"Mais união e menos briga no pátio", "promoção da amizade entre meninos e meninas", "empatia, respeito, paciência", "mais períodos no pátio" e "combate ao bullying" foram algumas das promessas de campanha dos candidatos a representantes de turma do 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Anchieta, instituição privada de Porto Alegre. Com apoio de servidores do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e auxílio de urnas eletrônicas, os alunos de duas turmas votaram, nesta manhã, nos seus candidatos.
Trabalhando questões de cidadania em sala de aula, os pequenos foram estimulados, desde maio, a discutir os critérios para liderar a turma e ainda ouviram lições sobre a importância do voto. Em casa, com ajuda da família, os candidatos desenvolveram os cartazes com a "plataforma de governo". Hoje, as peças coloridas, com glitter e fotos, foram expostas em um corredor da escola.
Antes de exercerem o direito do voto, os estudantes tiveram um bate-papo com a técnica judiciária Fabiana Guimarães dos Santos, da Escola Judiciária do TRE. Sentados no auditório do colégio com a colinha com número dos candidatos em punho, tiraram dúvidas sobre o processo eleitoral e funcionamento das urnas eletrônicas, com destaque para o sigilo do ato de votar.
— Vocês são livres. Ninguém vai saber em quem vocês votaram — garantiu Fabiana.
Também ouviram um pouco da história das eleições no Brasil: desde a época em que apenas alguns podiam votar até a conquista desse direito a todos os cidadãos. A participação das mulheres na política, tanto com voto quanto como representantes do povo, também foi um capítulo de destaque na conversa. Fabiana ressaltou que os alunos do colégio são privilegiados, pois terão 50% dos líderes meninos e outros 50% composto por meninas (cada aluno teve de votar em um representante de cada sexo), o que não reflete a realidade nacional, na qual as mulheres têm cerca de 15% de representatividade na Câmara dos Deputados.
Depois de receberem as orientações técnicas, foi a vez de retomarem o trabalho conduzido há um mês em aula. A orientadora educacional Eliane da Silveira Nunes, que acompanhou as crianças ao longo do processo, relembrou os critérios que eles deveriam considerar na hora de escolher um coleguinha para representar a turma.
— Essa é uma eleição de verdade, igual a dos adultos. Vocês precisam pensar muito bem nas qualidades da pessoa em que vocês vão votar. Esse é um exercício de cidadania — disse, convidando as crianças para outro salão, onde seria conduzida a votação.
Ansiedade e emoção com os resultados
Enfileirados com as carterinhas escolares penduradas no pescoço, os estudantes aguardavam a tão esperada hora de encarar a urna. Passada a escolha dos mesários, presidentes de mesa e fiscais, a votação foi aberta. Sempre com a ajuda dos cinco servidores do TRE destacados para a missão, os pequenos não titubeavam na hora de apertar a tecla verde de "confirma". Em sua primeira vez diante do equipamento, Pedro Caldas, oito anos, comemorou a participação.
— Foi muito legal. Escolhi a pessoa que vai fazer o melhor para a turma e pensar em todo mundo — justificou.
Sob pedidos de “calma” e desejos de “bom dia” do presidente da seção, a turma 30A finalizou a eleição com os votos da equipe da mesa. Exercendo com cautela a função de mesária, Isadora Dias, oito anos, foi uma das últimas a votar.
— Tinha que ter muita concentração para não errar. É muita responsabilidade _ sentenciou sobre a tarefa.
Após o término das votações, as turmas foram levadas mais uma vez para o auditório para o anúncio dos resultados e entrega dos certificados aos vencedores. Com uma campanha que pregava a justiça, o bem, a cooperação e o respeito, Alexandra Teixeira Zabel, nove anos, foi uma das eleitas.
— Foi emocionante. Gostei bastante! — comemorou.
A eleição de representantes de turma acontece na escola a partir da 3ª série. A mesma experiência foi repetida no turno da tarde, com mais seis turmas.
Essa foi a primeira experiência do TRE com o público mais novo. Conforme a coordenadora da Escola Judiciária do Rio Grande do Sul, Débora do Carmo Vicente, a aproximação com a sociedade é um dos objetivos estipulados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— Devido às últimas eleições, a gente percebeu um distanciamento dos eleitores no interesse e uma desconfiança em relação ao processo. Então, uma das metas do nosso plano estratégico é a aproximação com o público, principalmente para trabalhar com cidadania. Esse é um projeto piloto com os mais novos, que trabalhou com dúvidas deles e quis mostrar a importância de se interessar por política. Queremos criar um vínculo pois, como as orientadoras falaram, daqui sete anos eles já podem votar — explicou Débora.
Instituições de ensino interessadas na iniciativa podem entrar em contato com o TRE. Segundo Débora, a ideia do tribunal é firmar uma parceria com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) para levar o projeto para as escolas estaduais.