A informação de que pelo menos um dos autores do massacre em Suzano sofria bullying em intensidade tão forte que o fez abandonar os estudos sublinha a urgência de pais e educadores reforçarem prevenção e prestar assistência a vítimas de humilhação.
— Bullying sempre existiu em escolas do mundo inteiro, mas atualmente se agravou muito em razão do cyberbullying (assédio cometido nas redes sociais) e da perda gradativa da comunicação dos jovens com seus pais —afirma Luciane Manfro, coordenadora da Comissão de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave), ação desenvolvida pela Secretaria Estadual da Educação.
O projeto reúne pais, alunos, corpo diretivo, professores e funcionários da escola para prevenir e buscar soluções para casos de bullying que sejam identificados. Em muitos casos, é solicitado apoio da ONGs da comunidade para interceder em situações de violência ou humilhação. Nos últimos três anos, os casos registrados anualmente no programa caíram de 5 mil para 1.980 – ainda que o número de instituições participantes tenha crescido, e esteja hoje na casa de 3 mil.
Em escolas privadas, o tema também ganha relevância. O Colégio Farroupilha atualizou recentemente seu código de convivência e estabeleceu ações sistemáticas para prevenir o bullying. Pelo menos três vezes por ano, as turmas são reunidas em assembleias para discutir a convivência e, eventualmente, falar de pontos que incomodem estudantes. Com frequência, os alunos são convidados para palestras ou bate-papo com psicólogos ou especialistas em redes sociais, para falar sobre possíveis efeitos agressivos do comportamento nas redes.
—Da Educação Infantil ao Ensino Médio, a escola está sempre atenta aos sinais de bullying —explica Greicy Araújo, psicóloga educacional do Farroupilha.
O tema desperta tal preocupação entre educadores que levou o governo federal a incluir no ano passado artigos em referência às competências socioemocionais na Base Nacional Curricular Comum. Naime Pigatto, assessora pedagógica e de legislação educacional do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe), explica que o tema entrou na agenda das escolas, mas precisa também ser combatido na origem:
– Geralmente, recai sobre a escola resolver casos de bullying, mas não se pode ignorar que muitas vezes são consequência de comportamentos cultivados no ambiente familiar, no uso de tecnologia e nas redes sociais.
Por isso, pais têm papel crucial ao identificar sinais de que os filhos estejam cometendo ou sendo vítimas de bullying. A psicóloga Déborah Brandão, mestre em Psicologia Clínica e pesquisadora na área de bulling e ciberbullying na adolescência na PUCRS, aponta alguns sinais de que crianças e adolescentes possam precisar de ajuda imediata:
— Mudança de humor, isolamento, agressividade, perda ou ganho repentino de peso podem ser indícios de que a criança está sofrendo com alguma situação entre os amigos ou, principalmente, na escola. É preciso que os pais conversem para entender o que está acontecendo, e, quando preciso, que busquem apoio de especialistas.
O combate ao assédio
Na escola
- Ações preventivas são fundamentais. As escolas devem manter grupos para debater e analisar casos de bullying — e, quando identificá-los, agir imediatamente.
- Os professores podem organizar bate-papos ou trazer às aulas discussão sobre casos que vieram a público, ocorridos nas redes sociais ou até entre celebridades, reforçando valores como respeito às diferenças.
- Alunos que ficam isolados das atividades dos demais, faltam muito às aulas ou têm queda repentina no desempenho podem estear sendo vítimas de bullying.
- A escola precisa dedicar atenção às vítimas, encaminhando-as ao Serviço de Orientação Educacional (SOE), informando os pais. Quando necessário, podem recomendar atendimento de psicólogo.
- Ao identificar um caso de bullying, a orientação pedagógica deve chamar agressores e seus pais e alertar para o comportamento. Advertências por escrito ou suspensões são indicadas.
Em casa
- Os pais devem estar atentos a mudanças de comportamento dos filhos, como alteração de humor, agressividade, isolamento, perda ou ganho de apetite.
- Os pais devem estimular os filhos a falar sobre o que os incomoda na escola ou entre os amigos.
- Nem sempre crianças e adolescentes estão dispostos a falar. O caminho é ter uma conversa “pelas beiradas”, perguntando como vai a escola, o relacionamento com colegas.
- Caso identifiquem um caso de bullying, os pais devem encorajar os filhos a enfrentar o problema e avaliar se o encaminham ao atendimento de um psicólogo. Se o bullying ocorre na escola, é essencial informar à direção.
- Os pais também têm papel fundamental para evitar que os filhos se tornem agressores. Sinais de desobediência, roupas rasgadas e manifestações de raiva em casa possivelmente serão irradiadas no colégio.
- Esse comportamento deve receber limites e ser alvo de diálogo, reforçando valores como respeito ao próximo e tolerância às diferenças. O atendimento de psicólogos também é recomendado.
Entre amigos
- Os círculos sociais também podem ser ambientes de identificação e apoio a quem sobre com bullying.
- Ao perceberem que alguém está sendo isolado ou humilhado constantemente, os amigos podem prestar apoio puxando conversa e oferecendo ajuda.
- Se o bullying ocorrer na escola, os colegas podem acompanhar a vítima até a direção ou ao SOE para buscar apoio.