A discussão sobre o retorno ou não do horário de verão tem como pano de fundo a preocupante insuficiência de chuva no país. Com a seca que castiga diversas regiões, principalmente o Sudeste e o Centro-Oeste, nos últimos meses, adiantar o relógio em uma hora voltou a entrar no rol de alternativas para diminuir a sobrecarga do sistema energético brasileiro e mitigar o impacto do esvaziamento de reservatórios.
A tendência é de que o governo tome uma decisão sobre o horário de verão ainda nesta semana.
Dados mais recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgados na semana passada, apontam incertezas sobre as precipitações previstas para o período de outubro de 2024 a março de 2025. O órgão estima recuperação apenas no início do próximo ano:
“No curto prazo, a análise da EAR (Energia Armazenada) mostra a continuidade da redução dos níveis dos reservatórios nos próximos três meses, com a recuperação dos volumes estimada para ocorrer a partir de janeiro de 2025”.
A operação energética no país ocorre por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN). No SIN, uma região com menos problemas hídricos pode auxiliar outra. Além disso, o uso de outras fontes, como eólica, solar e termelétrica, ajudam a manter a segurança do complexo e o fornecimento de energia.
— Essa integração permite ao Estado se beneficiar de trocas energéticas com outras áreas, possibilitando a exportação de energia quando há excedente e a importação em momentos de necessidade, como em períodos de seca que afetam a geração hidrelétrica — explica o engenheiro eletricista e de segurança do trabalho Renê Reinaldo Emmel Júnior, conselheiro titular e coordenador-adjunto da Câmara Especializada de Engenharia Elétrica do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul (CREA-RS).
Nos últimos comunicados, o ONS afirma que não há risco de falta de energia no país, mesmo nesse cenário de piora na precipitação. No entanto, o acionamento de outras fontes acaba tornando a conta de luz mais elevada.
Situação do sistema energético brasileiro
Na última quarta-feira (9), o ONS apresentou projeções do sistema energético para o período de outubro de 2024 a março de 2025 durante reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
O relatório do CMSE aponta que o nível de armazenamento do Sistema Interligado Nacional estava em 49% no final de setembro. Mesmo com piora no quadro geral, esse patamar é considerado “satisfatório para o fim da estação de seca em grande parte do território nacional”, segundo o comitê. Portanto, no momento, não há risco de “não-atendimento da demanda”, mas a entidade segue monitorando a situação.
Manobras para evitar interrupção de fornecimento
Como o sistema é interligado, o operador consegue enfrentar a escassez hídrica em determinadas regiões com o excedente armazenado em épocas de chuva, nível mais elevado de reservatório em alguns Estados, outras fontes de geração, como eólica e solar, e acionamento de termelétricas.
Para garantir a operação energética no país neste momento, o ONS destaca a necessidade de utilização de diversos recursos, como uso de usinas termelétricas de forma mais intensa, importação de energia e flexibilização de regras operativas para garantir esse atendimento nos meses de outubro, novembro e dezembro.
O ONS também recomenda a volta do horário de verão. Segundo o operador, o horário de verão poderá trazer uma redução de até 2,9% da demanda máxima noturna.
Situação no RS
Os últimos relatórios do ONS não detalham a participação do Rio Grande do Sul dentro do sistema neste momento de seca no país. A última projeção do ONS, para esta semana, aponta que a estimativa é de que a Região Sul deve atingir o percentual mais elevado de Energia Natural Afluente (ENA), com 86% da média histórica para o período. Para os demais subsistemas, as projeções são as seguintes:
- Norte, 49% da média
- Sudeste/Centro-Oeste, 45% da média
- Nordeste, 34% da média
No sistema interligado, subsistemas com menos problemas de falta de água, como é o caso da Região Sul, ajudam a diminuir o efeito da escassez em outras áreas, como Sudeste e Centro-Oeste, mesmo que não haja um excedente significativo.
Impactos
Apesar de afastar o risco de interrupção do serviço, o uso de algumas alternativas tende a aumentar o custo da energia aos consumidores finais.
No fim de setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de outubro.
Esse é o maior patamar de cobrança adicional na conta de luz desde abril de 2022, quando a bandeira "escassez hídrica" estava em vigor.
Previsões de baixa afluência para os reservatórios das hidrelétricas e elevação do preço do mercado de energia elétrica estão entre os pontos que bancam a medida.
Próximos meses
A estimativa do ONS aponta incertezas em relação ao início e “condições do período úmido”, mesmo que alguns modelos projetam maior nível de precipitação a partir da segunda quinzena de outubro.
Com cenário de estiagem severa observado nos últimos meses, a chuva prevista iria permitir, num primeiro momento, que o solo recuperasse sua umidade para que, posteriormente, fosse observada a elevação dos níveis dos reservatórios.
A entidade estima recuperação dos volumes a partir de 2025.