Três municípios gaúchos destacaram-se por apresentar redes públicas de ensino com trajetórias bastante positivas, demonstrando avanços consistentes na aprendizagem dos estudantes ao longo dos anos em uma pesquisa nacional divulgada nesta quinta-feira (25).
Apesar de não terem atingido um patamar de excelência — o que os colocaria ao lado de Sobral (CE) e Jales (SP) como aqueles com os melhores resultados no Brasil –, Carlos Barbosa, Farroupilha e Ijuí estão entre as 104 cidades brasileiras que receberam o selo Bom Percurso na pesquisa "Educação que faz a diferença", desenvolvida pelo Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB), que congrega os tribunais de Contas brasileiros.
Ao mapear redes de ensino públicas que oferecem educação de qualidade aos estudantes, o estudo destaca que o Brasil tem boas escolas e redes de ensino públicas, mas não conhecemos a fundo quais são elas e o que fazem para obter esses resultados positivos.
Para determinar se uma escola ou rede de ensino é de boa qualidade, os pesquisadores explicam que não basta apenas analisar a aprendizagem de seus estudantes. Há vários fatores que influenciam os resultados, como as oportunidades educacionais que os alunos têm fora da escola e os desafios de gestão escolar e de sala de aula em contextos mais vulneráveis, em que há baixa motivação intrínseca de crianças e jovens para aprender.
Para receber o selo Bom Percurso, Carlos Barbosa, Farroupilha e Ijuí tiveram de demonstrar que a maioria dos estudantes do Ensino Fundamental está ao menos no nível básico de proficiência e que há um percentual significativo de alunos com aprendizado adequado. Os municípios gaúchos — assim como as 101 outras redes municipais reconhecidas com essa distinção — esforçam-se, ainda, para diminuir o impacto do meio externo e não deixar nenhum estudante para trás.
Apresentam, ainda, taxas de aprovação escolar, em 2016 e 2017, acima da média nacional. Em relação ao Ideb, apresentam, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, avanço de pelo menos 0,1 ponto em todas as edições e acrescentam mais à aprendizagem dos estudantes do que é esperado dado o nível socioeconômico deles.
O presidente do CTE-IRB, Cezar Miola, explica que a motivação do levantamento foi identificar boas práticas no ensino público para que possam ser disseminadas pelo país, gerando aprendizados para novos modelos de políticas públicas na área.
"Sabemos pouco sobre as redes de ensino que se destacam no Brasil. Se, por um lado, temos Sobral (CE) e Novo Horizonte (SP), que com frequência aparecem no noticiário e são alvo de estudos e análises, por outro lado, há uma completa escassez de informações sobre as redes de ensino que conseguem bons resultados, mas não estão necessariamente entre as primeiras no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)", explica Miola, em apresentação assinada em conjunto com Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
A partir do levantamento, os pesquisadores destacam que gestores de educação precisam olhar não somente para os modelos nacionais, mas também para as referências locais. Ou seja, conhecer redes de ensino que, ainda que não tenham alcançado indicadores de excelência, estão fortemente comprometidas com a qualidade do ensino ofertado e o combate às desigualdades, e que conseguem bons resultados em circunstâncias semelhantes.
O projeto Educação que Faz a Diferença é fruto de uma parceria entre o Iede, o Instituto Rui Barbosa (IRB) e os Tribunais de Contas (TCs) do país com jurisdição na esfera municipal.