Por Wilson Engelmann
Coordenador do Mestrado em Direito da Empresa e dos Negócios, professor da Unisinos. Este texto integra a seção Horizontes, um espaço para discutir ideias e pesquisas, no mercado e nas universidades, que nos fazem vislumbrar um futuro cada vez mais próximo.
O século 21 é marcado pela emergência de diversas novas tecnologias, como as nanotecnologias, possibilidades da impressão 3D, drones, inteligência artificial, biotecnologia, internet das coisas e outras, geradas pelo aumento da condição tecnológica-humana de produzir novos materiais e com novas e, muitas vezes, desconhecidas características. Aqui se destacam as possibilidades geradas pelo uso da Inteligência Artificial (IA) na advocacia. Você já pensou em conversar com um robô, contando-lhe um problema pessoal e esperando que ele apresente uma resposta jurídica? Pois é. Isso poderia ser apenas possível em filmes de ficção científica, há algum tempo. No entanto, nos dias de hoje, tal situação é possível. Mas o que vem a ser IA?
Não existe uma definição aceita por todos, mas se poderá dizer que trata-se de um ou mais sistemas, vinculados a sistemas informatizados, que têm condições de resolver problemas simples e complexos. Os cientistas que lidam com esse setor conseguem desenvolver algoritmos, que enviam comandos eletrônicos entre si. A partir do acesso a conteúdos que estão digitalizados, o robô, que tem a inteligência artificial, terá condições de responder perguntas – uma consulta sua de um problema jurídico, por exemplo –, pesquisar em livros e revistas, procurar outras decisões judiciais anteriores, trazendo dados e informações que um advogado humano levaria muito tempo para fazer. Isso parece ser bom, não?
De certo modo, sim. Contudo, esse trabalho braçal é desenvolvido por estagiários – alunos que ainda estão estudando nas faculdades de Direito – e advogados recém-ingressados na carreira. Assim, em um primeiro momento, poderá ocorrer desemprego. Aqui deverá acender uma luz amarela, de atenção, especialmente para os estudantes de Direito. Será preciso se preparar para ingressar nesse cenário, que já é de alta competitividade, dado o número elevado de formandos que terminam o curso a cada semestre. E quem já está no mercado da advocacia deverá continuar estudando para se preparar para esses desafios. Será preciso colocar em prática a seguinte orientação: um profissional, para manter-se no mercado de trabalho, deverá ser um eterno estudante.
Os humanos estão produzindo problemas cada vez mais difíceis de serem resolvidos. Por conta disso, o estudante e o advogado deverão buscar conhecer os diversos ramos do Direito, não isoladamente, mas de modo interligado. Não será uma área do Direito que, na maioria das vezes, resolve um problema. Por isso, será preciso ter competências para interligar diversas áreas do Direito, sem esquecer de fazer conexões com outras áreas do conhecimento.
Um profissional do Direito sozinho não conseguirá resolver os problemas que estão surgindo na sociedade. Além disso, o uso da IA resolve problemas de modo muito mais rápido do que o trabalho humano. O advogado que não prestar atenção para esses detalhes corre um sério risco de ser substituído pela automatização do trabalho dos robôs. Será preciso conhecer muito bem o Direito brasileiro, sem descuidar do Direito estrangeiro. Nele, muitas vezes, poderão estar os caminhos para resolver problemas aqui no país. Será preciso conhecer, além de diversas áreas do Direito, de economia, de política, de estatística, de tecnologia da informação, metodologia da pesquisa, inovação e empreendedorismo.
Além desse conhecimento, o advogado precisará desenvolver e fortalecer habilidades socioemocionais, como empatia, resiliência, adaptabilidade, condições de aprender por conta própria, aprender fazendo, ter curiosidade para buscar sempre novas soluções para os problemas que os clientes trazem, ser colaborativo, trabalhar em equipe e ter condições de se comunicar com o seu cliente em linguagem acessível ao leigo. Tudo isso sem perder de vista o seguinte detalhe: cada advogado trabalha para o bem-estar da pessoa do seu cliente. Dessa forma, será preciso estruturar competências para formular perguntas, que, no geral, são muito mais importantes do que as respostas. Isso será possível por meio da pesquisa científica. Esse é o caminho para se preparar ainda mais para o mundo da advocacia perpassado pela IA.