Depois de quatro adiamentos, a Americanas voltou a publicar balanços, o que não fazia desde que estourou o escândalo contábil que apontava o "sumiço" de R$ 20 bilhões, em janeiro - o que, por sua vez, a fez entrar em recuperação judicial com dívidas de R$ 42,5 bilhões.
Nesta quinta-feira (16), enfim, foi publicado o balanço de 2022, e anunciados ajustes no de 2021. A empresa se declara "vítima de uma fraude sofisticada, baseada na manipulação dolosa de seus controles internos por parte de sua antiga gestão". Apontou prejuízo de R$ 12,9 bilhões em 2022, o dobro das perdas de R$ 6,2 bilhões em 2021. Os dados deste ano só serão apresentados em dezembro.
Durante a CPI realizada para tentar apurar o escândalo - que terminou, escandalosamente, sem qualquer conclusão -, o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, havia responsabilizado o trio bilionário de sócios majoritários da empresa, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que até janeiro eram os mais ricos do Brasil.
Em comunicado que acompanha os números, a atual gestão afirma que "tem centrado esforços na continuidade do negócio" e "ganhará mais fôlego a partir do aumento de capital de R$ 12 bilhões que será realizado pelos acionistas de referência (o trio de ainda bilionários) e capitalização (...) por parte dos credores também no valor de R$ 12 bilhões".
Apesar das cifras, pode falar dinheiro: conforme a nota, "o trabalho de revisão e correção dos registros contábeis anteriores apontou para um patrimônio líquido negativo de R$ 26,7 bilhões", ou seja, o valor do PL negativo é superior à soma dos aportes prometidos. Empresas com "PL virado", como se diz no mercado, estão virtualmente quebradas. Embora não seja exatamente uma surpresa, é a confirmação numérica das avaliações sobre a companhia.
A apresentação dos resultados ainda inclui a promessa de uma "nova Americanas", com "plano de negócios (...) focado na fortaleza e resiliência do canal físico e na "excelência operacional do digital", entre outros pontos. Aponta ainda a "renovação das lojas físicas" - que nos últimos anos se tornaram retrato da situação da empresa. A expectativa da empresa é realizar a reunião de credores para aprovação do plano de recuperação judicial ainda neste ano.
"Acreditamos que, com este plano, a Americanas estará pronta para renovar seu papel de relevância no varejo brasileiro. Não será fácil, não será simples, mas será feito", afirma Leonardo Coelho, CEO da Americanas, na nota.
Atualização: conforme o jornal Valor Econômico, o acordo com os credores para aprovação do plano de recuperação judicial está previsto para dentro de 15 dias;