Uma análise preliminar dos dados da consulta online Educação e Pandemia no RS, desenvolvida pelo Cpers Sindicato e consolidada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontou que 86% dos 1.701 entrevistados não acreditam que é possível retomar as aulas sem vacina para a covid-19. No mesmo levantamento, 84% dos pais afirmam que não mandariam os filhos à escola antes da disponibilização de uma imunização contra o vírus.
Realizada entre 27 de julho e 12 de agosto, a pesquisa recebeu respostas de pais, alunos, professores, funcionários das escolas e equipes diretivas de 730 instituições estaduais de 253 municípios. Ela foi divulgada dois dias depois de o Estado apresentar aos prefeitos uma proposta inicial de retomada das aulas presenciais nas cidades com bandeiras amarela e laranja, começando pela Educação Infantil em 31 de agosto. O calendário escolar ainda está em discussão.
Outro dado destacado pela presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, é o de que 77% dos que responderam a consulta apontam que a Educação Infantil deve ser a última modalidade a retomar as atividades presenciais.
— É um dado muito significativo. A Educação Infantil necessita ainda mais a proximidade do professor ou do funcionário da escola, é onde as crianças terão maiores dificuldades de distanciamento, de usar máscara e de não compartilhar seus pertences, que inclui até merenda — ressalta Helenir.
Desde julho, mesmo sem aulas presenciais, as escolas estaduais permanecem em regime de plantão para realizar atendimentos, higienização e funções administrativas.
— Nós (os professores e funcionários das escolas) somos aqueles que estão dentro da sala de aula, que convivem com os estudantes. É a nossa vida que estará exposta, assim como as dos nossos alunos, e o governo infelizmente faz protocolos no papel sem nos ouvir. Quem conhece a realidade das escolas somos nós — desabafa a presidente do Cpers.
O Cpers Sindicato pretende divulgar a pesquisa completa nos próximos dias.
O que diz a Seduc
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que "foi apresentada uma proposta para o início do debate sobre o calendário das aulas presenciais para o ano de 2020. A Seduc reforça que as datas propostas são um ponto de partida na discussão sobre o retorno das aulas presenciais, e não uma imposição de calendário por parte do governo".
Ainda na nota, a Seduc ressalta que "todos os protocolos e práticas a serem adotados para o retorno presencial das aulas foram publicados em portaria conjunta entre as secretarias estaduais da Educação e da Saúde". Destacou também o investimento a ser realizado para o retorno das aulas presenciais, quando pretende investir "R$ 270 milhões na aprendizagem, na capacitação, na aquisição de equipamentos de proteção e materiais de desinfecção e contratação de professores e profissionais de apoio (serventes e merendeiras)."
Questionada se pretendia ouvir as contribuições do Cpers, a Seduc respondeu que, desde o início do período da pandemia, "trabalha ao lado de diversas entidades representativas, como Famurs, Undime, Uncme, Sinepe, Ministério Público, entre outras, para a construção de ações em regime de colaboração de forma transparente e democrática".
Dados da pesquisa
Vacina e volta às aulas
- 86% não acreditam ser possível retomar as aulas sem vacina. Apenas 6% responderam que é possível; os demais afirmaram não saber.
- 84% dos pais afirmam que não mandariam os filhos à escola antes da disponibilização de uma vacina. Apenas 5% levariam. 11% afirmaram não saber.
- 77% acreditam que a Educação Infantil deve ser a última modalidade a retomar as atividades presenciais.
Recursos da escola e condições de retorno
- 71% dos respondentes afirmam que a escola não fornece máscaras com a frequência necessária para os profissionais nos plantões.
- 70% afirmam que a escola não tem espaços físicos adequados para atender alunos(as) mantendo distanciamento social e em ambientes arejados.
Questões específicas para equipes diretivas
- 91,9% afirmam que a escola não tem recursos suficientes para investir em estrutura para receber alunos(as) e adquirir os EPIs necessários.
- 81% afirmam que a escola não tem um número adequado de profissionais de limpeza para realizar a higienização necessária.
- 70,4% revelam que os repasses da verba de autonomia financeira estão em atraso.
- 61,6% afirmam que os repasses da verba de manutenção estão em atraso.
Questionários validados (quantidade)
- Diretores e vices - 185
- Professores - 961
- Especialistas - 28
- Funcionários - 142
- Orientadores - 30
- Pais e responsáveis - 162
- Alunos - 193
- Total: 1.701
Fonte: Consulta online realizada pelo Cpers Sindicato, posição de 12 de agosto de 2020. Elaboração: Dieese