Bastante conhecida por desempenhar papéis importantes no organismo humano, a serotonina parece ter uma nova função até então desconhecida: acelera o aprendizado. Essa foi a conclusão de um estudo publicado no periódico Nature Communications nesta teçra-feira (26) por pesquisadores do Centro Champalimaud para o Desconhecido (CCU), de Portugal, e do University College London (UCL), do Reino Unido.
Esse neurotransmissor, substância química responsável pela comunicação entre os neurônios, acelerou a velocidade de aprendizagem em camundongos, disse um dos líderes do estudo Zach Mainen:
— Quando os neurônios de serotonina eram ativados artificialmente, com uso de luz, os ratos adaptaram rapidamente seus comportamentos em uma situação que exigia flexibilidade. Isso deu mais peso às novas informações, mudando suas mentes mais rapidamente quando esses neurônios estavam ativos. A serotonina acelerou o aprendizado.
Nos experimentos, os camundongos aprendiam a encontrar água em dois dispensadores colocados dentro de uma câmara onde os animais estavam. Durante a análise dos dados, os pesquisadores descobriram a quantidade de tempo que os animais esperavam entre uma tentativa e outra era variável: ou eles tentavam imediatamente cutucando os dispensadores, ou eles esperavam mais antes de uma nova tentativa. Foi com base nessa variação que os cientistas perceberam o efeito da serotonina no processo de decisão dos ratos.
A equipe identificou que os animais dispunham de duas estratégias de decisão para maximizar a recompensa (no caso, a água). No intervalo mais curto, o modelo matemático que melhor previu a próxima escolha dos animais baseou-se apenas no resultado (receber ou não água) da tentativa anterior: eles acionavam o mesmo dispensário novamente e, se não recebessem água, iam imediatamente para o outro.
Segundo os autores, isso sugere que quando os intervalos eram curtos, os animais dependiam basicamente da "memória de trabalho" para fazer a próxima escolha (memória de curto prazo, relacionada às percepções imediatas). É esse tipo de memória que nos permite memorizar um número de telefone por pouco tempo e depois esquecê-lo. Por outro lado, quando o intervalo entre duas tentativas consecutivas durou mais que sete segundos, o modelo que melhor previu a próxima escolha dos animais sugeriu que eles estavam usando o acúmulo de experiências de recompensa para guiar o próximo movimento. Ou seja: a memória de longo prazo chutou o resultado.
"Nossos resultados sugerem que a serotonina aumenta a plasticidade (cerebral) ao influenciar a taxa de aprendizado. Isso ressoa, por exemplo, com o fato de que o tratamento com inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) pode ser mais eficaz quando combinado com a chamada terapia cognitivo-comportamental, que incentiva a quebra de hábitos em pacientes", escreveram os autores.