A ex-diretora da Americanas Anna Christina Ramos Saicali, investigada por envolvimento na suposta fraude contábil de R$ 25,3 bilhões na empresa, desembarcou no Brasil nesta segunda-feira ( 1º), e entregou o passaporte à Polícia Federal no posto do Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Autoridades e advogados organizaram uma chegada discreta para a executiva, que estava em Lisboa, Portugal, quando teve ordem de prisão preventiva decretada. Ela saiu por uma porta lateral antes do final do corredor dos passageiros que desembarcam no saguão principal do Terminal 3, de Guarulhos, e a poucos passos do posto da Polícia Federal.
De lá, a defesa da advogada teve acesso ao estacionamento reservado à PF, cercado por grades, para que ela deixasse o local sem passar pela imprensa. Agentes da PF também não permitiram que fotógrafos profissionais fizessem imagens da área por cima do muro.
A determinação de que Anna Saicali deveria ser tratada com discrição partiu do juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal, do Rio de Janeiro, que substituiu a ordem de detenção preventiva por uma medida cautelar após a defesa dela informar que a ex-diretora se comprometia em retornar ao Brasil.
Na decisão, o magistrado determinou que ela deveria apenas se apresentar às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa, "sem ser detida, nem algemada, nem passar por qualquer tipo de constrangimento ou vexame".
Sobre a chegada ao Brasil, ele determinou que ela fosse recebida pelas autoridades, para entregar seu passaporte e que não teria de se submeter "sequer à audiência de custódia".
Saicali estava em Portugal desde o último dia 15. A defesa informou à Justiça que ela tinha um voo marcado para o Brasil em 5 de julho. A reserva foi realizada em 26 de junho, dia seguinte à decretação da prisão preventiva da ex-diretora da Americanas, sem que os advogados da empresária explicassem a mudança na data do retorno ao Brasil (inicialmente previsto para o próprio dia 26).
Entenda o caso
A Polícia Federal (PF) diz que o ex-presidente da Americanas Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, a ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali e outros ex-executivos da rede varejista venderam R$ 287 milhões em ações pouco antes do anúncio, em janeiro do ano passado, da existência de um rombo de R$ 25,3 bilhões no balanço da empresa em razão de "inconsistências contábeis".
A descoberta levou ao enquadramento dos ex-executivos por crime de uso de informações privilegiadas, além de outros delitos investigados na Operação Disclosure,.
Segundo a investigação que resultou na ação, Gutierrez e Anna Saicali teriam vendido mais de R$ 230 milhões - R$ 171,7 milhões e R$ 59,6 milhões, respectivamente - em ações da Americanas antes de as fraudes contábeis na empresa se tornarem públicas.
Em janeiro de 2023 a Americanas entrou com pedido de recuperação judicial em caráter de urgência, com uma divida de cerca de R$ 43 bilhões e com 16,3 mil credores. Em novembro, a empresa alegou ser “vítima” de fraude de R$ 25 bilhões e prejuízo de R$ 12,6 bi. Em fevereiro deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) homologou o plano de recuperação judicial do grupo.
O auge das transações ocorreu entre julho e outubro de 2022, afirmam a PF e o Ministério Público Federal (MPF). Os autos da operação apontam que as vendas de ações ocorreram nos seis meses anteriores à divulgação do fato relevante sobre o rombo da Americanas "responsável por impactar significativamente" o preço das ações da varejista.
As operações atípicas chegaram a ser comunicadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).