O segundo dia do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), neste domingo (28), contemplou 90 questões de Ciências da Natureza — o que inclui Biologia, Física e Química — e de Matemática. A prova, que começou às 13h30min e foi finalizada às 18h30min, abordou temas mais próximos à rotina da população, mas ignorou a pandemia de covid-19.
Com o menor número de inscritos da última década, a prova deste ano teve, no geral, nível de dificuldade médio, abordou tópicos tradicionais e exigiu dos estudantes conhecimento prévio, relataram professores do Fleming Medicina e do Me Salva! entrevistados por GZH.
— Foi uma prova média, mais "conteudista", com questões específicas que não podiam ser analisadas só com o contexto. Para o estudante que se preparou de forma adequada, foi acessível. Mas, pensando no contexto de uma pandemia, um estudante com lacunas no conhecimento teria dificuldade — afirma Bruno Correia, professor de Biologia do Me Salva!.
Em meio à escassez de perguntas do Banco Nacional de Itens (BNI), que reúne questões da prova, o Enem deste ano ignorou a pandemia de covid-19 e mesmo assuntos comuns à Biologia, como vacinação e imunidade - segundo professores, caíram assuntos como o desastre de Mariana (MG), dengue, ebola e carros elétricos.
— Eu esperava que caísse algo sobre imunização. Sem dúvida alguma, seria importante tratar esse assunto, algo que já era tradicional na prova. Em uma das matrizes de competência do Enem está tratar da saúde pública. Não apareceu neste ano nem na última prova — acrescentou Correia.
Na área de Química, a prova estava com dificuldade médio-difícil, afirma Leonardo Uhlmann, professor no Fleming Medicina. Houve questões sobre eletroquímica, com perguntas sobre pilhas, estequiometria e química orgânica, com textos curtos.
— O aluno que foi achando que daria conta só com interpretação não deu conta. Mas não teve novidade: bastante química orgânica, conceitos fundamentais, uma parte da química voltada ao meio ambiente e com carros que funcionam por energia elétrica. Caiu bastante a aplicação da ciência na vida das pessoas — afirma Uhlmann.
A prova de Física foi classificada como média-fácil em comparação aos anos anteriores por Arthur Casa Nova, professor de Física no Me Salva!. A literatura de cordel foi usada para indagar sobre conceitos da área. Em outra pergunta, uma tirinha de Calvin e Haroldo questionar a diferença entre temperatura do ambiente e temperatura corporal.
— Ficou basicamente dividida em quatro assuntos: eletrodinâmica, calorimetria, ondulatória (ondas e ótica) e mecânica, envolvendo movimento, lançamento, densidade e potência. Em relação ao ano passado, a prova estava um pouco mais fácil. Mas é uma prova que demanda saber fórmulas e fazer contas com agilidade — afirma Casa Nova.
Diferentemente do resto da prova, as questões de matemática foram mais fáceis, com maior foco na interpretação e menor em conteúdos específicos, ainda que o grande fôlego possa ter cansado os estudantes, avalia Ricardo Antônio Petry, professor de Matemática no Fleming Medicina.
Em uma pergunta sobre análise combinatória e probabilidade, os estudantes precisaram analisar tabelas de resultados da Copa do Brasil. Outra questão indagava o preço para pagar diárias de hospedagem utilizando a estrutura algébrica.
— Estava uma prova muito mais acessível do que em outros anos. A grande maioria das questões exigia leitura, interpretação e resolução da questão. A questões em si não geraram, individualmente, grande problema. Mas o conjunto da obra exigiu muito raciocínio, o que gera um cansaço dos alunos — diz Petry.
Os gabaritos oficiais das provas objetivas serão divulgados até o terceiro dia útil após a realização das últimas provas. A primeira prova do Enem foi no domingo passado (21), de Linguagens, Ciências Humanas e Redação.
A edição deste ano ocorre após denúncia de servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentava interferir nas questões da prova.
Bolsonaro chegou a defender que o Enem começara a ficar com “a cara do governo” e pediu ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que perguntas sobre o golpe de 1964 chamassem o evento de “revolução”, noticiou o jornal Folha de S.Paulo.
Professores relatam que a prova parece ter tido menor interferência do que o esperado - um fator citado é que cada questão da prova leva meses a ser produzida, discutida e calibrada na dificuldade por especialistas.
Em seguida, fica disponível no Banco Nacional de Itens, o que dificulta a mudança em cima da hora, incluindo a abordagem de temas da atualidade. Bolsonaro chegou a afirmar na última segunda-feira (22), após o primeiro dia de exame, que a prova "ainda" teve "questão de ideologia". Pelo Twitter, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, classificação a distribuição de provas do Enem como a “mais rápida e eficiente da história”.