Segundo o próprio site do WhatsApp, mais de 1 bilhão de pessoas, espalhadas por mais de 180 países, usam o aplicativo de mensagens para manter contato instantaneamente com amigos e familiares. Mas, como diz o ditado, "tudo em excesso faz mal". E o uso demasiado dos celulares, principalmente pelos jovens, tem se tornado cada vez mais um desafio para quem convive com essa galera e precisa prender a atenção deles: os professores.
– Numa sala de aula, se o aluno não está se sentindo atraído pela fala do professor, rapidamente ele encontra um ponto de fuga no seu telefone, conversando com amigos ou navegando nas redes sociais – pontua Cíntia Inês Boll, doutora e pesquisadora em tecnologia móvel e também professora da Faculdade de Educação da Ufrgs.
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Para ela, que trabalha desde 2006 com cursos presenciais e a distância, a tecnologia e o uso dos celulares em sala de aula não deve mais ser tratado como algo proibido ou negativo, mas sim como um parceiro na hora de aprender. A professora pontua que a oportunidade dos alunos se unirem em um grupo para comunicar-se instantaneamente pode ser muito positiva se o professor conseguir estar nesse meio.
Um dos medos é que os alunos se dispersem e não levem a sério a ideia de trabalhar com o aplicativo, mas Cíntia garante que, quando o tutor consegue prender o interesse do aluno, a participação responsável e com seriedade é sempre possível.
Na prática, tarefas que valem nota
O grande desafio é fazer com que os jovens entendam que podem tornar o WhatsApp um meio para compartilhar conhecimento. E essa tarefa, a professora Débora Cristina Schilling Machry exerce com boa parcela de sucesso há três anos. Docente de ciências da rede pública municipal de São Leopoldo, ela conta orgulhosa como conseguiu fazer do WhatsApp um ponto de encontro para estudos entre os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Barão do Rio Branco.
Em 2014, quando começou a escrever artigos para um jornal da cidade, a professora criou um grupo no aplicativo no qual publicava fotos dos textos e pedia que os alunos dissertassem sobre no próprio grupo, valendo nota. A gurizada abraçou a ideia, e logo o grupo que era só do sexto ano foi ganhando novos irmãos. Hoje, a professora administra mais de 20 grupos das turmas do sexto ao nono ano da escola.
– Depende muito do interesse dos alunos, mas, quando dá certo, é um sucesso. Eu digo que sou só administradora, mas quem regula o grupo são eles. Eles compartilham conhecimento ilimitado – conta Débora.
Outro ponto é a curiosidade dos pais e o interesse deles em contribuir. A professora permite a participação de responsáveis nos grupos para que eles tenham noção de que tudo o que acontece ali é relacionado ao aprendizado.
Entre os projetos feitos pelo WhatsApp dos quais se orgulha, a professora de São Léo lembra de um trabalho em que os alunos deveriam criar contos aplicando conceitos da Física. O interesse foi tanto que os contos criados no grupo se transformaram em vídeos produzidos pelos alunos e que serão publicados em um canal no YouTube, futuramente.
O papel de cada um
Veja como se envolver em projetos que usam o WhatsApp vinculado à educação.
Professores
– Trabalhar junto à direção da escola a reavaliação dos planos pedagógicos para introduzir em etapas o uso de aplicativos como forma de complementar de ensino.
– Apresentar trabalhos que estimulem e provoquem os alunos a se organizarem em busca do conhecimento, para depois compartilharem isso com os colegas por meio do WhatsApp.
– Trabalhar o uso da tecnologia como um ambiente formador complementar, mostrando que o aprendizado pode ir além da sala de aula.
– Mostrar aos alunos a possibilidade de estarem permanentemente conectados com esse ambiente de conhecimento e estimulá-los a compartilhar o que aprendem.
Alunos
– Participar das atividades propostas com o mesmo empenho praticado na sala de aula.
– Não desestimular os colegas que não se sentem bem com a formação dos grupos, mas sim gerar assunto em torno do tema para que se sintam atraídos.
– Respeitar e tratar os grupos como um espaço complementar ao da escola.
Responsáveis
– Mostrar às crianças e aos adolescentes como fazer o uso consciente do celular.
– Dar o exemplo de como os aplicativos podem ter uma utilidade que vai além da simples troca de mensagens.
– Fiscalizar o uso feito pelas crianças. Participar dos grupos também como modo de desestimular o compartilhamento de conteúdos que não tenham ligação com o ambiente de aprendizado.
– Não representar uma figura incisiva, autoritária, mas sim trabalhar como um parceiro responsável por ajudar nessa jornada.
– Nunca deixar o celular substituir as relações pessoais, de família, amizade ou relação. Estimular a convivência social no mundo real.
Fontes: Cíntia Inês Boll, doutora e pesquisadora em tecnologia móvel e professora da Faculdade de Educação da Ufrgs, e Débora Schilling Machry, professora da rede municipal de ensino de São Leopoldo.
Produção: Alberi Neto