Presente na lista de 2013, O Centauro no Jardim, do gaúcho Moacyr Scliar, seguirá no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no próximo ano. Confira os comentários do professor de literatura do Grupo Unificado Pedro Gonzaga sobre o livro.
A obra
Guedali Tartakovsky é um menino judeu que nasce metade homem, metade cavalo, como a mitológica figura do centauro. Para evitar escândalos, é criado por sua família em uma fazenda afastada.
Guedali enfrenta uma série de aventuras até conhecer outra centaura, Tita, com quem se casa. Surge, então, a possibilidade de uma cirurgia transformadora no Marrocos, que poderia livrá-los da parte traseira equina.
Depois disso, o casal vai viver em São Paulo, pois a mãe de Guedali tem dificuldades em aceitar uma nora não judia. Lá, Guedali consegue vencer na vida. O casal tem filhos gêmeos, que nascem plenamente saudáveis, e faz amigos, em especial o casal Paulo e Fernanda.
Aos poucos, as lembranças de sua vida como centauro começam a atormentar Guedali, que chega a regressar ao Marrocos em busca de uma cirurgia reversiva. Lá, conhece uma esfinge com quem mantém relações, que acaba escapando de sua jaula e sendo morta. Guedali retorna sem fazer a cirurgia.
Um dia, seus cascos se rompem, surgindo dois pezinhos (o couro já vinha se afinando e se transformando em pele). A história termina no mesmo restaurante em que o livro começara, já no presente da narrativa (1973). Nesse momento, porém, ouvimos a versão de Tita para a história, que contradiz a de Guedali - que teria nascido com uma deformação e, depois, um tumor o levaria a crer que era diferente.
A importância do livro
Romance importante dentro da ficção contemporânea, em especial por seu caráter alegórico e pelo retrato da imigração judaica no sul do Brasil.
O que observar
A impossibilidade em determinar se Guedali é ou não um centauro no sentido realista. A questão deve ser vista com cautela, pois mais importante é admitir que muitas leituras são possíveis: a simbólica, a alegórica, a fantástica e até a realista (Guedali era um centauro apenas para si mesmo).
Dificuldade do livro
O livro não apresenta dificuldades de leitura quanto à compreensão do texto.
Como entender Guedali
Lembre-se de que Guedali é, antes de mais nada, alguém em busca de sua identidade: judeu/brasileiro, gaúcho/paulista, campônio/citadino, homem/centauro.
Uma chave de leitura
Scliar segue a tradição da narrativa fantástica (Kafka, Cortázar), em que a realidade não é mais que um espaço para o improvável, para o onírico, para o absurdo que, ao contrário das fábulas, pode ocorrer à luz do dia.
Já caiu no vestibular
Veja como a obra foi cobrada em 2013:
44. Assinale a alternativa correta a respeito do romance O Centauro no Jardim, de Moacyr Scliar.
(A) Guedali Tratskovsky conta a própria história, numa narrativa em primeira pessoa, em tom de memória.
(B) Guedali é um típico representante da religião judaica, nascido em um bairro judeu de classe média, na capital do Rio Grande do Sul.
(C) O grande trauma de Guedali é ter tido filhos centauros, como ele e a esposa, Tita.
(D) A cirurgia para tansformar patas em pernas resolve os problemas matrimoniais de Guedali.
(E) A única possibilidade de leitura do romance é através do realismo fantástico, pois centauros são seres mitológicos.
Comentário
A UFRGS optou por uma cobrança mais ampla em comparação à prova de 2012. Sabendo que o livro é narrado em 1ª pessoa por Guedali, o candidato já identificava a resposta na alternativa A.
Na B, é preciso lembrar que Guedali nasce no campo e não na cidade. Na C, há um grave erro, pois não nascem centauros da união dos dois. Na D, a cirurgia em que se põem os dois sobre as patas, transformadas em pernas se dá ao mesmo tempo. Na E, temos justamente o contrário do afirmado, pois a grande riqueza do livro é sua ampla possibilidade de leitura.
Resposta certa: A