Com o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) intensificando a alta do juro básico do país, o ambiente econômico segue tentando absorver os impactos. O grupo aumentou a Selic de 10,75% para 11,25% ao ano nesta quarta-feira (6). A pressão sobre o crédito e a atratividade dos investimentos em renda fixa são mantidos nesse ambiente de aceleração do aperto monetário, segundo especialistas.
Investimentos
Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que os ativos de renda fixa, principalmente os pós-fixados, seguem sendo os mais atrativos. Esse tipo de produto é atrelado a algum índice. Ou seja, com Selic elevada, certos papéis acompanham essa tendência e aumentam os retornos aos investidores.
— Os fundos DI são os mais indicados, porque, além de você ter uma taxa mais alta agora, há uma tendência de continuar subindo. Você acompanha esse movimento — destaca Oliveira.
Guilherme Almeida, analista de renda fixa da Suno Research, afirma que títulos públicos, como o Tesouro Selic, estão entre os mais beneficiados por esse ciclo de alta. No entanto, reforça que é importante entender o perfil de cada cliente, prazos de resgates e outros pontos antes de realizar o aporte.
Juliana Tomaz, gestora de crédito da AMW, a gestora de recursos da Warren Investimentos, também afirma que, com a manutenção do ciclo de alta da Selic, seguiremos com “grande apetite do investidor” por fundos de renda fixa e crédito privado, em busca de um retorno extra maior ou igual a Selic.
— É muito importante o investidor ficar atento ao tipo de risco de crédito que está alocando, entender se o fundo que está alocando está adequado ao seu perfil para não ter surpresas. Diversificação na carteira de investimentos é fundamental — pontua Juliana.
Poupança
A poupança ainda é menos atrativa na comparação com os fundos de investimentos nesse contexto de Selic na casa dos dois dígitos. Quando a taxa está acima de 8,5% ao ano, a remuneração da poupança é de 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR). Se o juro estiver em 8,5% ao ano ou menos, a poupança rende 70% da Selic mais a TR. No entanto, a poupança segue sendo uma boa opção aos investidores com menos dinheiro, porque não sofre descontos de taxas de administração e outras tributações.
Renda variável
Na renda variável, o juro mais alto afeta, principalmente, os papéis de dois grupos de empresas, segundo João Daronco, analista da Suno Research. O primeiro é formado por negócios com foco em crescimento no futuro, que guardam o capital, reinvestindo para crescer. Com juro mais alto, a percepção do valor futuro da companhia pelo mercado é afetada, diminuindo o preço de suas ações no curto prazo, segundo o especialista.
O segundo ramo é composto por empresas ligadas ao varejo. Como a Selic avançando tende a frear o consumo, as ações desse segmento também são impactadas negativamente. Nesse cenário, o investidor precisa prezar por ativos de boa qualidade com um balanço sólido, que suportem as incertezas futuras, segundo Daronco.
Crédito mais caro
Miguel José Ribeiro de Oliveira afirma que o juro mais alto pressiona financiamentos mais longos, como, por exemplo, os que envolvem a compra de carros e imóveis. Nos parcelamentos de curto prazo, o consumidor sente menos, segundo o diretor.
Na tomada de crédito, o processo segue mais criterioso por parte dos bancos, segundo Oliveira. Com inflação e juro ainda em alta, aumenta o rigor nesse processo diante do medo da inadimplência, que segue assombrando o país:
— Num cenário desse, os bancos não deixam de emprestar. Eles emprestam, mas passam a ser mais seletivos. Então, aquele cara que tem um risco maior, ele passa a ter maior dificuldade de acesso ao crédito, ou quando consegue, o banco diz, “posso te emprestar, mas você vai pagar mais caro por isso”.
Abaixo, algumas simulações do efeito da Selic mais alta no crédito:
Cheque especial
Uso por 20 dias de R$ 1 mil
Com Selic de 10,75%
Taxa mensal: 7,74%
Valor do juro: R$ 51,60
Com Selic de 11,25%
Taxa mensal: 7,78%
Valor do juro: R$ 51,87
Elevação de R$ 0,27
Cartão de crédito rotativo
Utilização do rotativo por 30 dias de R$ 3 mil
Com Selic de 10,75%
Taxa mensal: 14,58%
Valor do juro: R$ 437,40
Com Selic de 11,25%
Taxa mensal: 14,62%
Valor do juro: R$ 438,60
Elevação de R$ R$ 1,20
Juros do comércio
Compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil em financiamento de 12 meses
Com Selic de 10,75%
Taxa mensal: 5,13%
Valor da parcela: R$ 170,48
Valor total: R$ 2.045,77
Com Selic de 11,25%
Taxa mensal: 5,17%
Valor da parcela: R$ 170,86
Valor total: R$ 2.050,38
Elevação no mês: R$ 0,38
Elevação total: R$ 4,60
Fonte: Anefac