Após quase cinco meses de indefinição, a maior universidade do Rio Grande do Sul vai, enfim, retomar as aulas nesta quarta-feira (19). É quando os 27.437 alunos matriculados nas diferentes graduações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) continuarão de onde o primeiro semestre parou, ainda em março, em um segundo semestre em tudo atípico para a educação.
O Ensino Remoto Emergencial (ERE) mobilizou reitoria, professores, servidores e técnicos na definição de uma modalidade de ensino na forma não presencial que pudesse contemplar a comunidade acadêmica. O desafio é grande. Ao mesmo tempo em que existem alunos ansiosos pelo reinício das aulas, ainda que de forma remota, há formandos vendo o sonho de concluir a faculdade ser adiado e calouros ainda pouco habituados ao Ensino Superior. E há, ainda, universitários para quem o reinício das aulas não será uma realidade tão simples.
Assim como é comum na rede estadual de ensino na educação básica, também no Ensino Superior federal há uma parcela significativa de alunos para quem o acesso à internet, com equipamentos adequados para acompanhar as aulas e realizar as atividades necessárias, não é uma realidade. A UFRGS explica que foi disponibilizado, dentro da capacidade orçamentária da universidade, auxílio emergencial para colaborar na aquisição ou melhoria de equipamentos para os alunos mais carentes.
— Desde o início da pandemia, nossa preocupação foi proteger todas as pessoas. Por isso, suspendemos as atividades presenciais ainda em março e, desde então, começamos a trabalhar numa proposta de retomada das aulas — explica a vice-reitora, Jane Tutikian.
A universidade promoveu algumas iniciativas, como o Reconecta UFRGS, voltado a destinar computadores a estudantes da universidade em vulnerabilidade socioeconômica e, assim, auxiliá-los em seus estudos de graduação diante da necessidade de implantação do ensino remoto emergencial. O projeto de extensão, que recebeu a primeira doação há apenas um mês, já conseguiu reunir centenas de computadores e notebooks defeituosos, que são consertados até ficarem prontos para receber um novo destino.
— A gente se viu, em meio à pandemia, pensando: e o aluno, como fica? Quando são carentes, não contam com uma máquina adequada? Será que não podemos ajudá-los? — questiona o professor Marcelo Lubaszewski.
No último sábado (15), 227 alunos — todos devidamente habilitados, com vínculo à universidade e um atestado válido comprovando sua situação de vulnerabilidade — concorreram ao sorteio de um total de 70 computadores. As máquinas começaram a ser entregues nesta terça-feira (18). Apesar do auxílio valioso — e feito de forma voluntária por professores, estudantes e técnicos em informática —, 70% dos inscritos nessa iniciativa não puderam ser contemplados, e o número total de alunos que não poderão acompanhar as aulas com os subsídios necessários sequer é estimado pela UFRGS.
O Ministério da Educação (MEC) também informou que vai disponibilizar acesso à internet para alunos de universidades e de institutos federais em situação de vulnerabilidade social, para que possam acompanhar as aulas durante o período de distanciamento social adotado para evitar a disseminação do coronavírus. A princípio, serão beneficiados 400 mil alunos com renda familiar inferior a meio salário mínimo, mas a ideia é que esse número chegue a 900 mil alunos cuja renda familiar seja de até 1,5 salário mínimo.
Apesar de tantos obstáculos, o reitor da UFRGS, Rui Vicente Oppermann, explica que tem confiança no processo de retomada emergencial e remota do ensino:
— Procuramos viabilizar, com a maior segurança, que o ERE fosse bem recebido. Buscamos o endosso da maioria das pessoas envolvidas, assim como procuramos viabilizar a participação da comunidade de docentes, técnicos e estudantes e permitir a esses alunos o acesso adequado às plataformas — explica o reitor. — Essa é, talvez, a melhor alternativa para poder dar continuidade às aulas da graduação interrompidas durante a pandemia. Não adianta dar uma ordem que não vai ter legitimação pela comunidade. Então estamos tranquilos, porque esse é o resultado de uma construção coletiva bastante abrangente da universidade — completa Oppermann.
Agora, o primeiro semestre, iniciado em março e interrompido pela pandemia, deve ser concluído em 2 de dezembro. O retorno às aulas presenciais, algo indefinido em todo o Estado, também não é projetado pela UFRGS, que aponta que essa é uma decisão que depende do andamento da pandemia para toda a comunidade gaúcha.
— Existe um prejuízo decorrente no calendário da pandemia, isso é incontrolável da nossa parte. Mas o fato é que não houve o que algumas instâncias propuseram em um certo momento, que seria o cancelamento do semestre. Aí, sim, o prejuízo seria definitivo. O prejuízo do atraso vai ser compensado de tal maneira que o estudante tenha garantido seu direito ao estudo e a uma formação qualificada dentro do espaço de tempo necessário — garante o reitor da UFRGS.