A partir de uma fala que causou repercussão no SXSW, um dos principais eventos globais de inovação, realizado nos Estados Unidos em março deste ano, a organização do Festival de Interatividade e Comunicação (FIC) resolveu trazer a consultora Roberta Yoshida para apresentar sete novas realidades no mundo do trabalho no FIC19, que discute a nova ordem digital na Unisinos Porto Alegre, nos dias 28 e 29 de outubro.
Sócia da Deloitte Brasil, especializada em tendências para o mercado de trabalho, Roberta vai mostrar o resultado de relatório sobre os impactos da tecnologia na força de trabalho nos próximos anos — este mesmo estudo que foi apresentado por um colega seu no SXSW. Um relatório recentemente publicado pelo Fórum Econômico Mundial projeta uma redução de 50% na força física de trabalho até 2022, mas também prevê a criação de novas funções no mercado. No Brasil, a transição é mais tímida: segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), menos de 2% das empresas estão inseridas na chamada indústria 4.0, mas a projeção é de que 15% das indústrias brasileiras incorporem esse conceito nos próximos 10 anos, agregando mais inteligência artificial e automação a seus processos.
Em entrevista para GaúchaZH, por telefone, Roberta Yoshida descreve como organizações e profissionais podem se preparar para essa nova realidade, adiantando tópicos da palestra A Evolução do Trabalho: Sete Novas Realidades, dia 29 de outubro, às 13h45min, no Teatro Unisinos. Leia a entrevista:
Sua palestra propõe sete novas realidades no mundo do trabalho. Quais são elas?
Na Deloitte, temos feito um trabalho bastante intenso de pesquisa em relação ao mundo do trabalho. Essas sete realidades são de uma apresentação nos Estados Unidos que vamos replicar no FIC. A gente fala um pouco da transformação das tecnologias e da configuração dos talentos, este é o primeiro tópico. O segundo é uma ascensão do que a gente está chamando de organização exponencial, em todo aquele conceito de agilidade, mudanças organizacionais que estão acontecendo. A terceira realidade diz respeito à reconfiguração da força de trabalho, e aí vou falar um pouco de como as organizações deveriam estar revendo sua força de trabalho. Aqui no Brasil, não só os profissionais CLT (com carteira assinada), mas também aqueles que estão se colocando à disposição das organizações como terceiros ou autônomos, são novas configurações que a gente vai ter de tratar. A quarta realidade a gente está chamando de reinvenção ao longo da vida. Nisso, há uma perspectiva individual e profissional. A gente sabe que vai ter de estar aprendendo para trabalhar, e esses ciclos de aprendizagem para requalificação têm impacto tanto para as organizações quanto para nós. A gente fala também das organizações mais simples, no sentido de terem menos hierarquias, menos camadas organizacionais, para proporcionar tomadas de decisões mais rápidas, mais agilidade e flexibilidade para atender demandas do mercado. Na sexta nova realidade, a gente fala de ética no trabalho e na sociedade. Isso passa pela ética profissional, na utilização de tecnologia, no uso de dados. A última é sobre inovação com regulações, e aí de novo tem a questão da ética no sentido de regulamentar as ações de inovação.
Pesquisas internacionais sobre o futuro do trabalho projetam que haverá uma redução da força física no trabalho e que haverá novas funções no mercado unindo máquinas e humanos. Que tipos de funções são essas?
Os trabalhos, da forma como são hoje, serão reconfigurados. Não necessariamente deixam de existir, mas são reconfigurados. Atividades que são mais transacionais a gente imagina que serão feitas por máquinas, pois hoje a tecnologia está mais rápida, mais acessível, a automação está mais barata também. Vou citar algumas profissões que não existiam 15 anos atrás, como o cientista de dados, os desenvolvedores de sistemas mobile, uma série de novas posições que começam a existir em decorrência das tecnologias. Mas também é importante dizer que essas mudanças aconteceram em outros momentos da história. Um exemplo é o surgimento da planilha eletrônica. Os profissionais que trabalhavam com papéis, anotações, cálculos, achavam que iam perder o trabalho. Hoje, quantos analistas financeiros a gente tem? Não é uma questão de eliminação, mas a gente tem que prever a criação de outras funções.
A inserção dos jovens, os futuros trabalhadores, tende a ser mais fácil? Como estamos preparando a nova geração para o futuro do trabalho?
O nível de prontidão ainda é baixo. Existe uma consciência da necessidade de capacitação, mas as empresas ainda veem uma dificuldade para proporcionar as capacitações adequadas. Não é automático que, por estarem mais familiarizados com as tecnologias, os jovens estejam mais preparados, porque entra aí outro conceito, que é experiência.
Na área de recursos humanos, já é possível contar com diversas tecnologias como chatbot, games e analytics. Seremos recrutados por máquinas?
Uma das áreas com mais ferramentas disponíveis é recrutamento e seleção. Por outro lado, o olhar humano, numa entrevista final, ainda é essencial. Há dois anos, quando a gente fez uma pesquisa sobre isso, a gente percebeu uma queda até do salário dos profissionais de recrutamento e seleção, então o mercado se perguntava se podia colocar uma ferramenta automatizada para isso. Agora, a gente vê uma recuperação, inclusive em termos salariais desse profissional. A seleção final ainda é altamente dependente de seres humanos. O que a gente pode melhorar no meio desse caminho, com automação, é um escopo maior na quantidade de profissionais e fazer alguns filtros usando processos mais automatizados, como chatbot. Existem algumas partes do processo, no entanto, que o ser humano é essencial, porque tem toda uma percepção que a máquina não vai conseguir pegar num processo 100% automatizado.
Como os profissionais podem se preparar para esse novo mercado?
Um caminho é o aprendizado contínuo. Aproveitar o conteúdo e o conhecimento que há nas plataformas abertas na internet. O conhecimento está aí, então a curiosidade e a busca pelo conhecimento têm de ser uma constante na vida. Um ponto importante é não deixar de buscar conhecimento sobre tecnologia. Não necessariamente você tem que ser especialista em linguagem de programação, mas eu tenho que reconhecer que, independentemente da minha profissão, a tecnologia vai me impactar, por isso, o segredo é não menosprezar o poder da tecnologia. Na palestra, vou abordar muito essa questão de olhar suas próprias competências com base nessa nova realidade. Existe um desafio das organizações, mas cada um de nós, individualmente, tem que buscar uma capacitação ante essas novas realidades.
15º Festival de Interatividade e Comunicação (FIC19)
- Quando: 28 e 29 de outubro de 2019 (segunda e terça)
- Onde: Unisinos Porto Alegre (Avenida Dr. Nilo Peçanha, 1.600, Boa Vista)
- Quanto: R$ 260 (lote 3)
- Descontos: meia-entrada para estudantes e 40% de desconto pelo Clube do Assinante
- Inscrições: neste site