Com questões "muito boas" e "bem contextualizadas", mas "sem surpresas": foi essa a prova que 4,3 milhões de estudantes brasileiros encontraram no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. A avaliação foi feita por professores responsáveis por preparar alunos em cursos pré-vestibular consultados por Zero Hora.
Neste domingo (3), os participantes do exame responderam perguntas sobre linguagens e ciências humanas, além de escrever a redação com até 30 linhas. A segunda etapa do concurso será realizada no próximo domingo (10), quando serão aplicados os testes de matemática e ciências da natureza.
Confira abaixo a avaliação dos educadores sobre a prova:
Fernando Carlucci, professor de filosofia e sociologia do curso Fleming
- "A prova foi muito, muito técnica esse ano. Uma prova com um amplo domínio de vocabulário filosófico, com nível superior ao do ano passado. Teve coisas tradicionais que foram cobradas, como, por exemplo, Aristóteles, conceito de felicidade, mas também teve filosofia da ciência em um nível muito elevado, pedindo que os participantes entendessem um pouco de raciocínios lógicos utilizados na ciência. Além disso, que eles compreendessem o papel da linguagem na descoberta científica. A prova também apresentou alguns temas ligados à justiça social, ao feminismo, autores clássicos do feminismo também. Uma prova muito bem feita e com um grau de exigência muito alto, que vai selecionar realmente quem estava muito preparado."
Rodrigo Vasques, professor de geografia do curso Fleming
- "Uma prova muito boa, com excelente distribuição de conteúdos, abrangendo questões de geologia, geomorfologia, questões de ações de sismos, climatologia, meio ambiente, espaço urbano com gerenciamento ambiental, questões de categorias geográficas, demografia. Um estudante bem preparado não teve nenhuma dificuldade para responder as questões."
Cesar Riggo, professor de história do curso Fleming
- "Uma prova muito boa. Eu a considerei bem distribuída, predominando questões sobre cultura brasileira. Muita questão sobre a cultura brasileira, século 19, a cultura nos anos 1930, mas não vieram questões de atualidade do Brasil, como questões de ditadura, nova república. Foram questões que caíram dentro do esperado, mas eu estranhei apenas que essas questões de atualidade do Brasil, que caíram bastante na prova de 2023, não vieram nessa. Então, gostei da prova. Duas questões sobre a história da América, no período da conquista espanhola, que já vinha caindo desde 2022, e continua caindo."
Pamela Damasceno, professora de português do curso Fleming
- "A prova de linguagens aparece bem aos moldes do que era esperado e previsto. Contempla fortemente a questão de gêneros textuais que fizeram presentes na prova, reportagem, poemas, minibiografias, trechos de conto, letras de canção, resenha, fragmentos de romance, podcast, fizeram uma abordagem desses gêneros com base nos seus objetivos discursivos, características dessas composições, seus recursos expressivos. Houve também as tradicionais questões de progressão textual e estratégias de persuasão. Variedades do português brasileiro também foi um assunto que se fez fortemente presente, ele é sempre esperado. Inclusive a variedade sociocultural de grupos minoritários. Apareceu de uma forma muito tímida funções da linguagem. Temas como patrimônio cultural, constitutivo da memória e identidade da nossa cultura brasileira se fizeram presentes por meio da arte plumar indígena, produção artística afro-brasileira. Saúde mental apareceu na parte de educação física, mais uma vez o Enem bateu em cima de esporte e gênero, e uma prova que vai bem ao encontro de todas as expectativas, não houve nenhuma surpresa nesse sentido. E uma prova que vai bem ao encontro de todas as expectativas, não houve nenhuma surpresa."
Alexandre Schiavoni, professor de história e coordenador pedagógico do curso Anglo
- "Em comparação ao ano passado ou aos últimos quatro ou cinco anos anteriores, esta prova na área de (ciências) humanas está muito melhor elaborada. A prova está muito bem contextualizada, coisa que nos últimos anos se tinha perdido um pouco. Os temas foram muito acertados. Acertaram na mão. Houve uma exigência de que o estudante estivesse mais conectado com o seu tempo, com os temas gerais que estão nas agendas mundiais e brasileira: racismo, conflitos geopolíticos, postura ética frente à variadas demandas, e mais, houve um cuidado para que o grande tema das necessidades e urgências para a vida em democracia fosse refletido pelos estudantes. A prova frustra a expectativa daqueles que insistem em valorizar a abordagem técnica e conteudista dos exames, mas acerta ao retomar o espírito do Enem que é colocar os conteúdos a serviço do domínio de habilidades intelectuais, acadêmicas, reflexivas e até mesmo socioemocionais. Isto é, apresenta-se problemas que podem ser resolvidos a partir dos níveis de habilidades que o estudante possui. Foi uma excelente prova."
Cláudio Ribeiro, professor de linguagens do curso Anglo
- "Prova mais fácil do que a de anos anteriores, inclusive com alternativas mais curtas, em geral. Muitas questões com perguntas previsíveis. Houve, no entanto, desequilíbrio entre conteúdos, pois quase não abordaram tópicos de literatura."
Desafios aos estudantes gaúchos
O professor e diretor do curso Anglo, Arthur Bernd, destaca que os alunos do terceiro ano que participam do Enem 2024 tiveram que encarar dois grandes desafios nos últimos anos: pandemia e reforma do Ensino Médio. Além disso, Bernd agrega um componente de dificuldade externa adicional aos estudantes gaúchos.
— O primeiro foi encarar a pandemia nos anos de oitavo ano e nono ano de Ensino Fundamental, que é uma etapa super importante de finalização de um ciclo. Depois encararam a reforma do Ensino Médio, ou seja, pegaram uma mudança curricular bem severa, com grandes desafios e muitas dificuldades das próprias instituições de ensino em implementar essas mudanças. E agora em 2024, no nosso Estado, a questão da enchente. Então, em questão de cinco, seis anos, são estudantes que encararam grandes dificuldades.