A rede estadual do Rio Grande do Sul melhorou seu desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2017 em relação com a edição anterior, de 2015, em todas as etapas da Educação Básica. Ainda que os dados divulgados na segunda-feira (3) pelo Ministério da Educação apontem que nem no Ensino Fundamental, nem no Ensino Médio, as escolas estaduais conseguiram atingir a meta definida para a rede, destacamos dois exemplos de instituições de ensino estaduais de Porto Alegre que foram bem avaliadas.
Obsessão pela alfabetização
Em Porto Alegre, a escola da rede estadual mais bem avaliada, no Ensino Fundamental, é a Uruguai, localizada no bairro Moinhos de Vento. A instituição teve pontuação de 7,3 nos anos iniciais e de 6,3 nos anos finais no levantamento divulgado pelo Ministério da Educação.
De acordo com a direção, o segredo do bom desempenho está na obsessão pela alfabetização: a escola persegue a meta de levar todos os alunos ao 2º ano sabendo ler e escrever. Para isso, promove algumas iniciativas. Do mais jovem ao mais velho, os estudantes são convidados a pausar o estudo durante 40 minutos pelo menos uma vez na semana para pegar um livro na biblioteca e mergulhar em leitura – um projeto que ganhou o slogan "Ler para aprender a gostar de ler".
Semanalmente, direção e corpo docente se reúnem para estudar o desempenho de cada turma e avaliar se o conteúdo está sendo dado no ritmo adequado. Se uma evolui mais rapidamente do que a outra, os professores ganham sinal verde para avançar nas aulas e propor atividades mais desafiadoras. Mas se uma turma anda mais lentamente, define-se uma estratégia para que aqueles alunos não fiquem para trás.
— Temos um número adequado de alunos por turma, e sabemos o nome de cada um, quem são seus pais e se estão com alguma dificuldade de aprendizado. E procuramos resolver estas dificuldades tão rápido quanto as identificamos — diz a diretora Arlete Giovanella Xavier, há 44 anos na escola.
Privilegiada por estar em uma zona nobre de Porto Alegre – no coração do bairro Moinhos de Vendo, dentro do Parcão – e receber alunos principalmente de classes média e alta (muitos vindos de escolas privadas), a escola mantém conexão com os pais por e-mail. O método se mostra bem sucedido: quando é comunicada a necessidade de buscar reforço escolar, atendimento de fonoaudiólogo ou psicólogo, os pais costumam seguir prontamente, afirma Arlete.
A disciplina é levada a sério. Embora não haja, formalmente, obrigação de usar uniformes, os alunos são orientados a vestirem roupas de cores discretas e sem estampas. Camisa de time de futebol está proibido, assim como bate-bola no pátio na hora do recreio. Segunda e sexta-feira, os alunos cantam os hinos do Rio Grande do Sul, do Brasil e da bandeira.
— Trabalhamos com método tradicional, apesar de darmos liberdade para que os professores inovem e adaptem o conteúdo conforme o perfil das turmas — explica a diretora.
Essa flexibilidade permite aos professores aproveitarem imprevistos e fatos de alta visibilidade em sala de aula. Semana passada, com a morte de Paixão Côrtes, uma professora dos anos iniciais antecipou a aula sobre tradicionalismo, que ocorreria apenas no último trimestre, e propôs que todos os alunos fizessem trabalhos sobre a vida e o legado do folclorista.
Aposta na inovação
Instituição com pontuação acima da média no Ensino Médio (atingiu 4,1 no Ideb 2017, em uma média de 3,4 da rede estadual no Rio Grande do Sul), a Escola Professor Julio Grau, na zona norte de Porto Alegre, aposta na inovação para suscitar o prazer do aprendizado. Os professores são orientados a sair do lugar-comum para ensinar disciplinas como ciências, português e idiomas, com uso de audiovisual e atividades lúdicas.
Nos últimos seis anos, para fechar a disciplina de inglês, os alunos prepararam curta-metragens que foram avaliados não pela qualidade da atuação, mas pelo texto e a fluência de idioma demonstrada diante das câmeras. Uma premiação estilo Oscar foi feita para eleger os melhores filmes.
— A ideia é que o professor possa ser bem prático na sua aula, trazendo exemplos e atividades reais para o conteúdo — explica a professora de História e supervisora do turno da tarde, Márcia Helena Eichner. — Não por acaso, muitos alunos se formam conosco e foram trabalhar com cinema — afirma.
Apesar da boa vontade dos funcionários, a escola padece dos mesmos males que afligem muitas escolas da rede estadual. A biblioteca está fechada há cinco anos, em razão da ausência de um bibliotecário que se responsabilize por organizar o espaço. Quando precisam de um livro, os próprios professores procuram nas estantes.
No início deste ano, os alunos ficaram dois meses sem um professor de literatura, pois a Secretaria da Educação não havia reposto ninguém na vaga deixada pelo antigo professor, que foi transferido.
— Fomos preenchendo as turmas de forma improvisada, com professores de outras áreas, mas sabemos que não é a melhor solução para o aprendizado — diz a vice-diretora do turno da tarde, Ana Paula Guedes do Canto.
O uso da sala de informática é uma aventura esporádica para os alunos, pois geralmente apenas um ou dois dos oito computadores têm condições de uso.
— Na única aula de informática que tive neste um ano e meio, a turma teve de ser dividia em grupos de oito, para que os alunos olhassem na tela enquanto a professora usava o computador — conta Thamara Ferreira da Silva, estudante do 2º ano do Ensino Médio.