O consultor de carreiras Max Gehringer, famoso pelos conselhos dados a brasileiros no programa Fantástico, da Rede Globo, e na rádio CBN, não gosta de nada complicado: rejeita palavras com mais de três sílabas, como sustentabilidade, empregabilidade, downsizing ou empoderamento — “palavras que você puxa até ficarem ridículas”.
Não é rejeição ao novo, garante. É que, para ele, a comunicação não deve ser feita para impressionar, mas para se fazer entender. Além disso, diz que o jovem não deve priorizar a faculdade em detrimento do Ensino Técnico, alternativa rejeitada por grande parte da sociedade brasileira.
— O curso técnico foi ignorado na última década. Tem gente com 21 anos com faculdade e desempregada. Enquanto isso, pessoas com menos estudo, mas mais experiência, têm emprego. Por falta de mecânico, as empresas precisam montar um Senai. Hoje, é mais fácil achar um advogado do que um encanador — diz.
De passagem por Porto Alegre para abrir a 13º Feira das Oportunidades do Senac-RS, evento que deve capacitar mais de 100 mil pessoas ao longo de uma semana, Max ministrou uma palestra na noite de segunda-feira (7) para um Auditório Araújo Vianna, na Capital, quase lotado (a capacidade total é de 3 mil pessoas). Bem-humorado, arrancou risadas da plateia com um jeito de falar simples, direto, sem floreios e autodepreciativo. Ao mesmo tempo, também teceu críticas à formação dos jovens.
— Hoje, os professores não podem divulgar publicamente as notas dos alunos para ninguém saber quem são os melhores e os piores da turma – e assim evitar a humilhação. Professor não pode corrigir trabalho com caneta vermelha, senão choca. Quando essa geração ingressa no mercado de trabalho, tem um choque: desde o primeiro dia, já se sabe quem são os melhores e os piores. E quem não melhora, cai fora — observa.
Abaixo, confira reflexões compartilhadas por ele com o público durante a palestra de segunda à noite e com jornalistas, em entrevista coletiva antes do evento.
Considere realizar um curso técnico
Max diz que o desemprego atinge de forma mais intensa quem tem até 25 anos – aqueles qualificados academicamente, com graduação, idiomas e intercâmbio. Enquanto isso, há demanda forte por profissionais técnicos, como mecânicos, marceneiros e eletricistas, profissionais que começam a trabalhar desde cedo e, aos 25 anos, já têm grande experiência.
— Faça um curso técnico, não faça faculdade direto. Faltam técnicos no Brasil. Não é que você não deve fazer faculdade. Você pode até fazer 10 depois. Mas as coisas têm um encadeamento. Hoje, a categoria com mais desemprego é a de jovem entre 18 e 25 anos com curso superior e que nunca trabalhou. Para enfrentar isso, é preciso trabalhar desde os 16. Não adianta ter bagagem teórica e não ter experiência. Começando cedo, o jovem entende o que é chefe, hierarquia, convivência com colega, trabalhar ao lado de colega que não passa desodorante — diz, brincando.
Seja humilde
É quase uma piada ver um jovem de 20 anos com um ano de empresa pedir promoção, diz o consultor de gestão empresarial. Max critica os mais jovens pela pressa em crescer na carreira e diz que é preciso observar como o ambiente funciona.
— Em 1980, ter um diploma era diferencial. Em 1990, a faculdade deixou de ser cara, então todo mundo começou a fazer. Agora, há pessoas que são as primeiras da família a ter curso superior. A pessoa se forma e acha que imediatamente tem que acontecer alguma coisa. Mas o mundo tem um ritmo e sempre terá — observa.
Aceite a nova geração
Os mais jovens são o futuro da força de trabalho. Aos gestores mais velhos, cabe lidar com as peculiaridades e potencialidades dos empregados mais novos.
— Eles (jovens) sabem mais do que nós. Nós não esquecemos o que sabemos, mas temos que entender como esse novo mundo deles trará bons resultados para as empresas. É uma geração que já nasce sabendo fazer tudo. Não adianta, na entrevista de emprego, pedir para eles preencherem uma planilha. Faz mais sentido pedir para darem um jeito de programarem uma coisa para melhorar a tarefa — brinca.
Plano de carreira X Nova geração
Max diz que há um sentimento de urgência a pautar os jovens e que o plano de carreira de longo prazo não dialoga mais com a nova geração. É preciso oferecer algo além do salário, mais a oportunidade de, em um breve prazo, algo positivo ocorrer.
