A educação é uma das principais áreas afetadas pela tragédia no Rio Grande do Sul. Com bairros inteiros destruídos nas cidades que mais sofreram com as enchentes, diversas escolas ficaram debaixo d’água, e muitas ainda estão. Conforme o levantamento mais recente da Secretaria da Educação (Seduc), desta sexta-feira (10), pelo menos 976 escolas da rede estadual foram impactadas.
Algumas sofreram prejuízos na infraestrutura, outras estão servindo de abrigo ou têm problemas de acesso por conta dos alagamentos. As consequências afetam cerca de 338,7 mil estudantes, contabilizando somente a rede estadual. Isso representa boa parte da rede, que contava com 715 mil matrículas até fevereiro.
Foram prejudicadas com danos ou estragos pelo menos 444 escolas em 240 municípios, com 184,7 mil alunos matriculados, sendo que 74 instituições estão servindo como alojamento para os desabrigados. As demais foram afetadas por problemas como acesso, rede elétrica, etc. Segundo a secretária da Educação, Raquel Teixeira, essa avaliação está em andamento, como muitos locais estão inacessíveis e, com isso, ainda não foi possível dimensionar todos os danos e consequências.
— O Rio Grande do Sul está vivendo um momento catastrófico. O sistema educacional terá vários sistemas dentro de um, porque as escolas vão retornar em épocas diferentes, em dias diferentes. A primeira preocupação é garantir essa infraestrutura, mas realmente, em alguns lugares a gente ainda nem sabe quais escolas estão completamente destruídas — afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha nesta sexta-feira.
Conforme a secretária, terão de ser reconstruídas pelo menos 50 instituições de ensino, segundo o atual levantamento, conduzido pela Secretaria de Obras Públicas do RS. Conforme a Seduc, seguem suspensas por tempo indeterminado as aulas nas escolas da rede estadual em Porto Alegre, São Leopoldo, Canoas, Guaíba, Estrela, Cachoeira do Sul e Gravataí.
Escolas destruídas no Interior
Em Estrela, pelo menos oito escolas da rede municipal foram atingidas pela enchente, sendo que seis delas não poderão retomar as atividades no mesmo local. Conforme a secretária de Educação do município, Elisângela Mendes, a equipe está em busca de novos espaços provisórios para atender os estudantes.
A Emef Leo Joas é a maior escola da cidade, com mais de 500 alunos, e fica no bairro das Indústrias, um dos mais impactados pelas enchentes. A escola ficou destruída e será muito difícil a retomada das atividades.
— O bairro não existe mais, a escola não tem condição nenhuma de retornar no local. Além dos danos emocionais e estruturais, a comunidade vai perdendo suas referências. Aqui no município, cerca de 25% dos profissionais da educação foram atingidos em suas residências, de alguma forma — afirma Elisângela.
O mesmo aconteceu no loteamento Marmitt, amplamente afetado pelas fortes chuvas e enchentes. A Escola Municipal de Educação Infantil Criança Feliz foi totalmente destruída.
— Perdemos nossa identidade, pois perdemos nosso local de trabalho, onde criamos vínculos com as crianças, com as famílias da comunidade, com os profissionais que ali trabalhavam. É uma comunidade muito carente. A escola está com muitas falhas na estrutura, com o telhado comprometido, o pátio completamente devastado, não existe mais nada — relata a diretora, Roselaine Cristine Schossler.
A escola atendia praticamente 70 crianças e está providenciando novo espaço para retomar as atividades o quanto antes. Em Canoas, outra cidade amplamente atingida pela enchente, as aulas estão suspensas até 17 de maio, pelo menos, enquanto as instituições e as pessoas se recuperam da tragédia.
Sofreram danos 23 escolas de Ensino Fundamental e 18 de Educação Infantil, além de um Centro de Atendimento e Educação Inclusiva (CEIA), conforme a Secretaria Municipal de Educação. As demais instituições de ensino servem de abrigo para famílias acolhidas.
Já em São Leopoldo, 18 escolas foram atingidas parcial ou totalmente, mas ainda não é possível avaliar os danos porque a maioria delas segue submersa. Diversos outros municípios tiveram escolas comprometidas, como Guaíba, Cachoeira do Sul, Gravataí e Muçum.
Prejuízos na Capital
A situação também é dramática em Porto Alegre. Somente na rede municipal, 318 escolas foram atingidas em algum grau, conforme a Secretaria Municipal de Educação (Smed). Ao todo, 14 escolas próprias e 12 conveniadas estão alagadas, com registros de grande perda de infraestrutura. Outras 11 unidades da rede e 53 conveniadas sofreram danos, como destelhamentos e infiltrações.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Vereador Antônio Giúdice, que fica no bairro Humaitá, um dos mais afetados na Capital, as perdas foram graves. A água subiu cerca de 2,5 metros. Por mais que seja possível recuperar o prédio, o que ainda não foi possível verificar, toda a comunidade escolar foi afetada.
— Estamos em um processo de luto. Atingiu todo mundo, não tem ninguém que possa dizer que saiu ileso dessa. Estamos fazendo uma busca ativa para localizar todas as pessoas, muitas famílias estão desabrigadas, inclusive professores. Temos mais de mil alunos, e por ser uma escola de bairro, quase todos moram perto — afirma a diretora, Rosane Kjellin.
Na Escola Estadual de Ensino Médio Visconde do Rio Grande, no bairro Cavalhada, que atende a 820 alunos e ficou parcialmente alagada, o piso das salas ficou com buracos e precisará ser trocado, assim como portas e os telhados dos três pavilhões. O muro da escola ficou com uma rachadura grave e corre o risco de cair. O trauma também é grande, uma vez que boa parte das famílias foi impactada.
— No retorno, quando isso acontecer, que ainda nem temos uma previsão, a gente vai ter que olhar muito para as pessoas. As crianças estão abaladas, muitas vezes sem nem entender o que está acontecendo — conta a diretora, Ingrid Coutinho Page.