Uma abelha aqui, outra acolá, e assim foi sendo pintada a caixa d'água da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Favo de Mel, no bairro Natal, em Gravataí. A arte veio da imaginação de um dos alunos, o pequeno Iberê Obi Lopes da Silva, quatro anos. E foi realizada pelo pai do menino, o artista visual Waldemar Maximílio Barbosa da Silva, 64, com a ajuda de Iberê, é claro.
Estampada em cerca de quatro metros de altura e dois de largura, a obra foi feita entre 3 e 4 de fevereiro, dias antes do retorno às aulas, de forma gratuita, com materiais cedidos pela escola. O desenho dos insetos, dos favos de mel e do cenário deu um colorido a mais para a instituição, que passou a ter uma nova sede a partir do ano passado e atende hoje 264 crianças entre zero e cinco anos.
Hoje aluno do pré II, Iberê frequenta a Favo de Mel desde os dois anos. O pai, porém, já conhecia a escola antes disso: a mãe do garoto, Denise Pacheco Lopes, já falecida, foi professora da instituição por três anos.
Em setembro de 2021, durante a cerimônia de inauguração do novo prédio, lá estavam Waldemar e o filho. Foi quando veio o estalo:
— Ele (Iberê) comentou que aquilo não era uma caixa d'água, era uma caixa de mel, porque era um cilindro amarelo — lembra o pai.
Os comentários feitos depois fizeram surgir ideias na cabeça de Waldemar, que tem pelo menos quatro décadas de carreira no mundo das artes:
— Ele encaixou também que poderia ter um favo de mel e umas abelhas ali. Aí, quando cheguei em casa, já comecei a pensar em algo.
Valorização
A proposta de uma pintura chegou à escola ainda no ano passado, mas ganhou mais força no início de 2022. A diretora da instituição, Marinez de Andrade Pinto, entrou em contato com a secretária de Educação de Gravataí, Magda Ely, e recebeu uma resposta positiva para o andamento do projeto.
Quando as crianças voltaram às aulas, em 7 de fevereiro, foi "uma surpresa", define Marinez:
— Ficou bonito, chama a atenção, realçou aquele espaço ali, deu vida àquele espaço.
De forma mais ampla, a iniciativa de pai e filho leva a pensar sobre a relação entre familiares e escola, tendo como objetivo comum a aprendizagem da criança.
— Para os alunos, essa colaboração participativa das famílias tem uma importância de sentimento, de valorização, que eles carregam para a vida — destaca a secretária.
Talento vem de família
A pintura foi feita em tinta esmalte e o fundo que já existia — em tom entre o amarelo e o laranja — foi mantido. Iberê participou do projeto do desenho e pintou a parte azul e as flores. Quando encontrou os colegas, isso rendeu conversa.
— Eu falei para eles o que eu pintei com o pai e também eu falei que a pintura ficou legal — conta o menino.
O lado artístico do pequeno já começa pelo nome. "Iberê" foi escolhido em homenagem ao pintor Iberê Camargo e "Obi", em referência ao personagem Obi-Wan Kenobi, de Guerra nas Estrelas. A família do garoto é envolvida por arte, cultura e educação. A mãe foi ilustradora, escritora, pedagoga, artista visual, além de participante de movimentos culturais da cidade. Ela e Waldemar estão entre os fundadores da Associação de Artistas Visuais do Vale do Gravataí, a Agir. Ele tem outras duas filhas: uma delas foi para o ramo da arquitetura e a outra se tornou professora, mas também trabalha com artesanato. Além disso, atualmente, Waldemar preside o Conselho Municipal de Política Cultural de Gravataí.
Reconhecimento e oportunidade
Na rotina de Iberê, o DNA da família se expressa. O pai conta que o garoto desfila de cosplay — fantasia em representação a algum personagem — "desde que nasceu". E que costuma estar com livros por perto, embora por enquanto faça apenas algumas associações entre as letras.
— Isso de ser artista é nato dele — afirma.
O interesse por música, seja ao dançar, seja ao cantar, foi notado pelos pais desde cedo e Waldemar percebe que, embora a convivência ajude nisso, o gosto também parte do menino.
— Inclusive, no Natal, ele pediu e ganhou uma roupa do Michael Jackson, ele faz umas apresentações — comenta o pai.
Para Waldemar, a repercussão da pintura na escola tem rendido reconhecimento e oportunidades de trabalho. Ao que tudo indica, as abelhas estão ajudando a espalhar o pólen da iniciativa.
Produção: Isadora Garcia