— Se isso não acontecer, em seis meses o jovem muda de emprego. A expectativa é de que, se começou a trabalhar aos 18, aos 20 deveria ser gerente. Não existe mais plano de carreira de cinco anos, tem que ser mais imediato. Pode prometer pagar um curso, por exemplo — cita o consultor.
Comunique-se bem
Em vários momentos da palestra, Max salientou a importância de comunicar-se bem e usar o português não só na expressão, mas para se relacionar com os colegas. Opte sempre pela simplicidade. Max diz que uma das chaves de seu próprio sucesso profissional foi perceber que falta aos profissionais a habilidade de comunicação.
— Resolve-se a carreira não falando inglês, mas falando português: argumentando, conversando, pedindo desculpas, apresentando-se em público. É isso que nos leva para frente. As pessoas não querem complicação. Fale fácil — afirmou.
Inove sem ser mirabolante
A criatividade deve ser expressa na realidade em que você atua, diz Max. Não é preciso criar um produto novo ou uma ideia revolucionária, mas algo que, mesmo pequeno, gere um impacto positivo no ambiente.
— Como você faz o seu trabalho com menos risco, menos custo, mais rapidez e mais segurança? Se você descobrir uma forma de acabar com o seu trabalho porque ele é desnecessário, fique tranquilo: nós te damos um prêmio e arranjamos um trabalho melhor para você. Fazemos muita coisa que, na verdade, é desnecessária — diz.
Mudança de emprego
Max diz que há três fatores a se considerar na hora de trocar de emprego: remuneração, oportunidades e ambiente. Mudar por apenas um (dos fatores) é bobagem, por dois, é uma opção, pelos três é a coisa certa a se fazer.
— Um grande erro é mudar somente por salário: dois meses depois, a insatisfação vem — diz.
Na hora da seleção
Para Max, o recrutador, ao selecionar candidatos, deve ter em mente: como o funcionário contratado vai melhorar o ambiente? Quanto ao perfil, ele diz que sempre contratou pessoas com potencial que fossem “10% abaixo da vaga”: uma forma de retê-las.
— Aí, pagamos cursos, qualificamos e ela vai achar o melhor emprego do mundo. Ainda por cima, vai fazer boa propaganda boca a boca da empresa — diz.
Não compre briga com o seu chefe
Se há um grande erro na carreira, diz Max, é comprar briga com quem pode prejudicar você na empresa. Isso mesmo, é o seu chefe.
— Nunca crie atritos com qualquer pessoa que pode tomar decisões que te prejudiquem. E, ao criticar seu chefe, você também critica a pessoa que o indicou para a vaga e que aprovou a indicação. Ou seja, de uma só vez, critica várias pessoas em cascata — analisa.
Mais terceirizados do que funcionários
Após a reforma trabalhista, Max brinca que haverá uma hora em que existirão mais terceirizados do que funcionários contratados por empresas. Ele destaca que, “claramente”, a terceirização foi favorável às empresas e complicada para os empregados que vislumbravam em uma vaga a oportunidade de sua carreira. No entanto, ele diz que as mudanças não fazem tão mal aos mais jovens.
— Esse pessoal não tem problema em ser terceirizado e não criar vínculo. Em seis meses, a gente não cria vínculo suficiente para dizer que quer morrer ali. Para quem tem oito anos de carreira e 17 empregos, tanto faz ser empregado ou terceirizado. A diferença é que o terceirizado precisa aprender mais economia do que quem tem salário efetivo, porque pode estar empregado ou não. E tem que agir diferente: não pode falar mal do chefe, do colega, do banheiro — reflete.
Empreendedorismo pode ser a saída
O conselho do consultor de gestão empresarial é enfático: o empreendedorismo é a carreira do século 21. Um dos argumentos levantados é de que não há emprego para todos e, com o avanço das tecnologias, haverá cada vez menos. No entanto, abrir a própria empresa pode ser a saída.
— Todo mundo é melhor do que a média das pessoas em alguma coisa, e é isso que se deve perseguir e estudar. É o talento que a família e os amigos sempre elogiaram. Ninguém pode garantir onde um empregado estará em cinco anos. Mas um empresário tem mais chances — diz.
Os setores com potencial
Max diz que o Brasil teve sucesso em formar bons funcionários, mas ainda não teve sucesso em formar, de forma massiva, empreendedores. Como nichos com potencial, ele cita farmácias, lotéricas e pet shops.
O ideal é não empreender sozinho – em dois ou três, um ajuda a cobrir os defeitos e pontos fracos do outro.
— Quando vendedor e empreendedor muito bons se juntam, dá certo, porque juntos preenchem suas lacunas — diz.