Quatro professores com atuação no ensino do Rio Grande do Sul estão entre os 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10, uma das mais importantes premiações da educação básica brasileira. Educadores de Mato Leitão, Novo Hamburgo, Ijuí e São Miguel das Missões foram escolhidos por seus projetos de excelência.
Concorrem ao prêmio docentes e gestores da Educação Infantil ao Ensino Médio de escolas públicas e privadas de todo o país. A edição deste ano estava aberta para inciativas realizadas somente em 2019.
A decisão de não aceitar projetos iniciados em 2020 foi tomada em decorrência da covid-19, que paralisou as aulas presenciais e não permitiu o desenvolvimento integral de muitas iniciativas.
Abaixo, conheça um pouco mais sobre os representantes do Estado no prêmio e no que consistem os projetos inscritos por eles na premiação.
Chalimar da Rosa
Mato Leitão
O projeto "As surpresas dos buracos – vida e potência das minhocas" permitiu que a professora Chalimar da Rosa proporcionasse diferentes experiências em sala de aula – e fora dela –, onde as crianças para quem ela leciona pudessem ser protagonistas da própria aprendizagem.
Na ideia que a levou a ser finalista do Prêmio Educador Nota 10, isso foi possibilitado pela descoberta do mundo das minhocas: pequenos seres que, apesar de causarem repulsa a muitos, fascinaram os pequenos.
— Encantar-se pelas miudezas do cotidiano foi o que nos moveu a realizar e desenvolver esse projeto. As surpresas eram diárias porque descobrimos que pequenos buracos na terra podiam guardar grandes aprendizagens — destaca Chalimar.
A partir dessa experiência, a professora explica, houve uma série de outras descobertas que causaram espanto nas crianças. Como, por exemplo, que aqueles pequenos seres na terra poderiam ter até cinco corações e realizar grandes escavações.
Saber que era uma das finalistas foi também uma surpresa para a professora, que destacou a "emoção única" e a alegria de representar o pequeno município de Mato Leitão, além de sua cidade natal, Venâncio Aires.
Ela destaca a importância da esperança na educação – e na vida – para que cada um possa realizar seus sonhos.
— Eu, como educadora das infâncias, acredito muito no poder da esperança. Pois é preciso acreditar que tudo pode ser possível. Assim como veem as nossas crianças — explica Chalimar.
Daiana Campani
Novo Hamburgo
Professora do curso técnico de eletrônica na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo – a maior escola pública do Estado –, Daiana Campani é finalista do prêmio com o projeto "Divulgação científica: um compromisso". Nele, estudantes de Língua Portuguesa do 1° ano do Ensino Médio explicavam pesquisas científicas a crianças por meio da redação de notícias: como se fossem jornalistas que estivessem escrevendo uma reportagem sobre alguma descoberta científica ao público.
Entre os textos escritos pelos alunos, alguns foram, inclusive, publicados em um jornal da cidade. Para a professora, o prêmio é a valorização de um trabalho que foi pensado com muito carinho e envolveu diversas pessoas.
— Pensei em a escola trabalhar não apenas a disseminação da ciência, em uma linguagem mais técnica, mas também que a gente se preocupasse com a divulgação da ciência, uma fala direcionada para quem não é especialista em ciência — destaca Daiana.
O objetivo é que a pesquisa pudesse circular mais na sociedade, abrangendo um número maior de pessoas nos projetos, em vez de vê-los discuti-los principalmente entre os pares.
Daiana destaca que a Fundação Liberato, onde ela leciona, é uma escola que investe muito no ensino e na pesquisa, o que torna ainda mais especial o trabalho de divulgação científica. Desde os primeiros anos na escola, os alunos já têm contato com a ciência e com disciplinas que possibilitam que eles desenvolvam projetos de pesquisa.
— O projeto procura reforçar um pouco a noção de que é inerente ao cientista devolver à sociedade aqueles conhecimentos a que ele teve acesso — diz a professora.
Danieli Biolchi
Ijuí
O objetivo principal do projeto de Danieli, "A literatura e a música: os anos que seguiram 64", foi o estudo e a análise da ditadura militar no Brasil entre os anos de 1964 a 1985.
A iniciativa, voltada ao aprendizado de alunos de História nos Anos Finais do Ensino Fundamental, foi destacar a literatura e a música como uma forma de análise crítica da democracia, da cidadania e da violação dos direitos humanos durante os 21 anos ditatoriais.
— O projeto surgiu primeiramente por se tratar de um dos conteúdos a serem abordados no 9º ano em História, e também pela necessidade de compreender esse período tão atual e que deixou marcas profundas na história do Brasil. Trabalhamos conceitos e usamos os princípios da historiografia para abordar todo o tema, respeitando as opiniões de todos, mas, também, analisando dados, músicas, obras, filmes e todo o material possível para que esse conteúdo fosse realmente compreendido e analisado — diz a professora.
Com isso, Danieli relata que foi possível que os alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Centenário, de Ijuí, compreendessem o sentido real da democracia e o respeito aos direitos humanos.
— Foi muito bonito ver o envolvimento dos alunos e o comprometimento em realizar um trabalho de excelência. Vi o brilho nos olhos deles durante as apresentações do nosso musical — celebra ela.
Em 2019, Danieli foi também finalista da sétima edição do Prêmio RBS de Educação. E foi premiada, levando o segundo lugar na categoria Escola Pública.
Zeno Kaipper Ely
São Miguel das Missões
Na categoria de gestão e coordenação pedagógica, Zeno representa turmas do Ensino Fundamental da escola estadual indígena Igineo Romeu Ko’eju, em São Miguel das Missões, onde ele está desde 2016. Seu projeto "Educador de excelência na aldeia, por que não?", procura favorecer o conhecimento e facilitar a comunicação entre docentes da escola e cidadãos indígenas moradores da região.
O objetivo principal da iniciativa, ele explica, é oferecer formação continuada aos professores, favorecendo a troca de saberes e potencializando a atuação pedagógica de todos em relação aos conteúdos curriculares e a cultura da comunidade guarani.
— Isso acontece por meio de um processo colaborativo e horizontal de troca entre professores indígenas e não indígenas, ampliando a qualidade do ensino e da aprendizagem. O que nos motivou mais foi propor uma educação de qualidade para a aldeia, e provar que isso é possível — relata Zeno.
Ele destaca que todo estudante merece ter uma educação de qualidade e que a escola indígena onde ele atua vem provando que isso é possível.
— Ver a alegria estampada no rosto das crianças e de seus pais por ter oportunidade de estudar em uma escola referência me motiva a continuar trabalhando cada vez mais nesta comunidade — garante ele.