Uma casinha rosa no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, está servindo como ponto de encontro entre gatos e potenciais pais ou mães de pet. Passados 500 dias desde a inauguração, o Gatinhos Café já fez acontecer a adoção de 469 gatos, o que equivale a quase uma adoção por dia de funcionamento do estabelecimento.
O lugar é um dos chamados “cat café”, cafeterias temáticas que permitem visitantes interagir e brincar com gatos. Essa iniciativa nasceu e se popularizou em territórios asiáticos, como Taiwan, Japão e Coreia do Sul, mas ganhou espaço na Capital nos últimos anos.
O segredo do número alto de adoções no Gatinhos Café talvez esteja na dinâmica leve que se desenrola no local. A pessoa vem para um lanche da tarde despretensioso, come uma torradinha em formato de felino e bebe um café decorado pelo barista com a imagem de um gato, por exemplo. Daí, direto da mesa, consegue enxergar cerca de 15 gatos brincando e se espreguiçando do lado de lá do vidro que delimita o “gatil”. Se ficar tentado, pode pagar R$10 e passar 10 minutos interagindo com os animais.
— Achávamos que em um ano a gente iria conseguir fazer acontecer umas cem adoções, nunca imaginamos que seria um número tão bom como está sendo, porque muitas pessoas têm preconceito, acham que gato é chato, que não vem no colo. Nós abrimos uma possibilidade para gente que nunca tinha imaginado ter esse contato com os gatinhos se encantarem com eles. As pessoas entram, sentam no tapete, os gatinhos vêm no colo. E é nesse momento que eles se apaixonam — afirma Josani Flores, idealizadora e proprietária do Gatinhos Café, junto do sócio, Ricardo Gass.
O ambiente onde ficam os animais é controlado para o conforto tanto dos bichos como dos humanos: ar-condicionado, caixinhas de areia limpas com frequência, cheiro bom, arranhadores e prateleiras para todos os lados. Antes de entrar, os visitantes higienizam as mãos com álcool gel e cobrem os sapatos com propé, para não sujar os tapetes com impurezas vindas da rua. Lá dentro, um funcionário supervisiona cada visita garantindo que os visitantes sigam regras básicas de convívio como não tirar fotos com flash, não apertar os bichinhos e respeitar a vibe dos bichos que estão num momento mais introspectivo, relaxando na casinha, por exemplo.
A visita tranquila é uma possibilidade de perceber se as características de comportamento do gato combinam com o estilo de vida do adotante em potencial:
— As pessoas em geral acham que os filhotinhos é que são os mais adotados, mas na verdade saem muitos gatos adultos, porque fica mais fácil de identificar a personalidade do animal. E como nós do café convivemos bastante com eles, conseguimos direcionar a adoção conforme o que a pessoa procura, seja um gatinho mais tranquilo, mais brincalhão, um animal para conviver com o bicho que a pessoa já tem em casa — descreve Josi, que é fisioterapeuta de formação, mas decidiu inaugurar o próprio café em agosto de 2023.
Parceria com protetora de animais
Desde o primeiro momento o café tem parceria com a protetora de animais Deise Falci, quem faz o resgate de gatos de rua, ninhadas abandonadas e bichos vítimas de maus-tratos. Ela também é a responsável por medicar, castrar os adultos e testar os animais para Fiv e Felv, já que gatinhos com diagnóstico positivo não podem ficar junto daqueles com diagnóstico negativo, por risco de transmissão. Depois desse processo, estão aptos a irem para o café, que sempre tem de 15 a 20 peludos no gatil.
As quase cinco centenas de adoções em pouco mais de um ano alegram Deise Falci, que é protetora de animais há 16 anos e raramente encontrou novos lares para gatos em um ritmo tão acelerado como tem sido na cafeteria:
— É uma parceria que facilitou muito a adoção dos gatinhos porque a pessoa se sente menos pressionada ao ir no café do que ao ir à minha casa ou à uma feirinha especificamente para adotar, tem menos pressão.
Não basta querer
Todas as adoções passam primeiro por um formulário de inscrição, que pode ser encontrado tanto no perfil do Instagram do @gatinhoscafe como no @deisefalci. É a equipe de Deise que avalia se os interessados estão aptos a receber o animal em sua casa.
Uma das regras é que todas as janelas da casa precisam estar teladas antes da adoção, inclusive basculantes e janelas de banheiros. Segundo Josani, o tempo máximo que um gato ficou no café foi quatro meses, e eles costumam se tornam mais sociáveis após uma temporada ali:
— Os gatos daqui acabam ficando acostumados tanto com outros gatos, pela convivência diária, quanto com outras pessoas, por causa das visitas. Então eles vão ficando mais dóceis e sociáveis. Toda semana eu busco novos gatinhos na Deise, porque normalmente a gente tem uma saída de sete gatinhos adotados por semana. Mas já teve semanas absurdas em que saíram 10, 14, porque algumas pessoas adotam dois ou três de uma vez só — comemora Josi.