Diante das dificuldades financeiras do Estado, que acabam por se refletir também no orçamento destinado à Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís da Cunha Lamb, é evasivo ao ser questionado sobre o futuro do investimento na universidade, mas garante sua continuidade. A Uergs é vinculada à pasta.
— Sem dúvida tem desafios de gestão, mas a universidade tem autonomia para tomar as suas decisões. O nosso papel é de supervisão e orientação — pondera o pesquisador.
A autonomia da Uergs é quanto à utilização dos recursos que chegam. A reclamação maior das gestões da instituição é de que o orçamento repassado é sempre aquém do solicitado. Durante os governos de Yeda Crusius (2007-2010) e José Ivo Sartori (2015-2018), a extinção da universidade chegou a ser pensada.
Mesmo diante de movimentos do governo de tentar privatizar estatais e de reduzir a máquina pública, Lamb garante que a Uergs não está nessa lista:
— A universidade será mantida e tem se proposto a colaborar ativamente no modelo de desenvolvimento do Estado, que é alinhado à inovação.
Lamb diz que não é uma exclusividade da Uergs a dificuldade de orçamento e ressalta que as instituições públicas de Ensino Superior, de forma geral, sofrem com esse problema.
Ariza Araújo da Luz, reitora da Uergs de 2014 a 2018, é atual diretora da instituição na região de São Luiz Gonzaga e Três Passos. Para a pós-doutora em Educação e formação de professores, a autonomia para definir onde usar a verba de custeio acaba, na prática, limitada:
— O nosso custeio, orçamento é tão pífio, tão pífio, que não temos onde cortar. Então, nós não temos escolha para dizer: olha, vamos ter de custeio água, luz, telefone. Não temos mais isso, porque possuímos apenas questões básicas de funcionamento da universidade.
Sobre a falta de professores, destaca:
— Se tivéssemos mais dois, três professores, os alunos não precisariam fazer essa escolha de ficar mais um ano ou mais um semestre.
Ariza diz que o estudante, sabendo das dificuldades da instituição, acaba "vestindo a camiseta".
— O aluno da Uergs é um aluno guerreiro. Ele sabe lutar pela universidade e buscar condições melhores. Se a universidade sobrevive hoje, é graças a esse aluno que entrou e que assume a universidade pública.
A ex-reitora chega a fazer uma brincadeira para o caso de contratação de mais professores pelo governo:
— Se nos dessem professores como os que temos hoje, nós faríamos chover em épocas de seca e parar a chuva em épocas de enchente.
Para ela, falta compreensão dos governos para entender o quanto a universidade pode ser indutora de políticas públicas que levem ao desenvolvimento principalmente nas regiões mais empobrecidas do Estado.
Primeiro reitor eleito da universidade, o doutor em Química Fernando Guaragna manifesta preocupação com o atual cenário.
— Esses cortes vão prejudicar fortemente o desempenho da universidade. A Reitoria está propondo cortar a nossa internet corporativa. Considerando o nosso pequeno orçamento, esses cortes são dramáticos — destaca.
Número de unidades
Em relação ao tamanho da Uergs, que tem hoje 24 unidades, o reitor Leonardo Beroldt admite que é um desafio de gestão, mas que o formato é importante.
— A universidade foi criada para levar cursos que seriam estratégicos para o desenvolvimento do Estado para regiões onde havia carências — conclui.
Beroldt diz que, apesar de todos os problemas, a instituição vem se consolidando "no sentido de ter mais reconhecimento da sociedade gaúcha pela qualidade do serviço que presta". O reitor lembra ainda que a Uergs conseguiu consolidar ainda uma série de cursos de graduação que procura atender as necessidades regionais, além das ofertas de pós-graduação, citando quatro mestrados profissionais "na área de ambiente e sustentabilidade, na área de educação, de ciências de alimentos e docência nas áreas de ciências, tecnologias, engenharias e matemática".
A ex-reitora Ariza sustenta que a Uergs foi criada em um formato diferente, de compartilhamento de espaços.
— Então, quando se diz que não tem sede própria, a Uergs não nasceu para ter grandes prédios. Na verdade, ela nasce compartilhando espaços em praticamente as 24 unidades.