de André Luiz Lopes da Silveira, à época diretor do Instituto.
— Nos conhecemos há 30 anos. Até ele virar meu vice-diretor, não tínhamos uma relação estreita. Agora, me considero amigo dele. Pode ser que eu seja suspeito para falar — diz Silveira, que hoje é coordenador do Pós-Graduação em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos no polo UFRGS-IPH.
Silveira descreve o amigo como uma pessoa com “inteligência acima da média e capacidade administrativa”.
— Ele é engenheiro: entende de gestão, de fazer obras, tem muita capacidade de acompanhamento de projetos, lida bem com números. É um excelente nome para dirigir a universidade. Nada vai escapar — avalia o colega.
Ainda segundo Silveira, a gestão de Bulhões tem tudo para ser muito transparente:
— Faz parte da personalidade dele. Ele não foge de nenhuma pergunta e não aceita enrolação.
Há dois anos, Bulhões recebeu o Troféu Câmara Municipal em Porto Alegre. A distinção, proposta pelo vereador Moisés Barboza (PSDB), reconheceu o trabalho do professor frente às questões ambientais de arroios urbanos, principalmente aquelas relacionadas à recuperação do Arroio Dilúvio. Na época, Barboza comentou que "era importante prestigiar profissionais preocupados com o ambiente e que contribuam para que a cidade seja mais sustentável".
Em 1º de julho deste ano, Bulhões participou de um debate virtual que contou com a participação dos três candidatos a reitor da instituição. Durante o encontro, ele afirmou "desconhecer as razões do porquê o governo não nomearia o primeiro colocado da consulta eleitoral" e ter o "desejo de respeitar" o resultado do pleito interno mesmo que a chapa escolhida por Brasília não fosse a vencedora.
— Eu desconheço as razões do porquê o governo não nomearia o primeiro colocado da nossa consulta eleitoral. Estamos trabalhando com muito afinco para chegar até o dia 13. Quero muito, desejo muito, que o primeiro (...) assuma após essa consulta. Estou trabalhando com muito afinco para ser o primeiro, mas, se isso não for o desejo da comunidade universitária da UFRGS, muito bem — declarou.
Na sequência, complementou:
— O meu desejo, e respeitando a todos, é que devemos, sim, respeitar esse resultado e que o primeiro seja nomeado. Eu desconheço qualquer outra razão. Qualquer coisa diferente disso, pra mim, é uma especulação, é uma especulação.
Em outro encontro virtual com os três candidatos, organizado pela Adufrgs em 4 de julho, se denominou "nordestino com passaporte gaúcho" porque está há mais de três décadas em Porto Alegre e citou ter participado da primeira greve nas universidades brasileiras, em 1984. Ainda acrescentou que a UFRGS precisa ser reconhecida como meio de inserção social, geradora de conhecimento e de valores democráticos.
Bulhões também apontou uma aparente demora da universidade para discutir o ensino remoto emergencial durante a pandemia de coronavírus e reforçou a ideia de mudanças para enfrentar problemas de financiamento do Ensino superior, dos índices de repetência e evasão escolar que, segundo ele, são vexatórios, e de infraestrutura na própria universidade.
— Não vamos abandonar as coisas boas, vamos corrigir rumos errados, com muito diálogo, muito respeito e muito trabalho. Tendo o aluno como princípio, meio e fim de tudo. Em uma universidade pública, gratuita, de qualidade, autônoma e inclusiva. Sempre em conexão com a sociedade, devolvendo o melhor possível em conhecimento, pensamento crítico, ciência, pesquisa e soluções profissionais. (...) Soluções iguais e que estão sendo aplicadas há uma década e meia, e não resolveram problemas estruturais na universidade, não servem mais. Trocamos as condições de controle e temos que enfrentar, não podemos repetir modelos ultrapassados.