Prevista para esta quarta-feira (3), a retomada das aulas para o segundo semestre enfrenta diferentes realidades nas escolas públicas estaduais. Enquanto há instituições que organizam o calendário para que o modelo híbrido siga funcionando e, ao mesmo tempo mais alunos ganhem confiança para voltar às aulas presenciais, outras enfrentam dificuldades estruturais e falta de funcionários para garantir a limpeza do local.
De acordo com levantamento realizado pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc), 83% das 2.377 instituições de ensino existentes no Rio Grande do Sul retomaram as atividades presenciais, dentro do modelo híbrido.
Entre elas está a Escola Estadual de Ensino Médio Fernando Ferrari, localizada em Campo Bom, no Vale do Sinos. A instituição retomou as aulas presenciais, dentro do modelo híbrido, no dia 5 de maio e, desde então vem seguindo um cronograma para que todos os alunos possam ter um contato físico com a escola.
O modelo adotado para as turmas do 1º ao 3º ano do Ensino Médio é de um revezamento e divisão das turmas entre as salas de aula. Durante uma semana, enquanto um ano tem aula presencial, os outros dois estão com ensino remoto. Em cada dia da semana, os estudantes permanecem três horas dentro da instituição.
Conforme a diretora da Escola Fernando Ferrari, Maristela Brentano, por ser uma instituição que atende em tempo integral, é possível dividir duas turmas por turno. Além disso, todos os cuidados com a higiene e a segurança dos alunos, professores e funcionários foram tomados.
— Passamos, até agora, com nenhum caso de coronavírus no ambiente da escola. Isso é resultado de uma parceria que envolve os professores, funcionários e, principalmente, os alunos. Se não há uma conscientização dos estudantes e também dos pais, nada funcionaria — avalia a diretora.
Contando atualmente com 305 estudantes – 18 a mais do que havia em 2020, a Escola Fernando Ferrari retoma as aulas presenciais na próxima segunda-feira (9). Mas, nos próximos três dias, os professores já trabalharão para organizar o calendário e projetar as atividades do segundo semestre, como a recuperação dos conteúdos que os alunos apresentam deficiências.
Cerca de 20 quilômetros de distância, em Portão, também no Vale do Sinos, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Portão Velho convive com uma realidade diferente. Há pouco mais de um ano, com as atividades ainda suspensas pela pandemia, um curto circuito na rede elétrica ocasionou um incêndio que danificou seriamente a estrutura.
Com a retomada das aulas presenciais, a instituição de ensino seguiu atendendo os alunos somente no regime de plantão, pois não há energia elétrica em praticamente todo o local. O atendimento é feito em uma única sala que não teve a rede danificada pelo fogo e permite que o computador e a impressora possam ser usados pelos professores.
Sem previsão de quando serão realizadas as obras de restauração da rede, a diretora da escola Portão Velho, Ana Paula Bernardi, viu crescer a evasão dos estudantes – eram cerca de 350 no início de 2020, antes da pandemia, e agora são 262. Daqueles que deixaram a escola, a maioria foi matriculada pelos pais em outra instituição de ensino que já estava em aulas presenciais. Os demais, passaram a trabalhar informalmente, ajudando a família para conquistar uma renda extra.
— Essa situação alterou drasticamente a nossa rotina, mas, os mais prejudicados são os alunos. Eles precisam da escola. Nós temos os professores, funcionários, EPIs … Só não temos o básico, que é a luz — lamenta a diretora Ana Paula Bernardi.
Ainda segundo a diretora, um projeto de restauração da rede elétrica já foi encaminhado para a Seduc, mas, até o momento, não houve uma sinalização de quando as obras terão início.
O levantamento da Secretaria aponta que outras 341 escolas públicas estão na mesma situação que a Portão Velho, atendendo em regime de plantão. O número equivale a 14% de todas as instituições do Estado. Ainda, há 44 instituições que seguem fechadas no RS.
Conforme a secretaria, entre os motivos para que ainda existam escolas nesta situação estão: a presença de decretos municipais, execução de obras que foram afetadas pelo período de pandemia e a necessidade pontual de preenchimento de vagas na área de limpeza.
Para que as escolas consigam realizar as obras e ajustes necessários, a pasta planeja a liberação de recursos já na próxima semana.
- Vamos priorizar as reformas que são necessárias para as escolas. Nós iremos repassar um total de R$ 27 milhões para todas as escolas do Estado. A distribuição do valor será entre R$ 10 mil a 30 mil, dependendo do tamanho da instituição. Esse dinheiro é para que as direções tenham autonomia para resolver os problemas mais necessários – ressaltou a secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira.
A Seduc afirma ainda que não há falta de professores na rede estadual. Segundo a pasta, há o registro de casos pontuais que envolvem aposentadorias, licença-maternidade e licença-saúde e, nessas ocasiões, um banco de cadastro temporário é utilizado para contratações emergenciais.
O mesmo modelo é usado para a pasta atender as escolas que registram ausência de servidores. Em julho, foram abertas inscrições para o banco de cadastro.
No caso específico dos servidores de limpeza, a Seduc realiza a contratação por meio de empresas terceirizadas para suprir a necessidade de forma temporária. Ao todo, a pasta contabiliza 7.172 servidores que atuam nesta área.