Trechos da transmissão ao vivo realizada pelo presidente Jair Bolsonaro ao lado do filho Eduardo em Washington, nos EUA, na segunda-feira (18), voltaram a ganhar repercussão nesta quinta-feira (21). Internautas destacaram o momento em que o presidente cita um suposto estudo feito pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra.
O estudo, de acordo com o presidente, mostraria que crianças de zero a três anos, filhos de beneficiários do Bolsa Família, teriam "desenvolvimento intelectual" em média um terço mais lento que a média mundial. No vídeo, Bolsonaro não dá mais detalhes sobre o estudo.
"Um dado inacreditável: nosso ministro da Cidadania fez um levantamento de 3 mil famílias que recebem Bolsa Família. Pegou a garotada de zero a três anos. Essa garotada foi acompanhada por um tempo. Chegou-se à conclusão que o desenvolvimento intelectual dessa garotada, filhos de Bolsa Família, equivalia a um terço da média mundial", diz Bolsonaro. O suposto levantamento é citado no vídeo abaixo, a partir dos 19min55s.
Na avaliação do presidente, "é difícil" que essas crianças tenham uma boa formação e se tornem bons profissionais.
"Realmente, fica difícil até com boas escolas fazer com que essa garotada, que começa errado lá atrás, tenha capacidade de fazer uma boa escola, uma boa universidade e ser um bom profissional lá na frente. São os problemas, as heranças que temos por aí e temos que começar a mudar."
No trecho da transmissão, o presidente falava sobre educação. Ele defende escolas militares e cita o trecho da Bíblia que costuma utilizar em seus discursos, João 8:32: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
"É isso que temos que incutir na cabeça da garotada. A verdade, o amor à pátria. Dizer que ele só vai ser feliz lá na frente na parte econômica se ralar, se estudar agora. Não fica esperando do Estado. Leve-se em conta a meritocracia."
GaúchaZH entrou em contato com o Ministério da Cidadania por telefone e e-mail. Por e-mail, a pasta respondeu que está acompanhando os resultados do Programa Criança Feliz no desenvolvimento infantil de crianças menores de três anos por meio de uma pesquisa externa coordenada pelo epidemiologista Cesar Victora.
O levantamento tem como objetivo identificar funções cognitivas e intelectuais e mede as reações das crianças de acordo com os estímulos e atividades desenvolvidos. Para isso, serão avaliadas 3 mil crianças nessa faixa etária, sendo que 1,5 mil são atendidas pelo programa Criança Feliz e o restante não. A ideia é usar os resultados finais, que devem ficar prontos em 2022, para medir o impacto do programa Criança Feliz.
Leia a íntegra da resposta:
"O Ministério da Cidadania está acompanhando, por meio de uma pesquisa externa coordenada pelo epidemiologista Cesar Victora, os resultados do Programa Criança Feliz no desenvolvimento infantil de crianças menores de três anos.
A pesquisa é baseada na aplicação de um teste universal (teste ASQ-3) em crianças de até um ano, beneficiárias do Programa Bolsa Família de 30 municípios. O teste, realizado por meio de pesquisa de campo em parceria com universidades federais e estaduais, identifica funções cognitivas e intelectuais e mede as reações das crianças de acordo com os estímulos e atividades desenvolvidos. Serão avaliadas, ao todo, três mil crianças, sendo 1.500 atendidas pelo Criança Feliz e as demais não participantes do Programa.
A partir do resultado final da pesquisa, previsto para 2022, o governo federal poderá medir o impacto e efeitos do Programa Criança Feliz sobre a estimulação intelectual no ambiente doméstico e no desenvolvimento cognitivo e psicomotor das crianças.
Os resultados preliminares constatados no primeiro contato com as famílias beneficiárias durante a construção da linha de base (ou seja, antes do início da participação das famílias no Programa Criança Feliz), foi verificada uma defasagem no desenvolvimento cognitivo das crianças beneficiárias de aproximadamente 35% em comparação com outras crianças da mesma faixa etária que não se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Desde 2017, o Programa realiza visitas semanais a crianças de até três anos beneficiárias do Bolsa Família. Os visitadores realizam atividades que orientam as famílias a impulsionar o desenvolvimento cognitivo, motor, socioafetivo e da linguagem das crianças, visando diminuir esta defasagem constatada nos resultados preliminares."