No mês de junho, avaliadores do Ministério da Educação (MEC) visitaram as instalações do curso de Medicina do campus Erechim da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI). O resultado foi que a graduação recebeu o conceito 5, nível máximo concedido pelo MEC para cursos de graduação. Implantada em 2018, a Medicina da URI realizou a formatura da sua primeira turma em dezembro do ano passado e muitos egressos já começaram a atuar na região. Para o coordenador do curso, Sergio Bigolin e a coordenadora pedagógica, Miriam Salete Wilk Wisniewski, a notícia da obtenção do conceito de excelência foi recebida com muita alegria pela universidade e pela cidade de Erechim.
– O reconhecimento do curso com conceito 5 traduz o comprometimento e a responsabilidade assumida pela instituição com a comunidade regional – afirmam os coordenadores.
O currículo do curso de Medicina da URI Erechim adota o modelo híbrido de formação, seguindo uma proposta alternativa e progressiva, motivando a autonomia do estudante durante o percurso de sua formação. As atividades práticas, importantes na formação do profissional médico, também são destaque, segundo os coordenadores. A aproximação dos estudantes com a Atenção Básica, porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS), e o contato com cenários reais de atuação profissional, trazem a oportunidade de adquirir competências inerentes ao cuidado integral e humanizado, assim como a convivência com outros profissionais da área da saúde.
Com uma proposta de formação que tem como base o acolhimento e a humanização, o curso de Medicina da URI Erechim ganha ainda mais destaque ao entrar para a lista dos mais bem avaliados do país.
Confira a entrevista com os coordenadores.
Como foi a recepção desta conquista na comunidade universitária?
Toda a comunidade universitária recebeu a conquista com imensa alegria. A Medicina da URI tem em sua essência a construção coletiva, conduzida habilmente pelos dirigentes desde o momento da criação do curso. Nesse sentido, ao receber o conceito 5 pelo MEC, que representa a excelência da formação considerando-se três dimensões (organização didática-pedagógica, corpo docente e tutorial, e infraestrutura), a alegria foi compartilhada imediatamente, também com a comunidade externa, presente em toda essa trajetória. Erechim foi o município selecionado para receber o curso de Medicina e a URI foi a instituição escolhida para implantar a Medicina na cidade.
Como foi a elaboração do projeto pedagógico dessa graduação?
Esse processo iniciou em 2011 com um grupo de professores médicos assessorados pela instituição, denominado Núcleo Docente Estruturante Pró-Têmpore (NDE Pró-Têmpore). Ele foi constituído pelos médicos Ramiro Ronchetti, Rodrigo Barbieri, Leandro Antônio Gritti, Juliano Sartori, por nós e pelos também professores Elisabete Maria Zanin, Paulo Roberto Giollo e Paulo José Sponchiado. Ao longo do tempo, o NDE foi conquistando apoio da comunidade e das entidades civis organizadas e fortalecendo-se em seu propósito formativo.
Em 2013, houve o lançamento do Programa Mais Médicos – Lei nº 12.871 de 22 de outubro –, que reorganizou a oferta de cursos de Medicina por meio de Editais de Chamamento Público. Em 2014, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Medicina foram instituídas. A reformulação do projeto, bem como a submissão ao edital, ocorreu no ano de 2015, o que resultou na autorização de implantação do curso em novembro de 2017, com 55 vagas para o campus de Erechim. E, em 28 de fevereiro de 2018, ocorreu o ingresso da primeira turma de Medicina da URI – T1, que colou grau em 9 de dezembro de 2023. Durante todo este período, ou seja, de 2011 até o momento atual, este grupo de professores e profissionais permanece envolvido e é representativo nas decisões de curso, atuando também na formação dos estudantes, com vistas à consolidação do perfil profissional preconizado.
Além do ambulatório de Medicina, que outros espaços são utilizados para as atividades práticas do curso?
Utilizamos, desde o primeiro semestre do curso, a rede de saúde pública municipal, por meio do Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino Saúde (COAPES). São utilizadas as Unidades Básicas de Saúde, Centro de Assistência Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), Centro de Assistência Psicossocial II (CAPS II), Ambulatório de Feridas, Setor de Vigilância Epidemiológica e de Saúde do Trabalhador (VISAT), Centro de Referência da Mulher e Fundação Hospitalar Santa Terezinha de Erechim (Hospital Escola).
