Os três institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul fizeram os cálculos do tamanho do corte anunciado pelo Ministério da Educação (MEC). Se para as universidades federais o contingenciamento médio foi de 30%, para essas instituições foi ainda maior, 40%. A queda foi de R$ 146,2 milhões para R$ 87,2 milhões. No caso da verba destinada para investimento, a navalha foi de 52%. Já para o custeio, o contingenciamento foi de 38%.
O Estado possui três institutos federais: do Rio Grande do Sul (IFRS), Farroupilha (IFFar) e Sul-rio-grandense (IFSul). As instituições oferecem desde o Ensino Médio integrado com curso técnico, passando por cursos superiores, tecnólogos, formação de professores e mestrados.
O reitor do IFRS, Júlio Xandro Heck, lamenta o corte e diz que os reitores foram pegos de surpresa com o que classifica de "valor expressivo de bloqueio orçamentário".
— Obviamente que as consequências a curto prazo não são nada boas, porque os planejamentos de todas as nossas instituições, tanto instituto quanto universidades, foram feitos à luz do que a Lei Orçamentária Anual (LOA) nos previa de orçamento — garante Heck.
O reitor do IFRS afirma ainda que o valor definido na LOA já era insuficiente para este ano. Segundo ele, é difícil precisar quando "as coisas ficarão mais complicadas". No caso do IFRS, são 17 campi espalhados pelo Estado, cada um deles com seu orçamento próprio.
— Então nós teremos campi com atividades prejudicadas mais cedo, outros mais tarde, dependendo de como havia sido feita a previsão orçamentária.
Heck, no entanto, já adianta as limitações orçamentárias "imediatas".
— As mais básicas, como contratos já assumidos de vigilância, de limpeza, de serviços de manutenção, de pagamento de contratos, como luz, telefonia, água. Absolutamente todos os recursos de custeio sofrem prejuízos.
Nós podemos imaginar que no final do mês de setembro, início do mês de outubro, os recursos que contamos hoje já estarão insuficientes.
JÚLIO XANDRO HECK
reitor do IFRS
Além dessas atividades básicas, o reitor do IFRS também revela que serão "atingidos projetos de pesquisa, extensão que imediatamente ou muito em breve deixarão de ter os recursos disponíveis".
— Numa média institucional, nós podemos imaginar que no final do mês de setembro, início do mês de outubro, os recursos que contamos hoje já estarão insuficientes — adianta o reitor.
Júlio Xandro Heck admite que essa é a maior crise financeira que já passou nos seus 12 anos de IFRS.
A pró-reitora de Administração do IFRS e coordenadora do Fórum de Pró-reitores de Planejamento e Administração (Forplan) do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Conif), Tatiana Weber, diz que o cenário nacional é semelhante ao do Estado.
— O corte especificamente de custeio das instituições entre os 38 institutos e demais instituições vinculadas varia de 38% a 42%. É um impacto bem grande, sempre superior a um terço do orçamento da instituição.
Segundo Patrícia, essa medida do governo atinge diretamente a atividade fim, que é o funcionamento das aulas.
Nós não temos plano B. Nós não temos como manter as nossas atividades com um corte nessa magnitude.
TATIANA WEBER
pró-reitora de Administração do IFRS
— Nesta semana, o conselho dos reitores dos institutos federais esteve reunido e o que ficou bem claro é que nós não temos plano B. Nós não temos como manter as nossas atividades com um corte nessa magnitude. Precisamos de apoio da população, de apoio político, porque inviabiliza nossas atividades.
Dassuen Tzanovitch Datsch, de 22 anos, é estudante do IFRS, campus Porto Alegre.
— O corte não vai ser bom. A gente já sofre com falta de recursos para inúmeras coisas que a gente quer realizar lá dentro — lamenta a jovem estudante de Licenciatura de Ciências da Natureza.
A mesma opinião é compartilhada pelo estudante do curso técnico de Comércio Lúcio Rocha, de 47 anos.
— Com esse corte de verbas vai refletir muito para a gente cumprir esses seis meses que estão por vir. Porque eu sou estudante e bolsista do IFRS — afirma Rocha, que está prestes a se formar e adianta que está preparado para manifestações em busca de uma reversão da medida adotada pelo governo federal.
A estudante do curso superior de Gestão Ambiental Tais Tamiko Tomoto Tsuchiya, 39 anos, também está prestes a se formar e manifesta preocupação. Chega a se emocionar quando fala sobre os prováveis prejuízos aos colegas.
— É difícil a gente ver na cara dos colegas que estavam tão animados, super orgulhosos, esmorecer tão rápido. É difícil ver colegas que dormem três, quatro horas por noite perderem as suas esperanças.
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