Alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de outras instituições de ensino de Porto Alegre se juntaram nesta quarta-feira (15) aos protestos contra o corte de verbas promovido pelo governo de Jair Bolsonaro. Na Capital, o ato ganhou força por volta das 14h, quando alunos, professores e outros integrantes da mobilização realizaram um abraço simbólico no Instituto de Educação General Flores da Cunha, no bairro Farroupilha, na área central da cidade.
Após esse movimento, os manifestantes saíram em caminhada pelas principais ruas e avenidas do Centro, gritando palavras de ordem contra as medidas do governo federal.
— Ô presidente, presta atenção. Balbúrdia é cortar da Educação — era uma das principais frases entoadas.
A fala é uma referência a posicionamento recente do ministro da Educação. No fim de abril, Abraham Weintraub afirmou que o MEC vai cortar verba de universidades que fazem “balbúrdia”.
Um manifestante carregava de um lado para o outro um boneco inspirado no comandante do MEC. Um cartaz com a frase “Ministro da falta de Educação” estava colado na peça.
Durante a passeata, parte dos motoristas reclamavam dos bloqueios no trânsito. Alguns moradores da região e trabalhadores gritavam em apoio aos manifestantes, acenando do alto de prédios. Uma mulher usou a janela de um edifício para mostrar um cartaz com a frase “Tira a mão do meu IF (Instituto Federal)”. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e a Brigada Militar acompanharam a marcha.
O professor de Educação Física Araton Cardoso, 34 anos, afirmou que atos nesses moldes são importantes diante da falta de diálogo por parte do governo federal e podem garantir um recuo da União em relação aos cortes.
— Considerando que mais de 90% da pesquisa no Brasil é produzida em universidades públicas, é de se pensar qual o objetivo desse movimento de enfraquecer a produção de conhecimento. Se não for por meio desses atos, dificilmente vamos conseguir transformar essa situação, porque o governo não abre espaço para o diálogo.
No entendimento da psicopedagoga Elaine Milmann, 56 anos, quando o governo promove cortes em áreas como cultura e educação, está dificultando o acesso da população a bens básicos.
— Enfraquecer a universidade é enfraquecer a população. É enfraquecer a formação de um povo — afirmou.
Além da redução de verba na Educação, o protesto também teve a Reforma da Previdência do atual governo como um dos principais alvos. Uma das paradas da caminhada ocorreu ao lado do prédio da Previdência Social, nas proximidades da Avenida Júlio de Castilhos. No local, manifestantes em um carro de som criticavam a proposta da União, defendendo que a PEC ataca os direitos dos trabalhadores.
A passeata teve outra pausa na Esquina Democrática. No local, diversos participantes do ato se revezaram no microfone do carro de som, discursando ou puxando palavras de ordem. Líderes e representantes de entidades sindicais, como CUT, Cpers e CTB, e políticos também marcaram presença. Cartazes com as frases “Balbúrdias são os cortes” e “Fora Bolsonaro” pintavam o cenário da mobilização.
— Nós não vamos deixar (esse governo) acabar com a Educação. Vamos mostrar quem somos. Não vamos deixar assaltarem o Brasil — disse o ex-deputado estadual Pedro Ruas.
Em seguida, a marcha seguiu em direção à Faculdade de Educação da UFRGS, na Avenida Paulo Gama, onde os organizadores do evento agradeceram a participação do público e encerram o ato, por volta das 18h.
Parte do grupo seguiu novamente para a Esquina Democrática, onde um novo ato foi realizado. Por volta das 18h, diversos grupos se reuniram na Esquina Democracia, no centro de Porto Alegre. Acompanhados de dois carros de som, os manifestantes se deslocaram pela Demétrio Ribeiro e José do Patrocínio até a Loureiro da Silva, em frente ao Largo Zumbi dos Palmares – onde permanecem fazendo bloqueio na via.
Ao contrário do período da manhã, quando a Brigada Militar usou bombas de efeito moral para dispersar estudantes durante mobilização na UFRGS, não foram registrados embates ou confusão durante a tarde. Até as 20h, segundo o comando do 9º Batalhão da Brigada Militar (BPM), não havia registro de incidentes.
Por vezes, o grupo recebeu apoio de moradores ao longo do caminho, que piscavam as luzes dos apartamentos. No percurso, entoavam cânticos contrários aos cortes e a reforma da Previdência.
A estudante de ciências Sociais da UFRGS, Bárbara Gabriela Oliveira, 24 anos, que esteve também no protesto na Faced, mais cedo, acompanha o ato com um cartaz que faz referência a mãe e aos irmãos. “A primeira da família no Ensino Superior”, diz o papel.
Nascida em Vitória da Conquista, na Bahia, ela mora há cerca de dois anos em Porto Alegre, na Casa do Estudante, quando conseguiu ingresso na universidade. Na família, incentivou a mãe, artesã, a concluir o Ensino Médio, e fez o mesmo com o caçula dos cinco irmãos – os demais pararam no Fundamental.
— Eles começaram a trabalhar e o estudo fica mais distante. Hoje, depois de muita conversa, eles entendem mais a importância disso — diz.
Bárbara conta que pretende fazer mestrado no Sul e voltar para dar aulas no Nordeste. Hoje, é bolsista do Cnpq.
— Com esses cortes, esse sonho vai acabar. E ele não é só meu, é da nossa família. Quero que sejam muitas ainda as primeiras a entrar na universidade.
A Secretaria Estadual da Educação (Seduc), com base em dados parciais, informou que, das 248 escolas estaduais de Porto Alegre, 44 ficaram paradas, 43 funcionaram parcialmente e 63 mantiveram as atividades normalmente. Balanço sobre a adesão em todo o Estado não foi divulgado até 20h30min.
Nesta tarde, enquanto ocorriam os protestos por todo o país, o ministro da Educação passou por sabatina na Câmara dos Deputados. A apresentação dele em comissão geral, definida por convocação na terça-feira, encerrou-se por volta de 21h desta quarta-feira.