Ainda, para as atividades do internato (estágio curricular obrigatório de treinamento em serviço) há parceria com uma série de hospitais da região, nos municípios de Nonoai, Getúlio Vargas, Viadutos e Campinas. No município de Erechim, a Faculdade de Medicina tem parceria também com o Hospital de Caridade e o Hospital da Unimed. Para as atividades práticas do internato eletivo, o estudante pode optar pela realização em outras conveniadas, como o Grupo Hospitalar Conceição, o Hospital Ernesto Dorneles e o Centro de Medicina Reprodutiva – Fertilitat, em Porto Alegre, além da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Além das atividades práticas que visam a aproximação à atuação médica e, portanto, em contato com pacientes com diferentes situações de saúde e doença, os estudantes também fazem uso dos laboratórios institucionais, que envolvem os Laboratórios Morfofuncionais, onde ocorrem as aulas práticas dos componentes curriculares do ciclo básico da formação médica – como anatomia, histologia e mecanismo de doenças –, e do ciclo clínico, como os Laboratórios de Habilidades e Simulações, com simuladores de baixa, média e alta fidelidade.
Estes favorecem o treinamento de habilidades e atitudes frente à simulação de situações reais de vida. Nestes laboratórios, ocorrem as práticas de componentes curriculares, como fisiologia, propedêutica clínica, saúde da mulher, pediatria, entre outros. Ainda, no Laboratório de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental, ocorre o processo de ensino, aprendizagem e treinamento dos principais temas do ambiente cirúrgico.
Que diferenciais o estudante irá encontrar na graduação em Medicina da URI Erechim?
O curso de Medicina traz em sua essência a missão de formar pessoas para o cuidado humano. Nesse sentido, o acolhimento e a humanização são sua base formativa. Atuação interdisciplinar e interprofissional é um grande diferencial, em que o eixo transversal comunitário coloca os estudantes em contato direto com a realidade da saúde pública municipal e, por consequência, em atuação profissional integrada, desde o primeiro semestre do curso. A inovação está presente em várias etapas formativas, consolidada, entre outras, nos laboratórios de simulação realística e de habilidades.
Outro grande diferencial está assentado no Departamento de Ensino, Pesquisa, Extensão, Ação Social e Cultura, denominado DEPExPLUS, que assessora no processo de produção dos projetos de trabalho de conclusão de curso e sua submissão aos comitês de ética (humana e animal), bem como a análise estatística dos dados e a produção de artigos científicos. Assessora, ainda, no processo de produção de projetos de extensão, ação social e cultural, projetos de voluntariado, entre outros.
A história, tanto do curso como da saúde de Erechim e região, é um diferencial também, uma vez que é foco de estudo e produção científica. Projetos de Pesquisa e Extensão estão em andamento, dos quais pode-se destacar a realização de rodas de conversa e entrevistas que já resultaram em registros acerca da história da Cardiologia, das Parteiras e da Oftalmologia em Erechim. A pesquisa perpassa a formação, sendo um grande diferencial para aqueles estudantes que desejam engajar-se em pesquisa científica, seja como aluno-pesquisador bolsista ou voluntário.
O curso de Medicina da URI é integral, fazendo com que os alunos se envolvam com atividades de sua formação nos três turnos diários. Neste sentido, criamos o Programa Green FreeSpaces for Medicine, para que nas “áreas verdes” do curso, nos momentos livres de compromissos acadêmicos, os estudantes possam escolher atividades oferecidas pelo programa, de modo gratuito. Entre os projetos do programa estão o Movimento, Saúde e Aventura, Arte e Cultura, Sabores e Celebrações, Terapias Integrativas e Autocuidado.
Ainda, há a Associação Atlética Acadêmica de Medicina (AAAMURIE) que promove atividades esportivas e sociais do curso; e o Centro Acadêmico de Medicina da URI Erechim (CAMED-URI), instituído em 2018, extremamente atuante e representativo dos estudantes. A este, estão filiadas as Ligas Acadêmicas. São hoje 17 ligas, que atendem aos princípios da tríade universitária - ensino, pesquisa e extensão - possibilitando aos envolvidos a ampliação e o aprofundamento de seus conhecimentos, por meio de atividades teóricas e/ou práticas, multi e interdisciplinares.
Quanto aos projetos de extensão, como o curso de Medicina atua junto à comunidade?
Em grande proximidade, tanto no que se refere a projetos de extensão como também por meio da curricularização da extensão, que está implantada na matriz curricular e, por este motivo, proporciona ações integradas, conforme as demandas da comunidade. A URI é uma universidade comunitária e, como tal, possui um forte vínculo relacional com a comunidade, o que permite a realização de inúmeras ações de caráter inovador e permanentes. A flexibilidade das ações se faz mediante a necessidade de cada instituição. A medicina chega à comunidade também por meio de projetos de voluntariado, os quais são muitas vezes, propostos pelos próprios estudantes, que se tornam protagonistas de sua formação.