Um a um, eles vestem o quimono branco e se encaminham para sala de aula, até o encontro com o professor de educação física. Cumprimentam o mestre e logo começam a meditação. O silêncio paira por alguns minutos até o som eclodir, em seguida, com o aquecimento.
É assim, duas vezes por semana, que os alunos do 2º e 3º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Wenceslau Fontoura, no bairro Mario Quintana, zona norte da Capital, participam das aulas de judô. No comando das atividades, um professor prestes a viver uma experiência fora do país e cheio de planos a compartilhar.
Rodrigo Augusto Trusz, 40 anos, foi selecionado para participar do programa de intercâmbio Brasil-Japão Sport for Tomorrow, promovido pela Embaixada do Japão, em parceria com a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e o Instituto Kodokan (a primeira escola de judô, fundada no Japão, por Jigoro Kano, em 1882, e considerada a mais tradicional escola de judô do mundo).
Desde 2011, a instituição de ensino da Zona Norte oferta a oficina para as crianças. As aulas atendem 50 alunos entre sete e nove anos.
— O judô vem da cultura oriental que preza muito pela gentileza, concentração, disciplina nas ações e reações. Nossa ideia é aplicar de forma mais lúdica o exercício, agregando valores morais e disciplina. Em um ou dois meses, já é possível ver uma diferença que acaba refletindo no comportamento deles na escola e em casa — relata o professor.
Estudo
Rodrigo foi atleta de nível regional, faz doutorado e é árbitro da Federação Gaúcha de Judô. Além do trabalho na Escola Wenceslau Fontoura, é coordenador pedagógico do projeto Bugre Lucena, desenvolvido pela Escola Superior de Educação Física (Esef) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A iniciativa promove a inclusão social por intermédio do judô para crianças de escolas públicas e deficientes visuais com o ensino e a prática de atividades de combate.
Os alunos da escola que mais se interessam e se destacam na modalidade são convidados a participar do projeto de extensão oferecido pela universidade.
Ampliação
O intercâmbio “Judô nas Escolas Públicas do Brasil” foi aberto para professores da rede pública e recebeu 47 inscritos de todo o país, sendo que 10 foram selecionados. Durante um mês, Rodrigo ficará em Tóquio e Tsukuba, aprendendo novos métodos e orientações que poderão ser aplicadas em sala de aula.
— A ideia que se tem é que no Japão é tudo muito rígido, mas eles têm uma proposta para trabalhar o judô diferente do viés competitivo. O judô faz parte do currículo escolar do Japão. Nós vamos para observar os procedimentos que eles utilizam lá e ver o que a gente consegue adaptar e trazer para realidade brasileira — destaca o professor.
Se sonhar ainda não custa nada, Rodrigo almeja grande. Quer duplicar o número de alunos atendidos e tornar a escola um núcleo de judô na região. A proposta é que as aulas possam ser oferecidas para alunos de outras instituições próximas.