No recreio da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Adolfina J.M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, é comum ver um menino de 14 anos disputando uma partida de Fla-Flu com um garoto de oito. Essa não é uma cena convencional na maioria das escolas, pois o intervalo costuma ser dividido por idade. Na Adolfina é diferente graças ao projeto #aprenderecompartilhar – escola inovadora, que rendeu à coordenadora pedagógica Joice Lamb o troféu Educadora do Ano na 22ª edição do Prêmio Educador Nota 10, um dos mais importantes da educação básica brasileira.
Estimular a interação entre estudantes de diversas faixas etárias no recreio é apenas uma das dimensões do projeto, que vem evoluindo desde 2012 na escola do bairro São José, que atende 780 alunos. Os alunos também participam de oficinas semanais em grupos que mesclam estudantes de dois a 10 anos de idade, coordenados por professores diferentes a cada semana.
– Assim, todo mundo é colega de todo mundo, todo mundo é professor de todo mundo. No bairro, eles convivem o tempo todo, são primos, vizinhos, irmãos. Por que não podem interagir na escola? – diz a professora premiada.
A interação vale também para professores, funcionários e pais de alunos, que são chamados a participar ativamente das decisões da direção. Desde a compra de uma televisão nova para uma sala de aula até a revisão do método de ensino de matemática para melhorar o desempenho das turmas, tudo é colocado em votação em assembleias periódicas para ser decidido conjuntamente.
– A gestão democrática da escola faz com que todos se sintam parte, aumenta a motivação e acaba melhorando os resultados em sala de aula – diz a educadora.
Fora da sala de aula
O terceiro pilar do projeto é incentivo à iniciação científica com impacto prático. Por exemplo, além de pesquisar sobre o uso de materiais reciclados na construção, os estudantes lideraram uma campanha de arrecadação de caixas de leite para uma ONG que instala o material para tapar frestas de casas em comunidades carentes. Outro grupo estudou a depressão na adolescência e promoveu palestras com especialistas para explicar a doença aos colegas.
– É um projeto de gestão escolar. Os outros finalistas eram projetos de professores, todos ótimos, mas para mim é uma satisfação ver um trabalho de coordenação pedagógica ser valorizado, porque esse papel muitas vezes é invisibilizado, e ele é fundamental para o dia a dia na escola – orgulha-se Joice, que tem mais de 20 anos de magistério.
O Educador Nota 10 teve quase 5 mil inscrições em 2019. Como Educadora do Ano, Joice recebeu um prêmio de R$ 15 mil e um vale-presente de R$ 8 mil para a Escola Adolfina. O destino do dinheiro da premiação será votado em assembleia, fazendo jus ao programa premiado, que preza pela participação da comunidade escolar nas decisões.
O prêmio Educador Nota 10 foi criado em 1998 pela Fundação Victor Civita, em parceria com Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho. Tem apoio de Nova Escola, Instituto Rodrigo Mendes, Unicef e BDO, e patrocínio de Fundação Lemann e Somos Educação.