Resistir à escola, na infância, não é uma coisa muito incomum. Mas o norte-americano Dale J. Stephens foi além: encontrou sua turma em um grupo de pessoas contrárias ao ensino regular e, aos 12 anos, convenceu os pais de que podia aprender fora da sala de aula. Hoje, aos 23 anos, vive em São Francisco, na Califórnia, mas quase não para em casa. Criador do UnCollege, movimento que defende que a faculdade não é o único caminho para ser bem-sucedido, tornou-se um expert em educação, e é requisitado para palestras e conferências sobre o tema ao redor do mundo.
Zero Hora entrevistou Stephens por e-mail. Confira abaixo.
Leia mais:
Conheça carreiras que não exigem faculdade
Jovens trilham caminho profissional mesmo sem diploma
Você deixou a escola aos 12 anos. Imagino que seus pais não tenham gostado da ideia. Como foi?
Quando eu tinha 11 anos, disse aos meus pais que não queria mais ir à escola, e eles riram de mim. Quem quer ir à escola na quinta série, afinal? Minha mãe foi professora de escola pública por um tempo, e ela via o colégio como um equalizador social, uma oportunidade de ir além. Meu pai, um engenheiro muito lógico, não amava a ideia de me ver deixando a escola para trás também. Então, eu vi um anúncio no jornal local para um Not Back to Shool Night (negação ao Back to School Night, tradicional evento do calendário escolar norte-americano), criado por unschoolers (termo em inglês para designar pessoas que são contrarias à formação acadêmica) da minha cidade (é natural de Winters, na Califórnia). Conhecer esses unschoolers provou aos meus pais que eu realmente poderia aprender.
Como você define seu trabalho?
Eu acredito que, por liderar o UnCollege, estou à frente de um movimento social de mudança da ideia de que a faculdade é o único caminho para o sucesso.
Você trabalha com educação, mas, de certa forma, critica a universidade. Acha que sua postura é contraditória?
Eu fundei o UnColegge.org para transformar o Ensino Superior. Nós fazemos isso por meio de parcerias com faculdades e universidades, para fazer um primeiro ano experimental, baseado no nosso programa Gap Year, focado em desenvolvimento de uma aprendizagem auto-dirigida, com duração de um ano, que inclui cursos, palestras, viagem ao Exterior, trabalho em uma empresa e desenvolvimento de um projeto pessoal.
Para você, qual é o problema da universidade tradicional?
Os principais problemas com a educação em geral são que, em primeiro lugar, o sistema é construído inteiramente sobre motivações externas das pessoas. Em segundo lugar, ele é um sistema compulsório. A escola deveria ser opcional, mas ela deveria ser tão maravilhosa que todas as crianças iam querer frequentá-la. Na escola primária, as crianças são agrupadas por idade, não por maturidade ou nível de aprendizado, e os professores não são vistos da melhor maneira. O Ensino Superior não é responsável. As entradas não coincidem com as saídas. Por que eu deveria pagar por algo que não é útil? Esse tipo de ensino também não é relevante. As universidades deveriam conversar mais com a indústria para tornar o que elas ensinam relevante.
De que outras maneiras é possível adquirir conhecimento e se desenvolver profissionalmente?
Nós encorajamos os estudantes a desenvolverem uma mentalidade "hackadêmica" (o conceito é explorado em seu livro, Hackeando sua Educação, publicado pela editora Penguin), e o próprio plano de estudos dirigido. Existe uma infinidade de recursos gratuitos online, na biblioteca e em universidades. Uma vez que o estudante descobre seus talentos, chega aos mentores que podem guiá-lo em sua jornada e desenvolver uma rede de contatos.
Aqui, no Brasil, a formação acadêmica ainda é determinante para um bom emprego. Como ter sucesso sem diploma?
Isso é apenas uma coisa: quando você não tem um diploma universitário, você não se candidata a empregos. Você será encaminhado para vagas pela rede que você desenvolve. De acordo com a empresa de recursos humanos Epic Development, mais de 80% dos postos nunca são anunciados. Eles fazem parte do mercado não divulgado.
Leia mais notícias de educação