Passado quase um mês de integração dos 50 jovens selecionados para o Geração Caldeira, do Instituto Caldeira, localizado no 4º Distrito, em Porto Alegre, o clima da turma reflete o momento que é de aproveitar a oportunidade e mergulhar em um ambiente tecnológico e inovador.
Até dezembro, os jovens terão aulas presenciais – segundas, quartas e sextas-feiras. Além do auxílio financeiro de R$ 1,5 mil, eles seguem tendo acesso a conteúdos de parceiros na plataforma digital e participam de eventos. Ao longo do programa, os perfis poderão ser conectados com vagas de trabalho.
Dos cinco alunos que foram entrevistados por GZH em setembro, quatro foram selecionados para o Geração Caldeira. Uma das jovens deixou o programa ainda na primeira fase por questões pessoais.
De Estância Velha, Iasmim da Cunha Welter, 17 anos, fica fora e longe de casa durante o dia todo. A rotina da estudante do 3° ano do Ensino Médio na Escola Sesi-RS, em São Leopoldo, foi incrementada com a nova programação do Geração Caldeira nos três dias da semana. O deslocamento que começa bem cedo com a ida para a aula e depois a viagem até o 4º Distrito depende de ônibus e do trem – e ainda uns minutos de caminhada. Mas toda a animação com as atividades deixa a distância como um detalhe do dia.
– Consegui liberação da escola para estar aqui (no Caldeira) e estou conciliando com as outras atividades. Temos o momento faísca, que serve como motivação, recados e geralmente uma dinâmica, e após vamos às atividades. Também teremos atividades online afora as palestras e falas de pessoas de fora – conta a jovem, que, entre tantas atividades, participa de uma equipe de robótica.
Os rapazes que moram na Capital, Giovanni Chagas, 19 anos, José Otávio Marques, 20 anos, e Marlon Maverick Machado, 22 anos, também se demonstram adaptados com o deslocamento de ônibus até o Caldeira.
Quando conversou com a reportagem, Giovanni ainda estava adequando uma maneira de almoçar entre o trabalho de jovem aprendiz, pela manhã, e a aula à tarde. Questionado sobre as expectativas do que está por vir, o jovem ainda não tem uma resposta exata:
– Eu quero aprender bastante coisas, estou aqui pela experiência e por fazer amizades. E tem muita gente, não se consegue conhecer todas as pessoas.
Já Otávio, que trabalha no Hospital de Clínicas pela manhã, utiliza duas linhas de ônibus para ir ao Caldeira. Antes, ele e Giovanni atuavam como jovens multiplicadores do Centro da Juventude (CJ) Rubem Berta. Giovanni já tinha concluído o período de contrato, mas Otávio optou pelo Geração Caldeira quando foi selecionado no início de outubro.
– Tive que fazer uma escolha e optei pensando no futuro. Meu contrato ia acabar em março com o CJ. Aqui tenho várias perspectivas e contato com empresas – conta Otávio, que além do Geração Caldeira, é estudante de Serviço Social.
Marlon, que vem da Zona Sul de ônibus e também pega um trecho curto de trem, estava com a rotina livre para a oportunidade que abraçou. Para ele, estar no Caldeira possibilita a construção de contatos e conhecimento do mercado de trabalho:
– Está só começando, mas tivemos dinâmicas em grupo e apresentações de como vai ser agora pra frente. Estou bem animado com tudo.
Na busca por algo maior
Quando o assunto é distância, Gustavo Rodrigues Rocha, 21 anos, é o destaque na turma. De Tapes, ele também é um dos aprovados para o Geração Caldeira. O jovem, que trabalhava com vendas há mais de um ano e meio, aproveitou as férias para participar das atividades presenciais do Nova Geração, como o Dia D, entre agosto e setembro. Durante a primeira etapa do programa, Gustavo trilhou gestão de vendas, área com a qual se identifica profissionalmente.
– Consegui me dedicar 100% para o curso e para a trilha e pude vir para participar do Dia D. O que me deu um gostinho a mais de querer estar aqui – conta.
Agora, ele optou por deixar o trabalho em uma loja de varejo em Tapes e passar esse período na casa de uma tia, na Capital, para usufruir da oportunidade:
– Tive que pedir demissão porque eram duas opções: ou me arriscava para ter a chance de algo maior ou ficava lá, sem muitas perspectivas. Estou recebendo um super apoio da minha tia e, se não fosse a conexão e as pessoas, talvez eu não estivesse vivendo essa experiência.
