É numa casa de esquina do bairro Tijuca, em Alvorada, que se forma uma rede de colaboração do bem. Capitaneada pela aposentada Vera Regina Conceição, 70 anos, a iniciativa oferece aulas de reforço, oficinas de percussão, artes e capoeira.
São seis crianças, entre seis e 11 anos, que nas quartas-feiras e sábados aprendem com mestres de idades, em alguns casos, nem tão superiores às suas.
– Aqui é uma troca, às vezes de crianças para crianças – explica Vera.
Vitor Renan Rebordinho, 12 anos, fera no desenho, dá aulas de artes nas quartas, depois que as crianças têm aulas de reforço com Hellen Vitória da Silva, 15 anos – ela é assessorada por uma orientadora educacional.
– Acho muito legal dar aula. Gosto de ensinar e compartilhar o meu conhecimento com os outros – ressalta Vitor.
– Me sinto uma professora de verdade quando estou aqui. É muito legal passar algo que já aprendi para quem tem dificuldades. E recebo muito carinho das crianças – diz Hellen, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental.
Entusiasmo
As aulas de reforço tiveram início há cerca de dois meses, quando Vera ouvia das mães que os filhos tinham dificuldades na escola.
– Estou muito entusiasmada. Porque era uma dificuldade que as mães relatavam, e estamos ajudando com isso. Assim, eles também não ficam na rua, onde estão vulneráveis a muitas coisas – diz a aposentada.
Nas quartas-feiras, após a escola, as crianças vão para a casa da aposentada e têm aulas de reforço escolar e artes. Já nos sábados, as atividades começam pela manhã, com o reforço e oficina de percussão. O dia termina com capoeira.
– Gosto de vir aqui. A gente aprende no reforço e também brinca nas oficinas. Me ajuda bastante na escola, e em casa não tem nada para fazer – conta Alex de Luz de Andrade, 10 anos, estudante do 3º ano do Ensino Fundamental.
A aulas de percussão são ministradas pelo neto de Vera, Thiago Pinto Duarte, 13 anos, que aos sábados participa de uma oficina de percussão externa e transmite o que aprendeu às outras crianças.
– Gosto de tocar, então adoro de ensinar o que eu aprendo – diz Thiago.
Para mostrar o potencial da gurizada
A iniciativa ainda não é, de fato, um projeto, pois não é registrada pela falta de recursos. Mas Vera conta que se chamará Onedes, o nome de sua mãe, uma grande inspiração para a aposentada e quem ajudou a construir a casa onde ocorrem as atividades.
Com o tempo, ela quer receber mais crianças e também propor mais atividades. Por ora, eles arrecadam dinheiro para os lanches da tarde e para outras atividades entre o grupo, que é composto também por uma assistente social, uma orientadora pedagógica e um professor de capoeira. Todos trabalham voluntariamente.
– Meus filhos sempre estiveram envolvidos e participaram de projetos sociais. Isso formou quem eles são hoje, quero passar isso para essas crianças – afirma Vera.
A aposentada reitera que as atividades também mostram o potencial que as crianças têm e que, muitas vezes, não é identificado.
– Seria bom se houvesse mais pessoas que se empenhassem e entendessem a importância deste trabalho na vida das crianças. Todas são de periferia, de locais que não têm muita estrutura e condições. Faz muito bem pra elas – acrescenta.