Confira os comentários do professor de Literatura do Grupo Unificado Diego Grando sobre o livro A Educação pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto, que será cobrado no próximo vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Um poeta-engenheiro
Uma das obras mais complexas da lista de leituras obrigatórias da UFRGS, A Educação pela Pedra rompe com as noções de intuição, sentimentalismo, subjetividade e inspiração, frequentemente associadas ao gênero poético.
Cabral via-se como um poeta-engenheiro, o que quer dizer que via a atividade de criação poética como um trabalho rigoroso sobre a linguagem, marcado pela racionalidade e pelo planejamento. A Educação pela Pedra é o ponto máximo dessa visão: um livro minuciosamente projetado, tal qual um edifício é milimetricamente projetado para que se sustente em pé.
48 poemas
Os 48 poemas que compõem a obra estão divididos em quatro partes, cada uma composta de 12 poemas, intituladas e dispostas da seguinte maneira: Nordeste (a), Não-Nordeste (b), Nordeste (A) e Não-Nordeste (B). Vale reparar que essa divisão proposta por Cabral carrega as noções de equilíbrio e simetria.
Todos os poemas são constituídos de duas estrofes, reforçando a preocupação do autor com a simetria. Além disso, há constância na extensão: os poemas das partes "a" e "b" possuem 16 versos, enquanto os de "A" e "B" possuem 24 versos.
O Nordeste
A temática nordestina, já antecipada pela própria estrutura do livro, é uma das mais importantes. Destacam-se os diversos retratos do sertão, marcados pela aridez da paisagem, pela escassez de recursos, pela presença constante da morte. É importante não esquecer, no entanto, que Cabral também contempla a Zona da Mata, região litorânea onde se situam, por exemplo, os canaviais.
Poemas representativos: O Sertanejo Falando, O Sol em Pernambuco, Duas das Festas da Morte, O Hospital da Caatinga, O Mar e o Canavial e Coisas de Cabeceira: Recife.
Metapoesia
A própria poesia é um dos temas de A Educação pela Pedra. A criação poética, em consonância com a visão de Cabral, é definida através do rigor, da objetividade, do trabalho exaustivo, da razão e da concretude. Poemas: A Educação pela Pedra (1ª estrofe), Catar Feijão e Retrato de Escritor.
Andaluzia
A região espanhola da Andaluzia é outro cenário recorrente na poesia de Cabral. As cidades da região funcionam como um contraponto ao universo masculino e estéril do sertão. Poemas representativos: Na Baixa Andaluzia, A Urbanização do Regaço, Coisas de Cabeceira: Sevilha e Nas Covas de Baza.
Uma pergunta da UFRGS
Obra foi cobrada na prova de 2013.
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.
( ) A estrutura do livro, dividido em 4 partes, com 12 poemas cada, revela a noção de construção e de planejamento que o poeta imprime em sua obra.
( ) A parte Nordeste (a) abre com a dupla imagem do mar e do canavial, tipicamente nordestina.
( ) A parte Não-Nordeste (b) é composta por poemas que tratam do fazer poético, tema caro ao poeta.
( ) As letras maiúsculas, nas partes finais de Nordeste (A) e Não-Nordeste (B), revelam a preferência do poeta por Sevilha, cidade poética modelo.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
(A) F - V - V - F.
(B) F - F - F - V.
(C) V - F - V - V.
(D) F - V - F - V.
(E) V - V - V - F.
Comentário: A questão explora a estrutura geral da obra, a preponderância de determinados temas e a distribuição desses temas das partes do livro.
Resposta: letra E.