Depois de seis meses de processo eleitoral, o novo reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi nomeado na sexta-feira (24). Aos 47 anos, Luciano Schuch assume a gestão até o final de 2024 e tem entre suas principais bandeiras desburocratizar a instituição, fazendo nela uma reforma administrativa, e viabilizar sua modernização, por meio de investimento em tecnologias da informação e da comunicação.
Enquanto docente, a trajetória de Schuch na universidade começou em 2009, como professor do curso de Engenharia Elétrica. Mas sua história na UFSM é bem mais antiga: iniciou ainda na década de 1990, como estudante, e prosseguiu nos anos seguintes, quando cursou Mestrado e Doutorado na mesma área. Nos últimos quatro anos foi vice-reitor, apoiando a gestão de Paulo Burmann.
Não à toa, um dos objetivos do novo reitor é aproximar ainda mais da instituição os moradores das cidades de Santa Maria, Cachoeira do Sul, Palmeira das Missões e Frederico Westphalen, onde a universidade possui campi:
— Queremos que a sociedade enxergue a nossa universidade através dos nossos alunos, fazendo extensão, e através de nossas pesquisas, que geram uma qualidade de vida cada vez maior para a nossa população. É a nossa universidade pensando no futuro da nação brasileira — destaca Schuch.
Schuch assume a gestão da UFSM em um contexto de holofotes para as eleições nas universidades federais. O processo eleitoral envolve, primeiro, uma consulta interna à comunidade acadêmica, que aponta as três chapas mais votadas. O resultado dessa consulta é encaminhado ao Conselho Universitário, que o valida e encaminha os nomes da lista tríplice para o governo federal. Lá, o presidente da República dá a palavra final sobre qual dos três assumirá a reitoria.
Via de regra, o nome mais votado costuma ser respeitado. Em 2020, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro escolheu a chapa que ficou em terceiro lugar na lista tríplice para tomar posse na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), gerando indignação em parte da comunidade universitária. O mesmo aconteceu na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 2021, e na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em 2019.
Nos processos eleitorais de outras três instituições, no entanto – Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em 2019, e Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), em 2021 – os mais votados das listas tríplices foram oficializados como reitores.
No caso da UFSM, Schuch foi, de fato, o escolhido pela comunidade acadêmica. Com mais da metade dos votos na pesquisa de opinião eletrônica da qual participaram docentes, estudantes e técnicos da universidade, o novo reitor venceu também a votação dos Conselhos Universitários e teve sua eleição confirmada pela nomeação, nesta sexta-feira, assinada por Bolsonaro e pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro.
Para Schuch, o processo de escolha dos reitores precisa ser rediscutido em nível nacional, por ser conturbado e difícil de entender por parte da sociedade, uma vez que envolve uma série de etapas que, no caso desta eleição, levaram quase seis meses para serem concluídas. Mesmo assim, o reitor comemora o resultado.
— Que bom que a democracia e a autonomia universitária foram respeitadas. Por mais que sempre tenhamos dito que é preciso respeitar a posição do presidente de escolher qualquer um da lista tríplice, lutamos por essa autonomia. A vontade da comunidade tem que ser respeitada, pois isso fortalece muito as instituições — analisa o novo gestor.
Mesmo projeto, novo olhar
Vice-reitor da gestão passada, Schuch afirma que seu projeto é o mesmo de seu antecessor, mas com uma “nova forma de enxergar, um pouco mais dinâmica”. O foco será na relação com a comunidade, por meio de projetos de extensão, em parceria com outras instituições de ensino, e da área de inovação, a fim de desenvolver novas tecnologias para serem usadas pela sociedade.
Os processos administrativos da UFSM já ocorrem exclusivamente de forma digital – não há mais papel circulando dentro da universidade, decisão que visou uma maior sustentabilidade, agilidade e economia. Para os próximos anos, a busca será por mais rapidez também nas decisões, com uma estrutura administrativa menor e menos conselhos a serem consultados.
— Hoje temos quase 900 chefias dentro da universidade. Estamos tentando reduzir um pouco essas estruturas. Ter muitos níveis hierárquicos faz com que uma tramitação precise passar por todos aqueles níveis. Outro ponto é que, muitas vezes, nossos processos precisam tramitar em quatro conselhos. Então, demora quatro meses para aprovar uma resolução, um convênio ou um contrato. Queremos desburocratizar a estrutura e reduzir os carimbos — explica o reitor, salientando que a legislação permite que os processos passem por um único conselho superior.
O debate sobre essa reforma administrativa era parte da campanha da chapa de Schuch e já vem ocorrendo dentro das unidades de ensino e, nesses espaços, os debates devem ser encaminhados nos próximos dias para os conselhos. Já a proposta formal da própria reitoria ainda não está sendo discutida, mas deve ser apresentada no final de janeiro. A intenção do reitor é que a mudança ocorra nos próximos seis meses.
Além da reforma estrutural, a nova reitoria prevê investimento em tecnologias de informação e comunicação – a ideia é, em vez de construir novos prédios e espaços, qualificar os já existentes, dotando-os de laboratórios mais modernos e redes wi-fi mais potentes, para permitir que os pesquisadores consigam desempenhar suas funções.
Outra área que já recebeu investimentos nos últimos anos e deve crescer ainda mais é a de fontes energéticas renováveis. A UFSM tem implementado usinas fotovoltaicas em seus campi e pretende trocar a subestação que alimenta toda a universidade. Além disso, quer avançar no quesito eficiência energética, com a instalação de pontos de iluminação inteligentes, que reduzam a luz em horários de menos movimento, mas identifiquem quando uma pessoa está vindo e, nesse momento, aumentem a iluminação, a fim de dar mais segurança. O entrave, contudo, é a necessidade de recursos para tudo isto.
— Nos últimos dois anos tivemos uma redução de custos, devido à pandemia, e usamos esse dinheiro nessa área. Agora, com a retomada da presencialidade, nosso custo com terceirizados e manutenção aumentará bastante e vai começar a faltar para esses investimentos — alerta Schuch.
O orçamento aprovado pelo Congresso para a UFSM, para 2022, é de R$ 120 milhões – o mesmo de 2019, quando a inflação era bem menor. A aposta do novo reitor, porém, é de que o investimento em eficiência energética e a redução do uso do papel sigam gerando economia, assim como a redução de gastos com alguns serviços terceirizados em áreas como limpeza, segurança e transporte, a fim de o orçamento ser readequado.