Mundos diferentes a serem explorados
A seleção foi feita com cerca de 120 alunos que, ao longo dos dois meses, se destacaram e concluíram as trilhas educacionais com gigantes do mercado de tecnologia, como a Amazon Web Services (AWS), Google for Education, Microsoft, Oracle e Salesforce. Foram mais de 2,6 mil inscritos e 750 jovens no início do programa.
Segundo o gestor do Nova Geração, Felipe Amaral, dos alunos que começaram o programa, cerca de 50% concluíram suas trilhas – número que representa 10 vezes mais do que a média dos cursos online gratuitos que grandes empresas de tecnologia oferecem no mercado.
– Acreditamos que é porque o programa era integrado com uma metodologia que conta com acompanhamento dos facilitadores e com essa interação com o Caldeira, como o Dia D, como a experiência e a participação de eventos, além da trilha que eles já faziam. Eles (os alunos) criaram um senso de comunidade, uma turma que estudava e que estava fazendo o processo – explica Amaral.
O dia da entrevista com os especialistas, no início de outubro, foi o momento descrito pelos alunos como o de maior nervosismo, mas, no decorrer do processo, o clima ficou mais tranquilo. Conforme eles, as perguntas foram sobre os planos para o futuro e sobre a trilha educacional, se era uma área na qual o aluno se enxergava trabalhando, por exemplo. A resposta da seleção foi divulgada no dia 11 de outubro, e a primeira aula presencial ocorreu no dia 17.
De acordo com Amaral, os 70 alunos que participaram da seleção e não foram aprovados ainda são apoiados de forma online em uma plataforma e têm acesso a chances do Caldeira.
Presencialmente, os selecionados têm contato com um tema específico a cada semana. Segundo a líder educacional do programa, Juliana Vieira, nas últimas semanas eles puderam debater sobre pensamento de futuro, com um olhar para o passado, presente e além. Os jovens também tiveram aulas sobre o novo mundo do trabalho e experiências com esporte, como em uma quadra de basquete. Ainda terão conteúdos como marketing pessoal, preparação para o mercado de trabalho, atitude empreendedora, inovação e tecnologia, entre outros:
– A ideia é que seja uma experiência exploratória, que não é linear. Eles vão ter várias vivências, tanto com esporte, como com empresas de marketing, RH, e beber um pouco desses mundos diferentes que o Caldeira proporciona.
Conforme Juliana, a turma demonstra muito empenho em aprender e gosta de interagir com os convidados. A conclusão do Geração Caldeira será com um projeto de pesquisa autoral cujo tema eles queiram estudar ou descobrir dentro do que o Caldeira oferece.
– Já tivemos atividades que foram mais dinâmicas para falar sobre empresas unicórnios (jovens empresas de crescimento rápido e patrimônio acima de 1 bilhão de dólares), por exemplo, em que se debateu o diferencial delas no Brasil. Cada grupo pôde pegar uma para falar. É muito legal essa troca com outros. Depois de cada palestra, recebemos um formulário para responder o que ficou “vivo” daquele dia – explica Otávio.
Iasmim complementa:
– Neste início, estamos trabalhando bastante a questão socioemocional alinhada às novas tecnologias.
Destaque fora do Caldeira
Além da nova rotina, outros projetos fora do Caldeira seguem impactando a trajetória dos jovens. Giovanni e Otávio fazem parte de um grupo de cinco jovens que está na etapa final do DUXtec. É um projeto realizado pela Fundação Gerações em conjunto com o Farol Hub Social do Tecnopuc de fomento ao empreendedorismo de impacto socioambiental para moradores de zonas periféricas.
O grupo foi um dos que passou pela primeira fase, entre mais de 200 participantes. Agora, estão entre as 10 ideias selecionadas para a parte prática da iniciativa, com propostas que buscam atender a mães sozinhas de baixa renda. Eles criaram o Ártemis Workplace, projeto que pretende divulgar empreendimentos de mães solo, tanto em serviço quanto em produtos, e também promover capacitações.
– É uma plataforma digital voltada a mães solo que dá visibilidade para elas venderem e contratarem outras mães. Com funcionamento gratuito. Passamos para a segunda fase e ganhamos uma bolsa. Além disso, vamos apresentar nosso projeto para investidores – conta Giovanni.
A construção da ideia para o projeto, além de contemplar um dos eixos temáticos propostos pelo programa, partiu de um ponto de vista da própria história. Ambos jovens, atualmente, têm como responsáveis pelo lar suas mães.