A cidade de Bagé, na Região da Campanha gaúcha, tem duas instituições municipais funcionando no modelo cívico-militar desde segunda-feira (9) no modelo proposto pelo governo federal para funcionar a partir de 2020, a fim de mostrar como a novidade está sendo recebida pela comunidade escolar.
Entre os 200 alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. João Severiano da Fonseca, no bairro Castro Alves, em Bagé, a direção sustenta que apenas uma família teria retirado o filho da escola por não concordar com o modelo de ensino em fase de testes. Uma desistência, conforme o diretor, também ocorreu na Escola Municipal Cívico-Militar de Ensino Fundamental São Pedro, no bairro Getúlio Vargas, em Bagé. A maioria dos pais, porém, vibrou com a chegada dos militares às duas escolas do município.
Nas três reuniões realizadas pela São Pedro, na manhã da quinta-feira (12), com os responsáveis pelos estudantes dos anos finais, a principal pergunta era se a escola poderia ter Ensino Médio para que os alunos pudessem permanecer na instituição.
Militar por seis anos na oitava brigada de infantaria motorizada pela polícia do Exército, atualmente vigilante e presidente do Conselho de Pais e Mestres (CPM) da São Pedro, Carlos Lívio Machado da Silva, 48 anos, é pai de uma aluna da quinta série da escola e celebrou a chegada dos instrutores.
— Não vejo algo melhor do que isso que vai ocorrer em Bagé. Hoje, a gente sabe que os valores estão invertidos, o professor tem que respeitar o aluno, assim como o pai tem que respeitar o filho. Não era assim na minha época. Fui militar e não tem nada melhor do que a disciplina, o respeito e a educação — explana Silva.
Animada, a filha dele, Maria Eduarda, 11 anos, conta os dias para ingressar no sexto ano. A menina sonha em se tornar médica militar.
— Espero que a escola cívico-militar seja incrível! Como o meu pai disse, eu quero ser militar porque eu adoro o 7 de setembro — comenta a guria.
Mãe de Otávio Augusto, 11 anos, do sexto ano, e de Louise, 13 anos, do oitavo, a dona de casa Patrícia Dias, 41 anos, estava entusiasmada com a possibilidade de ver os filhos estudando numa escola com padrões militares.
— Estou muito feliz porque é uma oportunidade para as crianças. Vai mudar o comportamento deles convivendo com os militares — acredita.
Já a filha não demonstrou tanto entusiasmo com a ideia:
— É mais rígido. Hoje, já foi por ordem de tamanho. Vamos ter que cantar o hino toda segunda-feira. Já cantávamos, mas alguns não. Agora, vão pegar no pé com isso. Fazer o que, né?
"Querem evitar o contato dos pais com a parte interna"
Apesar de o diretor garantir que os pais aprovaram o modelo cívico-militar, há famílias que discordam e não falam abertamente por temerem represália e também quem seja contra o sistema em implantação. Mãe de uma aluna do primeiro ano e de um aluno do nono, a dona de casa Vanderléa Moreira Cardoso, 41 anos, pretende tirar a filha da escola no final deste semestre. Inconformada com a mudança em meio ao ano letivo, ela procurou a Secretaria Municipal de Educação para expor a situação.
— Teve uma reunião com os pais onde informaram que fariam dez mudanças e a secretária me garantiu que seria só no ano que vem. Mas já começou. Já estavam ensinando a marchar na Educação Física, por exemplo, e agora não permitem mais aos pais ficarem com os filhos pequenos no pátio até a entrada. Querem evitar o contato dos pais com a parte interna, contrariando um pedido dos professores para os pais estarem mais presentes dentro da escola. Não preciso de um militar para educar o meu filho, pois ele tem educação em casa. Parece que quem não deu educação em casa é que agora está comemorando a ajuda — reclama.
Assim como Vanderléa, a jornalista Sabrina Lehmann, 41 anos, mãe de um aluno do nono ano, também é contra o modelo. Na audiência pública sobre as alterações, Sabrina chegou a ser vaiada por outros pais por expor o seu pensamento contrário à decisão do município.
— Perguntei à Secretária se existia algum estudo científico que me comprovasse qual a relação ensino pedagógica no corte de cabelo, e ela não me respondeu. Se me provassem que o corte curto ou comprido influencia diretamente no desenvolvimento escolar da criança, certamente, eu cortaria o cabelo do meu filho. Mas ele tem excelentes notas, ótimo comportamento e foi aluno destaque. Meu filho é cabeludo e vai continuar assim. Ele usa brinco, e fui eu quem furei a orelha dele — diz Sabrina, que ainda destaca:
— Vejo a educação como um conjunto família e escola. Tem que se perguntar aos pais que concordam com a militarização que tipo de aluno estão entregando à escola. Esta verticalização imposta pelo militarismo para quem não aceita regras é boa, mas eu acho que tenho que ter a opção de escolha. Acredito na horizontalização, na ampliação dos horizontes, acho que os pais pecam na permissividade dos filhos e este é o resultado: alunos agressivos e mal-educados. Os filhos são um reflexo dos pais — diz Sabrina.