Empossado há menos de duas semanas como secretário municipal de Educação de Porto Alegre, Maurício Cunha coordena junto à sua equipe a logística da limpeza das instituições da rede, enquanto planeja como assegurar a continuidade do ano letivo dos 46 mil alunos da rede própria e 20 mil da conveniada. Em entrevista exclusiva a GZH, ao lado da diretora pedagógica da pasta, Izabel Abianna, o gestor apresentou suas ideias para os próximos meses.
Entre as propostas, estão parcerias com a rede estadual, que serviria de referência para alunos da rede municipal e poderia ceder espaços para as aulas em caso de necessidade, e com a particular, que “adotaria” escolas do município, doando livros e materiais didáticos.
Balanço pós-enchente
Das 14 escolas municipais atingidas parcial ou totalmente pela enchente, oito já tiveram a limpeza iniciada e, em três, a faxina já tem condições para começar. Outras três, contudo, seguem isoladas pela água e ainda sem condições de cálculo dos prejuízos: a João Goulart e a Vila Elizabeth, no bairro Sarandi, e a Migrantes, no bairro São João.
Pelo menos 1.395 professores e funcionários, de um universo de 5 mil, foram afetados diretamente pela inundação. A Secretaria Municipal de Educação (Smed) realiza o mapeamento da situação da comunidade escolar, inclusive em abrigos, para entender a realidade dos estudantes.
— Na pandemia, a gente sabia onde estava o aluno e a escola estava ali. Agora, o cenário é diferente: eles estão espalhados pela cidade, principalmente os da Zona Norte, e em outras cidades e Estados. Estamos fazendo esse mapeamento e, paralelamente, já está sendo feita a oferta de atividades presenciais para quem pode ir — explica Izabel.
Devido à redução do número de professores e funcionários trabalhando, muitas instituições têm funcionado em horário reduzido, conforme sua capacidade. Atualmente, a cobrança não é exigida daqueles que não conseguem frequentar as aulas.
Reequipagem das escolas
Segundo Cunha, nesta terça-feira (4) deve ocorrer o anúncio da contratação de serviços para reequipar e reorganizar as escolas da rede própria atingidas. Serão contratados prestadores para fazer a limpeza, a pintura e obras que forem necessárias.
— Nem as portas servem mais. O piso é uma dúvida, mas talvez não sirva mais também, por uma questão de contaminação. Os brinquedos do pátio não servem mais. A areia do pátio não serve mais — descreve o secretário.
Nas escolas da rede conveniada, a forma de enfrentar a situação é outra. Quando uma instituição parceirizada é aberta, existe recurso municipal destinado a equipar esses espaços. Para evitar que esses estabelecimentos não consigam atender os estudantes, a ideia é destinar novamente esse tipo de verba, até mesmo em dobro, a depender dos estragos verificados.
Para as instituições superavitárias, outra possibilidade é liberar o dinheiro de um fundo que, normalmente, só pode ser usado para o pagamento de questões trabalhistas.
Parceria com escolas privadas
A Smed trabalha, ainda, com parcerias com o Estado e com escolas particulares. Conforme Cunha, a rede privada tem oferecido auxílio e conversas têm acontecido para se estruturar de que forma essa ajuda pode acontecer. De modo geral, uma campanha junto à sociedade civil, para doação de equipamentos e livros, está sendo planejada. Outras instituições, porém, devem ter uma participação maior nesse apoio.
— Sete escolas privadas de Porto Alegre estão reunidas e querem fazer mais um pouco: além de doações, talvez adotar escolas nossas. Foi lançado na sexta-feira (31) um site com o mapeamento das zonas alagadas e ali tu consegue acessar os equipamentos e a documentação com os valores de cada recuperação de equipamentos de saúde e educação. Eu passei esse material para essas escolas e eles estão analisando essa possibilidade — afirma o secretário.
Apoio o Estado
Outra parceria é com a rede estadual de ensino. Além de remanejar estudantes do município matriculados em escolas atingidas para outros estabelecimentos da própria rede, instituições estaduais deverão servir de referência e oferecer atividades letivas para esses alunos, a fim de evitar que eles tenham somente aulas remotas.
— Claro, a gente não vai conseguir dar conta de todos: só na (Escola Municipal) Liberato (Salzano Vieira da Cunha), são 1,4 mil alunos, e a (Escola Municipal) Antônio Giúdice está beirando os mil. Então, teremos várias estratégias. Talvez escala, então em uma semana uma escola funciona naquele espaço e, em outra semana, outra escola, para pelo menos não ficar totalmente remoto. A criança fica híbrida e consegue ter esse contato com o professor, tirar dúvidas — explica Izabel.
Conforme a diretora pedagógica, já há um retorno da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) sobre o uso de algumas salas na Zona Norte de Porto Alegre que poderiam receber estudantes da rede municipal.