Por Diego Marconatto
Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração e da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos. O texto a seguir integra a seção Horizontes, um espaço para discutir ideias e pesquisas que nos fazem vislumbrar um futuro cada vez mais próximo. Semanalmente no caderno DOC.
Os negócios construíram o passado, são os senhores do presente e a locomotiva que nos levará para o futuro. Gostemos ou não, não há novidade e nem dúvidas quanto a isso. Hoje, o nosso modo de vida, a maneira como nos relacionamos com amigos, nossas expectativas, temores e sonhos, e até o nosso ativismo político são modulados pelas empresas. Pare por um minuto e imagine seu cotidiano sem energia elétrica, água corrente, pasta dental, sabonete, tênis, shampoo, avião, internet, Facebook, WhatsApp...
Raras são as pessoas que têm a noção exata do tamanho do impacto dos negócios na sua vida e no mundo. Basta conhecer um pouco de história para saber que eles duplicaram nosso tempo de vida, reduziram brutalmente a pobreza global e ampliaram a nossa liberdade a níveis inimagináveis. Os negócios formaram a principal alavanca civilizacional que transformou a escravidão e o trabalho infantil, entre outras graves mazelas, de norma comum em exceções abjetas.
Enfim, os negócios, impulsionados pela ética cristã e pela alta cultura, empurraram a humanidade da barbárie para o que chamamos de civilização. Hoje, eles são virtualmente onipresentes. Exceto pelos elementos naturais, tudo, absolutamente tudo o que está a sua volta é produto de alguma atividade empresarial. De fato, a multidão de produtos, serviços e tecnologias que tornam sua vida mais longa e mais fácil – e, algumas vezes, mais difícil – só existe porque existem os negócios.
E agora os termos da moda são startup, big data, computação cognitiva, internet das coisas, empresas exponenciais, modelos de negócio colaborativos e sustentabilidade. São as dores do parto de uma nova revolução que vem aí, muito maior do que a Industrial e tão grande quanto à internet em si mesma. Saiba, por exemplo, que o volume de informações coletado e analisado por gigantes globais, como o Facebook, com seus inacreditáveis 2,2 bilhões de usuários (quase um terço de toda a humanidade), e o Google, onde mais de 3,5 bilhões de buscas diárias são feitas, permite que eles realmente saibam mais sobre as nossas vidas do que nós mesmos.
Não, não torça a cara e diga que isso é um exagero. Você estará mentindo para si mesmo. A quantidade estonteante de dados absorvida por uma enorme capacidade computacional e analisada a partir de métodos estatísticos avançados é capaz de predizer uma série enorme de eventos da sua vida com um grau muito alto de acerto. Por anos, você vem produzindo montanhas de informação sobre você mesmo ao usar as redes sociais, o cartão de crédito e o celular, para ficar apenas em alguns itens. Agora, ao cruzar esses dados, grandes empresas sabem qual é a probabilidade de você se casar, se divorciar, quebrar sua empresa, mudar de trabalho ou morrer nos próximos anos. Por que você acha que o Facebook pagou a bagatela de US$ 19 bilhões por uma empresa minúscula que não produzia – e ainda não produz – um único dólar de receita? Pagou porque os 1,3 bilhão de usuários do WhatsApp produzem algo muito mais valioso no mundo de hoje: informação.
Sim, às vezes parece que as grandes corporações estão nos encaminhando para uma distopia orwelliana. A mobilização da tecnologia pelo Estado totalitário chinês e previsões como as do fundador da Tesla, uma das empresas mais inovadoras do mundo, fazem aumentar o medo. Elon Musk diz que o uso intensivo da robotização, turbinada pela inteligência artificial, produzirá um desemprego global de proporções inimagináveis. Ele chega a cogitar a criação de uma espécie de "Bolsa Família global" para sustentar um mundo ultrapassado pelas suas criações – uma ideia que, na humilde opinião do autor deste artigo, terminaria em desastre.
Educação, saúde, transporte, segurança, entretenimento... Não há fim para a lista de setores, indústrias e, consequentemente, aspectos da nossa vida que virarão de cabeça para baixo nos próximos anos. Sem sombra de dúvida, serão os países mais empreendedores e inovadores e mais receptivos à livre atividade econômica que liderarão essas transformações. Serão eles a definirem o modo como eu e você viveremos nas próximas décadas. Por quê? Porque dominam a arte dos negócios e produzem as grandes inovações a partir de pesquisa intensiva. Mas não estamos falando de pesquisa de gabinete: as pesquisas frutíferas, transformadoras, são aquelas que produzem novas tecnologias, produtos, serviços e modelos de negócio.
Se nós, brasileiros, quisermos ter algum protagonismo, mesmo que pequeno, na criação do nosso mundo, e não sermos apenas espectadores passivos na construção da nossa realidade, precisaremos urgentemente de mais pesquisa e mais negócios.